Em dois anos, Trump consolidou o maior “rally” de sempre mas não só
Donald Trump tem chamado para si os louros do desempenho positivo do mercado accionista norte-americano. E contribuiu para tal, nomeadamente com a reforma fiscal, mas o seu impacto nos mercados vai além disso.
Foi Barack Obama que, em Março de 2009, apelou à compra de acções, depois da grave crise de 2008. E foi aí que teve início o “bull market” das acções norte-americanas, que dura desde então. Mas foi no mandato de Donald Trump, eleito há dois anos, que esse mercado touro se consolidou como o mais longo de sempre. A reforma fiscal deu um contributo importante para esses ganhos. Mas o impacto do Presidente americano nos mercados está longe de se resumir ao desempenho dos índices accionistas.
Nunca, nos últimos 64 anos, o S&P500 subiu tanto entre as eleições presidenciais e as intercalares. Entre as eleições ganhas por Trump, em Novembro de 2016, e as eleições para o Congresso desta terça-feira, o índice de referência americano avançou 28%. Apesar da recente correcção nas acções, nos últimos dois anos, Wall Street bateu recordes sucessivos. E houve vários episódios que revelaram a influência de Trump nos mercados, como quando em De- zembro de 2016 usou o Twitter para atacar as gigantes da aeronáutica e as aeroespaciais.
A reforma fiscal foi uma das bandeiras destes primeiros dois anos de Trump à frente dos destinos da maior economia do mundo. E teve como consequência um forte impulso nos resultados das empresas. Segundo as estimativas citadas pela agência Reuters, os lucros por acção das cotadas do S&P500 deverão aumentar 24% em média, este ano, naquele que é o maior crescimento dos últimos oito anos.
Ainda assim, apesar das perspectivas favoráveis para as contas das empresas, os últimos meses têm sido marcados por mais instabilidade. Isto num período em que os investidores têm revelado receios em torno do ritmo de subida dos juros por parte da Reserva Federal (algo que tem merecido fortes críticas de Trump) e da tensão comercial com a China (iniciada também por Trump).
São vários os temas na agenda dos investidores, nos próximos meses, e a volatilidade que regressou este ano pode não desaparecer tão depressa. “Se a primeira metade da sua presidência andou toda à volta de mais desregulação e dos estímulos fiscais, impulsionando os mercados norte-americanos, a segunda metade será dominada pelos efeitos das tarifas impostas por Trump à China, pelas sanções ao Irão e pela contenção do prejuízo político, pois os democratas recuperaram o controlo da Câmara dos Representantes, bem como pelas investigações em torno do Presidente”, afirmou Lena Komileva, especialista da G+ Economics, ao Financial Times.
“Há um consenso de que as acções podem disparar agora que a incerteza das eleições intercalares ficou para trás”, frisou Nicholas Colas. Mas, defendeu o co-fundador da DataTrek, “os mercados devem agora voltar-se novamente para os mesmos assuntos que causaram a volatilidade de Outubro: juros mais altos, resultados já no pico e tarifas”.