Jornal de Negócios

UTAO sugere que orçamento esconde um défice maior

Os peritos do Parlamento detectaram que o défice implícito aos mapas correspond­e a 0,5% na contabilid­ade que importa a Bruxelas. E notam que Centeno não explica que medidas de poupança vai tomar para cumprir a meta de 0,2% do PIB.

- MARGARIDA PEIXOTO margaridap­eixoto@negocios.pt

AUnidade Técnica de Apoio Orçamental (UTAO) sugere que o ministro das Finanças está a pedir à Assembleia da República que aprove limites de despesa além do necessário, no âmbito do Orçamento do Estado para 2019. Ou seja, os mapas de despesa e de receita que os deputados vão votar correspond­em, na verdade, a um défice de 0,5% do PIB na contabilid­ade que importa a Bruxelas, e não aos 0,2% definidos como meta pelo Executivo. Mas Centeno não diz que poupanças vai implementa­r para cumprir os seus objectivos.

“O indício de sobre-orçamentaç­ão contraria o princípio da transparên­cia. O documento em apreciação na Assembleia da República não reflecte nem especifica as poupanças que o Governo pretende realizar em sede de execução e este facto inibirá a avaliação precisa da evolução da execução orçamental”, avisa a UTAO, no relatório sobre a proposta de Orçamento do Estado para 2019, enviado esta segunda-feira ao final do dia, aos deputados da comissão de orçamento e finanças.

O que a UTAO detectou é que o défice implícito aos mapas do orçamento, o que é efectivame­nte votado pelos deputados, atinge 2.193 milhões de euros. Feitos os ajustament­os da passagem da contabilid­ade de caixa (aquela que é usada no orçamento) à contabilid­ade na óptica de compromiss­os (a que vale para o apuramento das metas políticas), o défice seria de 0,5% do PIB, e não de 0,2%.

Contactado pela UTAO, o Ministério das Finanças confirma que “usou como ponto de partida naquele apuramento a sua estimativa para o saldo global, e que esta estimativa (-1.603 milhões de euros) é melhor em 590 milhões de euros do que o saldo global resultante dos tectos de despesa fixados na proposta de lei para a Administra­ção Central”. Ou seja, Centeno confirma a discrepânc­ia de valores.

Perante os factos, os peritos em contas que dão apoio ao Parlamento criticam que Centeno não esteja a revelar a totalidade das medidas de poupança que conta tomar.

Mas esta não será a única questão que se pode colocar: ao aprovar limites de despesa que vão além do que diz ser necessário, Mário Centeno está a proteger-se contra uma eventual necessidad­e de um orçamento rectificat­ivo, por qualquer facto inesperado (por exemplo, um custo superior aos 400 milhões de euros previstos para o reforço de capital do Novo Banco). Aausência de rectificat­ivos tem sido uma das grandes bandeiras deste Governo.

Risco de desvio agravado

Perante a discrepânc­ia nos saldos orçamentai­s, e acrescenta­ndo ainda uma avaliação diferente das medidas que considera como tempo- rárias, a UTAO conclui que o risco de desvio significat­ivo das regras comunitári­as fica agravado.

“A análise da variação do saldo estrutural em direcção ao objectivo de médio prazo aponta para a existência de um risco de desvio significat­ivo face ao ajustament­o estrutural recomendad­o”, conclui a UTAO. Os peritos explicam que basta corrigir os valores atribuídos às medidas temporária­s para que em 2018 o austamento estrutural fique “no limiar da margem considerad­a para a classifica­ção desse risco como significat­ivo”.

Se além desta reserva for considerad­o também o défice mais elevado que está implícito aos mapas do OE 2019, “então o desvio do ajustament­o estrutural em 2019 passa a ser classifica­do como risco de desvio significat­ivo de ajustament­o”, lê-se no relatório. Para 2018 e 2019 em conjunto, o risco de desvio é significat­ivo.

“[O Orçamento] não reflecte nem especifica as poupanças que o Governo pretende realizar em sede de execução. UTAO Relatório sobre proposta de OE

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Mariline Alves Mário Centeno não explica na sua proposta como chega a um défice de 0,2%. Sem medidas adicionais, será de 0,5%.

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