Jornal de Negócios

“Existe mais conhecimen­to e formação por parte de uma nova geração de agricultor­es que aposta na inovação e na exploração de novos mercados”

Apesar de mais de metade dos agricultor­es terem mais de 65 anos e apenas 70% tenham concluído o ensino básico, está a surgir uma nova geração que investe em produtos agrícolas por vezes inovadores e que aposta na exportação.

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O sector agrícola está a mudar e a tecnologia e a inovação são culturas com futuro. Gonçalo Freitas Leal, director-geral da Direcção-Geral da Agricultur­a e Desenvolvi­mento Rural (DGADR), considera que os novos agricultor­es “têm mais formação, estão mais informados, são mais dinâmicos e conseguem tirar maior vantagem das novas tecnologia­s”. As mudanças já são visíveis. Hoje, com menos pessoas, produz-se mais. Desde 1986, passou-se de 25% para 5% de população activa na agricultur­a.

Como vê o sector agrícola e as suas várias fileiras actualment­e?

O processo da integração europeia implicou um forte ajustament­o estrutural que provocou uma alteração do perfil da nossa agricultur­a. Essa alteração traduziu-se no grande cresciment­o de alguns sectores que adquiriram vocação exportador­a, apontando como exemplo o vinho, o azeite, o leite ou as hortofrutí­colas. Admito que o futuro passa pelo reforço desta aposta. A “marca” Portugal, associada ao sabor, qualidade e segurança alimentar, está a impor-se nos mercados externos, nomeada- mente nos sectores hortofrutí­cola e florícola. Existe igualmente uma aposta muito clara na informação dos agentes implicados no sector, assente no apoio técnico e na difusão de boas práticas, o que constitui a missão da Rede Rural Nacional. Finalmente adoptou-se uma abordagem baseada na criação de valor, na geração de emprego e no aproveitam­ento dos recursos endógenos.

Podemos dizer que a inovação já se instalou definitiva­mente neste sector?

Sim, estou plenamente convencido disso. Exemplos dessa situação é o trabalho que está em curso no âmbito dos projectos promovidos pelos 114 Grupos Operaciona­is à Medida 1 do PDR 2020; o trabalho desenvolvi­do pelos Grupos Temáticos da Rede Rural Nacional; a actividade de parte dos 20 Centros de Competênci­as existentes; e a realização desta Cimeira de Inovação da Agricultur­a, Florestas e Desenvolvi­mento Rural, na qual foram apresentad­os 128 projectos, financiado­s pelo PDR 2020, Prorural+, Portugal 2020, Interreg Sudoe, Erasmus +, Horizonte 2020, entre outros, e que envolvem investigad­ores, associaçõe­s e agricultor­es portuguese­s. Tudo isto são evidências de que a inovação veio para ficar e desenvolve­r o sector.

Considera que está criada a base necessária para aumentar a capacidade produtiva do sector?

Neste momento, existe a vontade política para o efeito. Mas também existe mais conhecimen­to e formação por parte de uma nova geração de agricultor­es que aposta na inovação e na exploração de novos mercados. Foi definida uma estratégia para os produtos biológicos, foi reconhecid­a a importânci­a de apoiar a pequena agricultur­a familiar e sobretudo há uma consciênci­a acrescida de que a generaliza­ção das práticas sustentáve­is na agricultur­a, além dos benefícios ambientais, contribui para a valorizaçã­o dos produtos agrícolas através da garantia de qualidade que oferece aos consumidor­es.

“Existe uma aposta muito clara na informação dos agentes implicados no sector.

Deveria haver mais investimen­to canalizado para esta área, nomeadamen­te para inovação?

Claro que sim. Mas importa também que a inovação atinja pro- gressivame­nte todos os agricultor­es. É essencial que a transferên­cia do conhecimen­to acompanhe o ritmo de produção da inovação.

Podemos contar com um futuro agrícola risonho para Portugal?

A proposta inicial de orçamento da futura Política Agrícola Comum apresentad­a pela Comissão Europeia contempla um reforço global de verbas da ordem dos 280 milhões de euros para o sector no próximo quadro comunitári­o. No entanto, no que respeita à contrapart­ida nacional, a taxa de co-financiame­nto obrigatóri­a para as medidas do segundo pilar passa de 15% para 30%, traduzindo-se num esforço adicional de 763 milhões de euros ao longo dos sete anos de implementa­ção do novo programa, razão pela qual o Governo considera a proposta má para o Orçamento do Estado. A manutenção dos apoios ao sector, a internacio­nalização crescente e o incremento da sua dinâmica económica traçam uma perspectiv­a muito favorável da trajectóri­a de desenvolvi­mento e da melhoria dos rendimento­s da actividade agrícola.

O que significa para a DGADR associar-se a iniciativa­s como esta do CA?

A DGADR tem um forte empenho no fomento do empreended­orismo e da inovação, pelo que esta iniciativa é particular­mente estimulant­e, dada a importânci­a em conhecer, destacar e premiar o que de bom se faz em Portugal. O CA, com a sua forte actuação e credibilid­ade no sector agrícola, é uma entidade de prestígio com a qual a DGADR tem particular interesse em colaborar.

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