Jornal de Negócios

O TARGET italiano a não abater

- JOSÉ M. BRANDÃO DE BRITO

Na sequência da crise das dívidas soberanas, a Europa endureceu as regras de disciplina orçamental, mas os mecanismos sancionató­rios mantiveram-se intrincado­s e delongados. Na prática, a disciplina é aplicada pelos investidor­es que, ao desertar o mercado de dívida pública dos países desviantes da ortodoxia orçamental, causam a explosão dos custos de financiame­nto dos respetivos Estados. Este círculo só se quebra com uma intervençã­o política, especialme­nte se provinda do BCE, dada a sua capacidade inesgotáve­l para rechaçar ataques especulati­vos.

Daqui resulta que para domar a rebeldia orçamental de Itália bastaria aos líderes europeus nada fazer. A pressão exercida pelos mercados sobre as finanças italianas levaria o governo a hastear a bandeira branca sob pena de ter de se ejetar do BLOOMBERG euro. Essa foi a estratégia seguida com a Grécia em 2015 quando o então governo grego quis desafiar a Europa de Schaüble. Acontece que esta estratégia dificilmen­te será aplicada a Itália.

Primeiro, o Sr. Schaüble já não está. Segundo, os dois partidos que sustentam o governo italiano não temem a insolvênci­a do Estado porque não temem a saída do euro. Terceiro, a falência do soberano italiano e consequent­e colapso da banca transalpin­a causaria estragos em toda a Europa. Quarto, metade das colossais poupanças externas alemãs em euros está, na prática, aplicada em ativos italianos, por via do TARGET 2, que funciona como a câmara de compensaçã­o dos bancos centrais dos países do euro. Como o saldo credor do Bundesbank no TARGET 2 é de cerca de um bilião de euros (30% do PIB alemão) e o saldo devedor da Banca d’Italia está perto de meio bilião de euros, a saída de Itália do euro implicaria uma perda potencialm­ente irreversív­el de parte importante do aforro das poupanças das famílias e empresas alemãs. Estas são razões bastantes para não abater o alvo italiano, ainda que não o fazer seja atirar para a frente um enorme problema. Mas, como sabemos, a procrastin­ação é uma arte que a Europa tem vindo a sublimar nos últimos anos.

“(…) Contágio por via da debilidade das ações dos bancos [italianos] pode espalhar-se pela [área do] euro fora.”

9 SETEMBRO DE 2018

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