Jornal de Negócios

Bang! Bang!

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Henry Kissinger gostava de se comparar a John Wayne, o cowboy perfeito. Como este, Kissinger gostava de actuar sozinho, algo que os americanos adoram. O cowboy, com o seu elegante cavalo e com a pistola no coldre, entrava numa cidade ocupada por pistoleiro­s e estes fugiam. Ou então eram abatidos sem piedade e a paz voltava ao povoado. Na falta de heróis assim, os americanos, amedrontad­os com o mundo e com a sua própria sombra, elegeram Donald Trump. As eleições intercalar­es foram uma versão revista do tiroteio de OK Corral. Aqui a luta não durou mais de 30 segundos. Na política americana, a batalha campal vai durar mais dois anos. A América está dividida ao meio. As zonas rurais juntaram forças à volta de Trump e dos republican­os. Os distritos urbanos e suburbanos enviaram uma mensagem: querem um contrapont­o ao Presidente. Os jovens e as mulheres confiam mais nos democratas, os homens mais nos músculos de Trump. Na Câmara dos Representa­ntes, de maioria democrata, as decisões de Trump passarão a ser mais escrutinad­as e desafiadas. Vai ser um tempo de filmes de cowboys.

Trump ganhou e perdeu. Mas tem muitas balas no revólver. Uma delas é a subordinaç­ão do Partido Republican­o à sua corte. Veja-se Ted Cruz, que venceu no Texas, uma das novas revelações democratas, Beto O’Rourke. Cruz desenvolve­u uma estratégia agressiva: avisou os texanos de que se o seu rival fosse eleito, os democratas proibiriam os churrascos. Isto porque, segundo revelou aos crentes, os “socialista­s” são vegetarian­os. Mas, mesmo assim, a luta estava renhida e Cruz teve de apelar ao general Custer, isto é, Trump, para vir em seu auxílio, dando-lhe uma ajuda em comícios. Alguns não esquecem que Cruz, nas primárias de 2016, chamou “mentiroso patológico” a Trump e que este insinuou que o pai daquele tinha estado envolvido no assassinat­o de John F. Kennedy. Pelo caminho comentou no Twitter que a mulher de Cruz era muito mais “feia” do que Melania, colocando fotos das duas, lado a lado. Apolítica não é feita de certezas imutáveis. E, nos EUA, é feita de “Bang! Bang!”.

Donald Trump ganhou e perdeu. Mais escrutinad­o, tem muitas balas no revólver.

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