O “generation gap” do populismo
Tony Blair repetiu ontem no Web Summit, perante forte aplauso, que tudo fará para evitar o Brexit porque crê que ainda é possível impedi-lo. Das várias razões apontadas para que não aconteça, há uma que sobressai pela sua relevância. Uma sondagem publicada na terça-feira pela Survation, com base em 20.090 entrevistas, indica que 54% dos britânicos querem agora permanecer na UE, contra 48% no referendo realizado em Junho de 2016. Há agora oito pontos percentuais a separar o “remain” do “leave”, o que já justifica que se questione a legitimidade do processo e se coloque de novo a questão em referendo, até porque agora a população está muito mais informada sobre o tema.
A sondagem diz-nos também que os britânicos com idades entre os 18 e os 44 anos querem, de forma muito expressiva, ficar na UE. Já foi assim no referendo, mas agora é avassalador, com 77% a 66% dos inquiridos a preferir o “remain”. Até na faixa entre os 45 e os 54 anos passou a existir uma igualdade, quando há dois anos e quatro meses o “leave” teve 55%. Este ainda ganha a partir dos 55 anos.
A população mais idosa é sempre tendencialmente mais conservadora, mas é inegável que o governo britânico está a negociar um processo com grande impacto no futuro do Reino Unido que as gerações que terão de nele viver claramente não desejam. Faz sentido condená-los a essa realidade? É um motivo de enorme relevância para justificar um novo referendo.
Não é só no Reino Unido que a população jovem é mais pró-europeia. Os que nasceram depois da UE aprenderam a viver num espaço de livre circulação, a partilhar a mesma moeda, muitos estudaram e trabalham noutros países e não partilham do eurocepticismo e divisionismo apregoados pelos populismos de direita emergentes
O último Eurobarómetro, divulgado em Maio, mostra que é na faixa entre os 15 e os 24 anos que a pertença à UE é mais valorizada, com 67% a darem resposta positiva. Até aos 54 anos o resultado fica sempre acima dos 60% e desce a partir daí.
As eleições intercalares nos Estados Unidos ficaram marcadas por um forte aumento da participação das mulheres, mas sobretudo dos jovens, a maioria animados por uma rejeição não do Partido Republicano, mas de Donald Trump e do seu radicalismo.
Há uma geração a conduzir os seus países numa direcção com que as novas não concordam, nem desejam. Isso dá-nos esperança de que os preocupantes fenómenos políticos a que se assistem deste e do outro lado do Atlântico Norte têm os dias contados e só existem devido a um “generation gap”. Até lá, é esperar que os actuais líderes não estraguem demasiado.