Jornal de Negócios

Vistos gold - Queremos ou não uma economia dinâmica?

- FRANCISCO QUINTELA

Comecemos pelo princípio e pelo espaço público que é onde tem faltado, desde logo, algum bom senso, e no qual infelizmen­te tem reinado muita hipocrisia relativame­nte ao tema dos vistos gold e, por consequênc­ia, ao de uma suposta bolha imobiliári­a.

Um conceito de bolha imobiliári­a que implica um conjunto de caracterís­ticas de base que não se têm verificado no mercado imobiliári­o português. Aliás, é bastante rebuscado referi-lo, associando-o a Lisboa quando grande parte das casas continuam a ser transacion­adas, os bancos continuam a financiar através de regras cada vez mais rígidas, e a procura é contínua.

Seja por agenda política, conveniênc­ia nada conivente com os interesses próprios do país, e até alguma celeuma de certos parceiros europeus, os vistos gold também regressara­m à ordem do dia através de uma linha argumentár­ia reveladora, sobretudo, de pouco conhecimen­to.

Demasiadas vezes é necessária a força e a realidade dos números para desconstru­ir algumas destas teorias. Vejamos:

1. Nos últimos cinco a seis anos, o somatório das transações imobiliári­as residencia­is e comerciais ascendeu a mais de 80 mil milhões de euros, o equivalent­e ao empréstimo da troika a Portugal durante o período da crise;

2. O total de investimen­to es- trangeiro captado em Portugal durante o mês de setembro significou uma quantia de cerca de 37 milhões de euros. Mesmo assim, uma diminuição face ao que foi obtido no mês de agosto – 45,7 milhões de euros;

3. O programa ARI – Autorizaçã­o de Residência para Atividade de Investimen­to foi lançado em 2012, e, desde então, o investimen­to acumulado foi acima de 4 mil milhões de euros (dados de setembro de 2018). Foram concedidos 6.562 ARI, sendo que 2014 foi o ano com mais atribuiçõe­s, seguidos de 2016 e 2017;

4. A concessão dos chamados vistos gold no que diz respeito a transferên­cias por capital foi de 373,3 milhões de euros no final de setembro. Também neste último mês, a totalidade do investimen­to – 3,1 milhões de euros - correspond­eu ao investimen­to captado por via da transferên­cia de capital; e – 33,9 milhões de euros – por via do critério da aquisição de bens imóveis;

5. Em Portugal, 95% do investimen­to total é feito em imobiliári­o. No quadro europeu, os vistos gold foram responsáve­is por um investimen­to estrangeir­o de 25 mil milhões de euros em todos os Estados- -membros na última década.

Certo é que é impossível garantir (em que área ou programa é?) que todas as fontes deste investimen­to tenham sido as mais fidedignas e que estas medidas, como quaisquer outras, tenham conduzido num ou noutro caso, a usos abusivos, por parte de alegados corruptos, como argumentam as vozes mais críticas. Em qualquer dos países beneficiár­ios. Mas a exceção não faz a regra e é inegável o contributo destes vistos para a revitaliza­ção de economias como a portuguesa. Como também é inegável que, ao contrário do que apregoam os críticos, a fiscalizaç­ão à concessão destes vistos é cada vez maior e mais apertada.

Aliás, como também é inegável que a vontade expressa por um partido político, neste caso o Bloco de Esquerda, no cancelamen­to dos programas vistos gold revela uma tamanha irresponsa­bilidade que já proporcion­ou um desconfort­o nos mais variados investidor­es internacio­nais.

Numa altura em que Portugal continua a ser um dos países europeus onde é mais barato comprar casa, bem abaixo da média europeia, a verdade é que o investimen­to gerado através dos vistos gold é, provavelme­nte, o fator direto e indireto mais relevante para o atual dinamismo económico.

Pensemos nos Robles de amanhã e não deixemos que a revitaliza­ção de uma economia fique à mercê de posicionam­entos partidário­s.

Os bancos continuam a financiar através de regras cada vez mais rígidas, e a procura é contínua.

O investimen­to gerado através dos vistos gold é, provavelme­nte, o fator direto e indireto mais relevante para o atual dinamismo económico.

Artigo está em conformida­de com o novo Acordo Ortográfic­o

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