Jornal de Negócios

PSD junta-se à Esquerda para travar lei das rendas

Medidas fiscais para a habitação não recolhem apoio do PSD, Bloco e PCP. Se votações avançarem, podem acabar em chumbo.

- FILOMENA LANÇA

O novo regime de renda acessível e a redução de impostos para contratos de arrendamen­to acima dos cinco anos estão em risco de morrer na praia devido à falta de entendimen­to no Parlamento. O Governo e o PS, autores das propostas, não conseguira­m convencer o PCP e foram também incapazes de juntar apoios à direita, entre o PSD e o CDS. A votação do pacote, agendada para esta terça-feira está, para já, condenada a um não.

“O PSD tem as suas próprias propostas em matéria de arrendamen­to urbano e não há qualquer abertura para um voto favorável” às dos socialista­s, declarou ao Negócios o deputado laranja António CostaSilva. E, desta vez, sublinhou, não haverá margem sequer para umaabstenç­ão. O voto será contra, porque a proposta sobre arrendamen­to acessível “é como o Melhoral, não faz bem nem mal” e quanto à que prevê umaredução de IRS para os senhorios que aceitem fazer contratos mais longos também contraria a posição social-democrata, que defende descidas de imposto mais rápidas.

Do lado do CDS, a posição é idêntica: “Alei de 2012 foi um marco e, quando muito, precisa de ser aperfeiçoa­da”, mas “as propostas do PS, PCP e Bloco só vão destruir o que foi feito, por isso é claro que votaremos contra”, afirma o deputado Álvaro Castelo Branco.

Contas feitas, restaria aos socialista­s contar com o apoio à esquerda, mas, esse, há muito que está comprometi­do. Aliás, o PCP foi o primeiro a dizer que votaria contra porque se recusa asubsidiar os proprietár­ios pela via fiscal. “Consideram­os que as políticas de habitação não se resumem a questões de natureza fiscal” e “se o objectivo é garantir o direito à habitação e evitar os despejos, então o PS tinha votado favoravelm­ente aproposta do PCP de revogação da lei dos despejos”, afirmou ao Negó- cios a deputada comunista Paula Santos há uma semana, quando começaram as votações indiciária­s.

Sobre a mesa está um conjunto de quase 30 projectos e propostas de lei. Entre eles, três propostas do Governo que alteram a lei das rendas e código civil; criam o regime de arrendamen­to acessível (que dará isenção de IRS e redução de IMI aos senhorios que a ele adiram); e criam taxas de IRS mais baixas para contratos mais longos.

O Bloco tem sido também bastante crítico da proposta para o arrendamen­to acessível, mas na discussão na especialid­ade deu sinal de que poderia ser possível chegar a bom porto numa negociação. Neste momento, segundo o deputado Pedro Soares, o partido“mantém dúvidas sobre a eficácia da proposta relativa às rendas acessíveis ”.

Novo adiamento sobre a mesa

Confrontad­o desde o início com a posição inflexível do PCP, o PS concentrou esforços à direita e, na semana passada, o deputado socialista João Torres afirmou ao Negócios que o momento era de “apelo à convergênc­ia”, mas, ao que tudo indica, o apelo terá caído em saco roto.

Em entrevista ao jornal Público, no passado sábado, o ministro do Ambiente, que tutela a habitação, mantinha ainda o tom optimista, nomeadamen­te sobre o novo regime do arrendamen­to acessível. “Não vejo nenhuma razão para que chumbe. Acho que há uma consciênci­a tão clara que os problemas de habitação já não são só os problemas de famílias carenciada­s”, afirmava João Pedro Matos Fernandes.

Face aos resultados que se antecipam, ao final datarde de ontem, fontes parlamenta­res adiantaram ao Negócios que havia a possibilid­ade de a votação agendada para esta terça-feira ser adiada. No entanto, e umavez que tem havido vários requerimen­tos potestativ­os nesse sentido, há quem defenda que, desta vez, será necessária uma unanimidad­e para ser possível novo adiamento. E, a ser assim, a esquerda poderia não estar inclinada nesse sentido, já que tem defendido que o processo de aprovação das alterações às rendas é urgente e deve ser concluído o mais rapidament­e possível.

O PSD tem as suas próprias propostas em matéria de arrendamen­to urbano e não há qualquer abertura para um voto favorável [às propostas do PS e do Governo]. ANTÓNIO COSTA SILVA Deputado do PSD

As propostas do PS, PCP e Bloco só vão destruir o que foi feito, por isso é claro que votaremos contra. ÁLVARO CASTELO BRANCO Deputado do CDS

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