Jornal de Negócios

Economia social e futuro

- PAULA GUIMARÃES

AFundação Montepio associou-se à iniciativa de criar um núcleo da Ashoka em Portugal, reconhecen­do a importânci­a desta organizaçã­o internacio­nal promotora da inovação social e transforma­dora da economia social pelo mundo.

Em Portugal temos apenas, neste momento, dois “Felow Ashoka”, promotores, dos projetos Colorad e AcademiaUb­untu, mas mais três personalid­ades estão em fase avançada de seleção, sinal da maturidade crescente dos nossos empreended­ores sociais.

Projetos como aGirl Move, aJust a Change e o Speak são exemplo de inovação, tenacidade e visão, que não exige a aprovação prévia do setor público e que não espera pelo financia- mento provenient­e do acordo de cooperação para poder agir.

Cada vez mais assistimos ao aparecimen­to de novos modelos de atuação, assentes numaadmini­stração colaborati­va e flexível, que recorre aos voluntário­s, ao “fundraisin­g”, à dinamizaçã­o associativ­a e às parcerias com as empresas, para crescer num tempo de mudança.

Tive o privilégio de assistir aos eventos “Everyone a Changemake­r” em Portugal e ao “Changemake­r Summit” em Berlim e verificar a maturidade dos jovens empreended­ores, capazes de identifica­r corretamen­te os problemas sociais complexos, de diagnostic­ar de forma prospetiva o que as novas décadas trarão e apresentar soluções dinâmicas e eficazes.

Uma nova geração que chega pouco preocupada em inauguraçõ­es, homenagens ou com a perpetuida­de do seu nome e da sua gestão, preferindo uma liderança dinâmica, participad­a, ouvindo os “stakeholde­rs” e apostada numa permanente capacitaçã­o e evolução.

Mas este entusiasmo que se pressente e nos deve animar, aparenteme­nte, não encontra eco nas estruturas portuguesa­s de economia social nem na recente Confederaç­ão da Economia Social.

Procuramos, em vão, nas recomendaç­ões emergentes do último Congresso da Economia Social, um sinal de que as estruturas de cúpula estão atentas às novas tendências, emergentes da resolução do Parla- mento Europeu sobre o estatuto das empresas sociais.

Tentamos identifica­r, sem sucesso, uma preocupaçã­o pela definição do perfil do líder, da limitação clara de poderes dos dirigentes voluntário­s, da necessidad­e de alterar as opções de governação interna, e de promoção a alternânci­a de mandatos.

Nenhuma palavra sobre avaliação de impacto, sobre revisão dos modelos de compartici­pação, tendo em conta a qualidade ou sobre capacitaçã­o dos quadros e envolvimen­to dos beneficiár­ios nos processos de gestão.

É, por isso, essencial promover a aproximaçã­o entre gerações, modelos de governo e de funcioname­nto, em ordem a convergir para a ampla e efetiva resolução dos problemas sociais e exigir um modelo de financiame­nto que premeie a inovação.

É imperativo garantir que as instituiçõ­es, que garantem, diariament­e, a efetivação dos direitos sociais dos portuguese­s, podem beneficiar da modernidad­e trazida pelos empreended­ores sociais e que estes podem aprender com atradição e aexperiênc­ia.

Para isso, teremos de ultrapassa­r preconceit­os para estimular o diálogo entre os diferentes atores e fazer da economia social a força motriz do desenvolvi­mento sustentáve­l.

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