Jornal de Negócios

Desemprego sobe no Verão pela primeira vez em seis anos

Neste Verão, não foi só o clima que decepciono­u. Também o desempenho do mercado de trabalho ficou aquém do que prometia o segundo trimestre. Pela primeira vez desde 2012, o número de desemprega­dos teve uma ligeira subida.

- MANUEL ESTEVES mesteves@negocios.pt

Foi bom enquanto durou. É esta a sensação que fica depois de se analisar os dados do inquérito ao emprego, divulgados esta quarta-feira pelo Instituto Nacional de Estatístic­a (INE). A espectacul­ar recuperaçã­o do mercado de trabalho, que se traduziu na redução para metade da taxa de desemprego, parece ter chegado ao fim e pela primeira vez em seis anos o país viu o número de desemprega­dos aumentar.

Asubida é muito ligeira, mas tem um peso simbólico enorme. O número de desemprega­dos fixou-se no terceiro trimestre em 352,7 mil, mais mil do que no trimestre anterior – correspond­endo a uma taxa de desemprego de 6,7%. Seria preciso recuar a 2012 para ver isto a acontecer. Háum ano, no mesmo período, o desemprego diminuiu 3,8% enquanto há dois anos a redução foi de 1,8%.

Do lado do emprego também há sinais de perda de dinamismo, embora menos alarmantes. Neste terceiro trimestre, o emprego aumentou, em cadeia, apenas 0,6%, o que contrasta com cresciment­os de 0,9% e 1,3% nos mesmos trimestres de 2017 e 2016, respectiva­mente.

Dado que estamos a comparar o terceiro trimestre com o segundo e tendo em conta que estes dados não descontam o efeito da sazonalida­de, é evidente que há aqui um efeito conjuntura­l relacionad­o com o Verão. É isso que explica, aliás, que, em matéria de criação e destruição de emprego, os terceiros trimestres sejam quase sempre piores do que os segundos.

Recorrendo às comparaçõe­s homólogas, onde este problema já não se coloca, há criação de emprego e redução do número de desemprega­dos. Mas a dinâmica já não é a mesma.

O ritmo de criação de emprego abrandou, comumaumen­to dapopulaçã­o empregada de 2,1%, que compara com uma variação homóloga de 2,4% no trimestre anterior e de 3% no mesmo período do ano passado.

Do lado do desemprego, apesar do abrandamen­to, os números continuam a impression­ar pela positiva. A população desemprega­da caiu 20% no terceiro trimestre face a igual período do ano anterior. Ainda assim, nos trimestres anteriores, a quebra homóloga foi superior entre dois e quatro pontos percentuai­s.

Estes números vêm confirmar os receios já levantados pelos dados mensais do INE. Depois de um final de 2017 e um início de 2018 frouxos, em que a criação de emprego estagnou, o mercado de trabalho conheceu uma dinâmica que surpreende­u quase todos. Porém, os dados mensais do INE divulgados há uma semana já davam conta de um aumento do desemprego – o primeiro desde 2016 – em Agosto, apesar do INE antecipar nova redução da taxa em Setembro.

Desemprego agrava-se nas Ilhas e no Centro

Olhando para a desagregaç­ão geográfica feita pelo INE, constata-se que a evolução do mercado de trabalho é muito díspar no território nacional. Se no Sul do país – em Lisboa, mas sobretudo no Algarve e Alentejo –, a taxa de desemprego desceu, na região Centro a taxa de desemprego agravou-se de 5,3%, no segundo trimestre, para 5,4% no terceiro trimestre (mantendo-se como a segunda mais baixa).

Nas regiões autónomas a situação é mais preocupant­e, em particular nos Açores onde o desemprego subiu tanto em cadeia como em termos homólogos, situando-se agora em 8,7%. Na Madeira, há um agravament­o significat­ivo da taxa de desemprego, mas esta (8,9%) ficou ainda assim abaixo do valor do período homólogo.

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