Economia social e futuro
AFundação Montepio associou-se à iniciativa de criar um núcleo da Ashoka em Portugal, reconhecendo a importância desta organização internacional promotora da inovação social e transformadora da economia social pelo mundo.
Em Portugal temos apenas, neste momento, dois “Felow Ashoka”, promotores, dos projetos Colorad e AcademiaUbuntu, mas mais três personalidades estão em fase avançada de seleção, sinal da maturidade crescente dos nossos empreendedores sociais.
Projetos como aGirl Move, aJust a Change e o Speak são exemplo de inovação, tenacidade e visão, que não exige a aprovação prévia do setor público e que não espera pelo financia- mento proveniente do acordo de cooperação para poder agir.
Cada vez mais assistimos ao aparecimento de novos modelos de atuação, assentes numaadministração colaborativa e flexível, que recorre aos voluntários, ao “fundraising”, à dinamização associativa e às parcerias com as empresas, para crescer num tempo de mudança.
Tive o privilégio de assistir aos eventos “Everyone a Changemaker” em Portugal e ao “Changemaker Summit” em Berlim e verificar a maturidade dos jovens empreendedores, capazes de identificar corretamente os problemas sociais complexos, de diagnosticar de forma prospetiva o que as novas décadas trarão e apresentar soluções dinâmicas e eficazes.
Uma nova geração que chega pouco preocupada em inaugurações, homenagens ou com a perpetuidade do seu nome e da sua gestão, preferindo uma liderança dinâmica, participada, ouvindo os “stakeholders” e apostada numa permanente capacitação e evolução.
Mas este entusiasmo que se pressente e nos deve animar, aparentemente, não encontra eco nas estruturas portuguesas de economia social nem na recente Confederação da Economia Social.
Procuramos, em vão, nas recomendações emergentes do último Congresso da Economia Social, um sinal de que as estruturas de cúpula estão atentas às novas tendências, emergentes da resolução do Parla- mento Europeu sobre o estatuto das empresas sociais.
Tentamos identificar, sem sucesso, uma preocupação pela definição do perfil do líder, da limitação clara de poderes dos dirigentes voluntários, da necessidade de alterar as opções de governação interna, e de promoção a alternância de mandatos.
Nenhuma palavra sobre avaliação de impacto, sobre revisão dos modelos de comparticipação, tendo em conta a qualidade ou sobre capacitação dos quadros e envolvimento dos beneficiários nos processos de gestão.
É, por isso, essencial promover a aproximação entre gerações, modelos de governo e de funcionamento, em ordem a convergir para a ampla e efetiva resolução dos problemas sociais e exigir um modelo de financiamento que premeie a inovação.
É imperativo garantir que as instituições, que garantem, diariamente, a efetivação dos direitos sociais dos portugueses, podem beneficiar da modernidade trazida pelos empreendedores sociais e que estes podem aprender com atradição e aexperiência.
Para isso, teremos de ultrapassar preconceitos para estimular o diálogo entre os diferentes atores e fazer da economia social a força motriz do desenvolvimento sustentável.