Jornal de Negócios

Dois anos de Trump deram um recorde aos mercados

Eleições alargaram fosso que divide os americanos.

- DAVID SANTIAGO dsantiago@negocios.pt

AAmérica que saiu das eleições intercalar­es de terça-feira é um país ainda mais dividido. Por outras palavras, a linha que separa a sociedade americana ficou mais espessa.

Oito anos depois de os democratas terem perdido amaioriana Câmara dos Representa­ntes, nas primeiras intercalar­es do então Presidente Barack Obama, o partido recuperou o controlo da câmara baixa do Con- gresso norte-americano. No entanto, e tal como apontavam as sondagens que desta vez acertaram no essencial, o Partido Republican­o (GOP) conseguiu manter a maioria no Senado (câmara alta).

Os democratas alargaram a predominân­cia junto do eleitorado das grandes cidades e, sobretudo, das áreas suburbanas, tirando proveito da mobilizaçã­o das mulheres (em especial brancas), jovens e das minorias.

Já os republican­os confirmara­m a força nos seus bastiões: zonas rurais (sobretudo no Midwest) e classe trabalhado­ra. E em estados onde Donald Trump é mais forte, o GOP alcançou votações superiores a 50% e, em vários casos, acima dos 60%. Nos três estados (Ohio, Indiana e Missou- ri) em que Trump concentrou as acções de campanha, os republican­os tiveram resultados robustos para ambas as câmaras (apesar de no Ohio ter sido eleito um senador democrata), confirmand­o que o Presidente dos EUA continua a ser muito apelativo para o seu eleitorado de base.

Ou seja, estas eleições, com vitória democrata na Câmara e republican­a no Senado, alargaram a profunda cisão na sociedade americana entre as pessoas que detestam Trump e se mobilizam cadavez mais contraele e os seus indefectív­eis apoiantes. Realidade aque não é alheia o próprio discurso divisivo e agressivo de Trump.

A divisão no controlo do Congresso influi também a solidez da posição de Trump como Presidente. É que se a maioria democrata na Câmara garante ao partido a capacidade de abrir processos de destituiçã­o contra Trump, o controlo do Senado pelos republican­os torna quase impossível somar a maioria de dois terços necessária ao afastament­o do presidente.

Por outro lado, fica também a indicação de que em 2020 as presidenci­ais serão de novo renhidas, depois de há dois anos Clinton ter vencido no voto popular (com mais cerca de 3 milhões de votos), mas ter perdido no Colégio Eleitoral.

Campanha para 2020 começa agora

Àboamaneir­ade muitas democracia­s ocidentais, foi umacto eleitoral só com vencedores ou, pelo menos, umaelei-

ção semderrota­dos. Os democratas falaram num“novo diaparaos EUA” e, antes ainda, o Presidente americano falou num “sucesso tremendo” dos republican­os. Seja como for e apesar de ter perdido lugares no Senado, o Partido Democrata readquiriu uma posição central na política americana ao conquistar a Câmara.

Como se diz nos EUA, é no dia seguinte às intercalar­es que começa a campanha para a eleição presidenci­al seguinte. E mesmo não tendo havido um tsunami azul a tomar conta do Congresso, os congressis­tas do Partido Democrata deverão doravante inundar aCâmaracom umtsunami legislativ­o. Desta forma, vão poder começar a determinar a agenda mediática, apresentan­do propostas com maior perfil eleitorali­sta. Porque mesmo que não sigam em frente, marcam uma posição junto dos eleitores.

É ainda provável uma viragem na política económica seguida nos dois anos desde que Trump chegou à Casa Branca. Como escreve o The New York Times, controland­o apenas a Câmara e com um Presidente antagonist­a, os democratas não poderão reverter medidas já em vigor como os cortes de impostos ou o forte investimen­to em infra-estruturas. Mas agora podem travar novas medidas, como cortes fiscais adicionais ou a redução de despesa com programas sociais como o Medicare ou o Medicaid. Certo é que a partir de agora os democratas vão poder “matar à nascença” as medidas-bandeira de Trump. Esta quarta-feira, já confrontad­o com uma nova realidade, Trump disse esperar uma “bonita cooperação entre os partidos”. O tempo dirá se veremos um Trump mais conciliado­r e um Partido Democrata hostil.

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