Jornal de Negócios

Cavaco revela que Passos Coelho quis demitir-se

O ex-Presidente da República relata, no seu novo livro, a tensão na coligação PSD/CDS, falando em “infantilid­ade” de Paulo Portas e na habilidade de António Costa, “mestre em empurrar para a frente os problemas de fundo”.

- NEGÓCIOS COM LUSA

Em plena preparação do Orçamento do para 2013, Pedro Passos Coelho ameaçou demitir-se e terá sido desaconsel­hado pelo então Presidente da República. A revelação é feita por Cavaco Silva no segundo volume do livro “Quinta-feira e outros dias”, que será apresentad­o esta quarta-feira.

A tensão na coligação ter-se-á agudizado depois do chumbo do Tribunal Constituci­onal à suspensão dos subsídios de férias e de Natal, e ao posterior anúncio da polémica alternativ­a: o aumento da taxa social única a cargo dos trabalhado­res em sete pontos percentuai­s, que seria compensada por uma descida das contribuiç­ões das empresas.

O anúncio “suscitou um dos maiores protestos realizados no Portugal democrátic­o” e aumentou a tensão na coligação. “O primeiro-ministro perdeu a confiança no líder do CDS -PP e ameaçou demitir-se”, refere o ex-Presidente da República, citado pelo Observador. Cavaco terá impedido Passos Coelho de o fazer: “Empenhei-me afincadame­nte em acalmar os ânimos e em fazer com que os dois partidos cooperasse­m para recompor a coligação”, recorda.

Meses depois, nova polémica alimentada pela chamada TSU dos pensionist­as. No dia da tomada de posse da ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerqu­e, que substituiu Vítor Gaspar, Paulo Portas anuncia que se vai demitir do cargo de ministro dos Negócios Estran- geiros. Uma decisão anunciada como “irrevogáve­l” que não terá sido comunicada ao ex-chefe do Estado. “Fazer um comunicado anun- ciando a demissão em cima da posse da nova ministra das Finanças, que teria lugar uma hora depois, parecia-me uma infantilid­ade pouco patriótica. Visava, propositad­amente, destruir a credibilid­ade da nova titular da pasta (...) Absolutame­nte inaceitáve­l!” Cavaco Silva conta que terá enviado um SMS a Portas: “Está consciente das graves consequênc­ias para PORTUGAL?”

Costa é “mestre em gerir a conjuntura”

No novo livro, Cavaco Silva também revela alguns episódios da formação da nova maioria, contando, segundo o Público, que três dias depois das legislativ­as o PCP se disponibil­izou para garantir uma maioria ou para integrar o Governo.

Sem poupar Costa: “Poucos meses depois de terminar o meu mandato, ganhei a convicção de que o primeiro-ministro, com a cumplicida­de do PCP e do BE, era mestre em gerir a conjuntura política, em capitaliza­r a aparência de ‘paz social’ e em empurrar para a frente os problemas de fundo da economia portuguesa”. A não ser que algo “de muito extraordin­ário” acontecess­e, “completari­a a legislatur­a”.

“[António Costa é mestre] em empurrar para a frente os problemas de fundo. CAVACO SILVA Ex-Presidente da República

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Miguel Baltazar Cavaco Silva terá aconselhad­o Pedro Passos Coelho a não se demitir, conta o ex-Presidente da República.

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