O lugar geométrico
Quando se fala de bloco central, o que se designa é uma aliança ou uma associação de partidos que se localizam – pelos seus programas, pelas suas propostas ou pela vontade dos seus dirigentes – no lugar geométrico que é equidistante dos extremos no eixo esquerda-direita. Esta localização de partidos pode começar por ser uma escolha dos seus fundadores, mas a permanência nessa localização inicial será também função do que forem os movimentos dos outros partidos, no sentido em que cada partido é o que é mais o que os outros permitem que ele seja.
Todavia, há um outro bloco central no sistema político, que já não se refere aos partidos, mas é constituído pelos eleitores. O lugar geométrico do eleitorado é a área da sua maior concentração que, tal como acontece com as posições dos partidos, pode ter variações ao longo do tempo, mas revela uma efectiva estabilidade estrutural. Na história eleitoral desde 1975, este bloco central do eleitorado teve sempre uma concentração superior às concentrações do eleitorado de maioria de direita e de maioria de esquerda. Este bloco central do eleitorado não tem de ser o lugar geométrico do poder – ou seja, pode haver, e houve, configurações do poder que não correspondem a este bloco central do eleitorado. Mas mesmo quando não é o lugar geométrico do poder, este bloco central do eleitorado continua a ser o lugar geométrico da legitimidade: quem quiser governar sem respeitar este lugar geométrico da legitimidade pode invocar a sua legitimidade parlamentar, mas vai encontrar surpresas no exercício do poder.
E nas eleições europeias de 2019? Até agora, as eleições europeias eram eleições nacionais sob pretexto europeu, não se alteravam os lugares geométricos. Em Maio de 2019, pela primeira vez, as eleições europeias estarão referenciadas à existência e continuidade da União Europeia, já não serão eleições nacionais. Pela sua natureza, os partidos do nacional-populismo, de direita e de esquerda, rejeitam a União Europeia. Pela sua natureza, a União Europeia, nas suas instituições e nas suas condições de funcionamento, é incompatível com o nacional-populismo. Os lugares geométricos (dos partidos, do eleitorado, da legitimidade) para as eleições europeias serão outros.
“As soluções de tipo bloco central empobrecem a democracia. Isso é válido também para as europeias.”
PORFÍRIO SILVA PÚBLICO 6 DE OUTUBRO DE 2018