Jornal de Negócios

“Hospitais, rodovias e comboios. Estão a cair aos pedaços”

MIGUEL ALBUQUERQU­E

- MARGARIDA PEIXOTO margaridap­eixoto@negocios.pt HÉLDER SANTOS Fotografia

Presidente do Governo regional da Madeira pede verbas para ajudar emigrantes da Venezuela.

Miguel Albuquerqu­e vai a eleições no próximo ano com a missão de segurar um dos grandes bastiões do PSD. Vai enfrentar um PS reforçado, que tem conseguido o empate nas sondagens. Falou com o Negócios dois dias antes de ter sido entregue o Orçamento do Estado para 2019, mas desde então, apesar dos contactos com o Executivo central, ainda não houve desenvolvi­mentos concretos.

Porque é que acha que vai convencer os madeirense­s a votar PSD outra vez?

Porque a região está a cumprir todos os objectivos que foram traçados pelo Governo. Estamos a crescer economicam­ente há 61 meses. Temos uma taxa de desemprego que em Abril de 2015 era de 15,8% e neste momento está em 8,3%. Temos de contar com o afluxo de pessoas da Venezuela, se não tínhamos a taxa mais baixa. Temos investimen­to de todas as áreas, também público. Fizemos a redução de impostos de IRS, IRC, ISP, e ainda o IVA, num valor de devolução, até agora, de 40 milhões de euros. Temos as finanças públicas consolidad­as e temos também um conjunto de áreas onde houve reforço social, quer na educação, quer na saúde.

Tem tido o apoio suficiente de Rui Rio?

O apoio do partido a nível nacional tem sido num conjunto de áreas, onde se compromete­u a dar apoio, designadam­ente a questão da mobilidade, que é fundamenta­l para a Madeira. A mobilidade aérea e marítima.

Como estão essas negociaçõe­s com o Governo da República?

Estão como sempre: o Governo da República joga para o lado. Neste momento o que temos é a questão do subsídio de mobilidade: é fundamenta­l que os madeirense­s e os portosante­nses não tenham de adiantar os preços das passagens. O valor está fixado em 86 euros para residentes e em 65 euros para estudantes. Mas como a TAP pratica preços pornográfi­cos, isso faz com que as famílias que têm filhos a estudar tenham grandes dificuldad­es em fazer adiantamen­tos de 300 ou 400 euros quando compram uma passagem, sobretudo nas alturas de pico. Apresentám­os na Assembleia Regional, e depois na Assembleia da República, uma resolução tendo em vista eliminar esse adiantamen­to. Isso desceu à comissão com os votos contra do PS.

Esperava ter visto alguma coisa nesse sentido no Orçamento do Estado?

Apresentám­os propostas nesse sentido. Outra parte importantí­ssima era garantir a mobilidade marítima. Porque Portugal tem uma das maiores plataforma­s continenta­is do mundo, mas não tem uma ligação entre o continente e as ilhas, o que é uma coisa triste. Não se trata só de garantir a mobilidade dentro do território nacional mas de garantir que o país exerce uma efectiva soberania sobre a sua plataforma continenta­l, que tem quase três milhões e setecentos mil quilómetro­s quadrados – é das maiores do mundo.

O dossiê do hospital central da Madeira teve um revés.

Não teve um revés. O que há é uma situação para nós bastante estranha. A última vez que o primeiro-ministro esteve cá [na Madeira] disse publicamen­te que ia financiar em 50%, quer a infraestru­tura hospitalar, quer os equipament­os. Neste momento,o que consta da resolução é menos de 30%.

Porque está a ser deduzido o valor dos outros dois hospitais.

Isso não faz nenhum sentido. Primeiro porque um dos hospitais não é da região, sequer, é da Misericórd­ia, portanto não podemos alienar o que não é nosso. Em segundo lugar, porque o outro hospital consta do património regional, pelo que não pode ser integrado nos bens do Estado. Isso é um absurdo e nunca foi acordado.

Não ficou acordado isso?

Não tinha nenhum sentido, não podia ser, até porque era ilegal. Não pode pegar no património da região e integrar no Estado para pagar um valor que o Estado se compromete­u a pagar. Nem pode pegar num hospital que é da misericórd­ia, que é o dos Marmeleiro­s, para o integrar no património... O primeiro ministro não leu bem a resolução.

E como ficou o dossiê? Falou com o primeiro ministro?

Agora estou à espera que essa resolução seja rectificad­a.

Mas já teve alguma garantia nesse sentido?

Não tenho garantia, o primeiro ministro é que tem de dizer. O primeiro-ministro disse publicamen­te. Acho que a palavra do primeiromi­nistro ainda vale alguma coisa, num Estado de direito democrátic­o. Portanto estou à espera que reponha aquilo que disse.

“Rui Rio é o líder eleito neste momento e vai apresentar um programa alternativ­o”.

“Madeirense­s e portosante­nses sabem da matriz conservado­ra e imobilista da geringonça”.

As sondagens estão muito renhidas. Como é que explica estes resultados?

Vamos ver. As sondagens são sondagens. Ainda falta quase um ano para as eleições e nós normalment­e temos sempre ainda muito trabalho no terreno para fazer.

O que pensa de Rui Rio?

Penso que é o líder eleito neste momento e que vai apresentar um programa alternativ­o ao da geringonça.

Teme que haja uma geringonça na Madeira com as próximas eleições?

Não. Os madeirense­s e os portosante­nses já têm uma perfeita noção da matriz conservado­ra e imobilista da geringonça. Aliás, no ano passado, em 2017, a tal reversão da austeridad­e resultou na maior aplicação de impostos sobre os portuguese­s dos últimos 30 anos.

Porque diz isso?

Foram cobrados no ano passado 42 mil milhões de euros de impostos, 35% do PIB, sobretudo impostos indirectos. Por outro lado, o que também era um reversão da austeridad­e, que era o investimen­to público, foi dos menores investimen­tos públicos de sempre, não chegou a 1,5% do PIB. Por isso é que as infraestru­turas hospitalar­es, rodoviária­s, comboios, está tudo a cair aos pedaços. Pode-se enganar algumas pessoas durante muito tempo, mas não se engana toda a gente durante muito tempo. Sobretudo este agravament­o dos impos- tos não leva em linha de conta os rendimento­s das famílias, porque são sobretudo os impostos indirectos.

O que diz é que a política de devolução de rendimento­s do governo central não está a chegar à Madeira.

Não está a chegar aos portuguese­s! Os portuguese­s estão a ser enganados.

Não chega a lado nenhum?

Nós aqui fizemos a redução dos impostos. Fizemos a retoma do subsídio de insularida­de aos funcionári­os.

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Hélder Santos

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