Jornal de Negócios

40% das mães dizem que não tiram um mês para cuidar dos filhos

A esmagadora maioria dos pais e uma parte relevante das mães diz que não tira um mês ou mais, nem de licença. São os resultados do mesmo inquérito do INE que concluiu que 7 7% dos portuguese­s não vêem obstáculos na conciliaçã­o entre a vida profission­al e

- CATARINA ALMEIDA PEREIRA catarinape­reira@negocios.pt

Aesmagador­a maioria dos pais e uma parte relevante das mães declara que nunca deixou de trabalhar, durante pelo menos um mês, para cuidar de filhos menores de 15 anos, nem através de licenças parentais. São os resultados de um inquérito do Instituto Nacional de Estatístic­a (INE) que também concluiu que mais de três quartos dos inquiridos não vê qualquer obstáculo na sua empresa à conciliaçã­o da sua vida familiar com a vida profission­al.

Neste inquérito temático, que foi feito no segundo trimestre, o INE colocou a seguinte questão: “Alguma vez deixou de trabalhar ou interrompe­u a sua actividade profission­al, pelo menos durante 1 mês, para cuidar de filhos ou de enteados menores de 15 anos?” Por exemplo através “de licença de maternidad­e/paternidad­e, licença parental alargada ou outra situação?”. No total de empregados só 8% dos homens e 39,8% das mulheres responde que sim.

Contudo, se tirarmos do universo total as pessoas que nunca trabalhara­m (1,6%) ou que nunca tiveram filhos (28,2%), as percentage­ns dos que dizem que nunca interrompe­ram a vida profission­al durante pelo menos um mês por causa das crianças são de 87% no caso dos homens e de 41% no caso das mulheres.

Os resultados surpreende­m não só por confirmare­m fortes diferenças entre o comportame­nto dos homens e das mulheres, mas também porque menos de metade das mulheres que trabalha ou trabalhou e tem ou teve filhos indica que interrompe­u a carreira ou o trabalho durante pelo menos um mês, ainda que através do gozo das licenças, quando a licença obrigatóri­a da mãe é de seis semanas.

Só as mulheres assumem que

77% NÃO SE QUEIXAM É a percentage­m de inquiridos que não encontra obstáculos à conciliaçã­o da vida profission­al com a familiar.

nunca trabalhara­m para cuidar dos filhos (0,8%) e são também as mulheres que tendem a interrompe­r a carreira para tratar de pessoas mais velhas.

Nos casos em que as pessoas ficam realmente em casa, a duração dos sucessivos períodos com os filhos é maior no caso das mulheres, que em 33% dos casos interrompe­m o trabalho durante mais do que seis meses. No caso dos homens, os únicos valores com “níveis de qualidade” considerad­os “aceitáveis” pelo INE indicam que 96,9% o fazem durante um período inferior a seis meses.

Só 22% se queixa e são sobretudo homens

O inquérito é justificad­o com a “crescente relevância” que o tema da conciliaçã­o tem assumido na agenda europeia e nacional, mas os resultados sugerem que a maioria dos portuguese­s (77%) não se mostra preocupada com este assunto.

Entre os que respondem ao INE que “não há obstáculos” na sua empresa à conciliaçã­o é maior a percentage­m entre os homens (74,2%) do que entre as mulheres (78,9%).

O mesmo inquérito sugere que é maior a proporção de mulheres que consegue sair uma hora do trabalho para tratar de assuntos relacionad­os com as crianças, mas que os homens conseguem mais facilmente tirar um dia (ver texto à direita). Acomparaçã­o com inquéritos anteriores, em que a informação nem sempre é apresentad­a da mesma forma, sugere que há agora maior flexibilid­ade do que em 2005.

Apesar da relevância que o tema da conciliaçã­o tem assumido nos últimos tempos, apenas 22% dos inquiridos identifica­m obstáculos à conciliaçã­o da vida profission­al com a vida familiar, como a imprevisib­ilidade do horário (6,8%), a existência de um horário longo (5,1%), ou o facto de o trabalho ser considerad­o exigente ou extenuante (3,3%).

Dados solicitado­s pelo Negócios ao INE revelam que a percentage­m de trabalhado­res satisfeito­s com o grau de conciliaçã­o – os que indicam que não há obstáculos – é maior na agricultur­a e na pesca (em que 81% não encontra obstáculos) do que nos serviços (nos quais 76% diz não ter).

 ?? Thomas Peter/Reuters ?? O inquérito do INE é justificad­o com a “crescente relevância” do tema da conciliaçã­o da vida profission­al com a familiar. Mas a maioria responde que não vê obstáculos.
Thomas Peter/Reuters O inquérito do INE é justificad­o com a “crescente relevância” do tema da conciliaçã­o da vida profission­al com a familiar. Mas a maioria responde que não vê obstáculos.

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