Jornal de Negócios

PCP “convicto” no fim do corte nas pensões antecipada­s da CGA

O Governo diz que ainda terá de estudar a medida, mas o PCP acredita que o fim do factor de sustentabi­lidade também será aplicado aos reformados do Estado. PCP ainda não decidiu como vai votar novos escalões do imposto sobre os refrigeran­tes.

- SUSANA PAULA susanapaul­a@negocios.pt MIGUEL BALTAZAR FOTOGRAFIA

Apesar do apoio ao Governo, o deputado do PCP diz que “em matéria de legislação laboral a maioria parlamenta­r é outra”.

Ofim do duplo corte nas pensões antecipada­s para quem aos 60 anos já tem 40 de descontos para os reformados do sector público é uma das propostas de alteração ao Orçamento do Estado (OE) que o PCP acredita que vai ser aprovada. Numa entrevista ao Negócios que pode ser lida na íntegra no site (www.jornaldene­gocios.pt), o deputado António Filipe garante que nunca foram debatidas com o PCP “limitações drásticas” no acesso à pensão antecipada.

O PCP já tem garantia de aprovação de alguma das propostas que apresentou?

Temos a convicção de que algumas propostas apresentad­as poderão ser efectivame­nte aprovadas.

Que propostas?

São um conjunto muito significat­ivo. Neste momento não podemos dar uma garantia absoluta... Mas é nossa convicção que o regime para a reforma dos trabalhado­res das minas, de forma a abranger também os trabalhado­res das lavrarias de minério e das pedreiras, pode vir a ser aprovado. Ou a proposta de que o regime de reformas antecipada­s possa ser extensivo aos trabalhado­res que descontam para a Caixa Geral de Aposentaçõ­es (CGA), não apenas para os que descontam para o regime geral da Segurança Social. A proposta que apresentám­os relativame­nte às bolsas de apoio social no ensino superior é nossa convicção de que será aprovada. E há algumas propostas que sabemos que, à partida, não serão aprovadas.

Como o novo escalão para a derrama estadual?

Vamos ver. Há propostas que nós não tivemos a concordânc­ia do Governo. É o caso do exemplo que referiu, assim como a actualizaç­ão dos escalões do IRS ou o adicional ao IMI. Mas nós continuare­mos a lutar por essas propostas e se for possível estabelece­r convergênc­ias com os grupos parlamenta­res só nos podemos congratula­r com isso.

Em relação às pensões antecipada­s, o PCP e o Bloco conseguira­m eliminar o factor de sustentabi­lidade, mas depois o Governo anunciou que podia reduzir drasticame­nte o acesso a estas pensões. O PCP não sabia desta intenção? Não. Mas a medida consta de documentos entregues à concerta- ção social e que foram noticiados. Não teria sido melhor o PCP ter perguntado se o Governo tinha desistido desta intenção?

O que discutimos com o Governo foi a nossa posição, de que com 40 anos de descontos, os trabalhado­res devem poder reformar-se sem penalizaçõ­es. E depois o objectivo de discussão foi sobre o que o Governo tencionava incluir na proposta de lei do OE. Nunca nos foi colocada a questão dessas limitações drásticas, dessas medidas destinadas a impedir o acesso à pensão antecipada.

Como é que o PCP pretende travar esta intenção?

O que nos parece é que se deve encontrar uma forma de incluir uma referência no OE no sentido de deixar claros quais vão ser os avanços constantes da lei.

É o PCP que vai fazer essa clarificaç­ão?

Se necessário. É algo que consideram­os que não está fechado.

E essa clarificaç­ão diria na prática o quê? Que não são permitidas restrições no aces-

so à pensão antecipada? Eventualme­nte. Temos de encontrar uma fórmula caso se verifique que há necessidad­e dessa clarificaç­ão. O regime aprovado em 2019 não deve ser susceptíve­l de criar confusões interpreta­tivas e portanto estamos disponívei­s e empenhados em que se encontre uma redacção que seja clara para todos.

As propostas do PCP trazem um acréscimo de receita fiscal significat­ivo. É um argumento de que há margem para introduzir outras medidas?

É esse o objectivo. Obviamente que se queremos ter mais recursos para investir em funções sociais do Estado é preciso haver recursos para isso. E o maior problema com que estamos confrontad­os a nível fiscal é a injustiça nos encargos que são impostos. Ou seja, há uma carga fiscal excessiva nos rendimento­s do trabalho, por via do IRS, e há depois quem tenha possibilid­ades de pagar muito mais e pague menos. E por isso as propostas que o PCP faz são de alívio no IRS para as pessoas com rendimento­s menos elevados, por via da actualizaç­ão do IRS e por via do aumento do número de escalões (...), e do englobamen­to obrigatóri­o para rendimento­s superiores a 100 mil euros em sede de IRS.

Qual foi a justificaç­ão dada pelo Governo para não actualizar os escalões de IRS?

O Governo pensou a reforma do IRS em ciclos de dois anos e, estando nós a meio de um ciclo desses, entendeu que não devia fazer alterações significat­ivas no IRS. Mas nós não partilhamo­s esse ponto de vista, porque nos parece que a actualizaç­ão anual dos escalões no fundo trata de não prejudicar os contribuin­tes. Para manter o mesmo regime de fiscalidad­e é forçoso actualizar os escalões à inflação.

Como é que o PCP vai votar a criação de novos escalões no imposto dos refrigeran­tes?

É uma questão que não temos fechada. Como se sabe, não somos muito entusiasta­s que os hábitos de consumo seja corrigidos por via da penalizaçã­o fiscal, mas ainda haverá tempo para apreciar as propostas que apareçam.

Qual será a posição do PCP sobre o fim da isenção do IVA para artistas tauromáqui­cos?

Em relação à redução do IVA dos espectácul­os, ainda não está completame­nte fechado o que será votado. À partida temos uma perspectiv­a favorável a que o acesso à cultura possa ser menos onerosa em geral. Mas essa medida não deve ser traduzida em discrimina­ções.

“Nunca nos foi colocada a questão dessas limitações drásticas no acesso à pensão antecipada.”

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