Dois anos de Trump deram um recorde aos mercados
Eleições alargaram fosso que divide os americanos.
AAmérica que saiu das eleições intercalares de terça-feira é um país ainda mais dividido. Por outras palavras, a linha que separa a sociedade americana ficou mais espessa.
Oito anos depois de os democratas terem perdido amaioriana Câmara dos Representantes, nas primeiras intercalares do então Presidente Barack Obama, o partido recuperou o controlo da câmara baixa do Con- gresso norte-americano. No entanto, e tal como apontavam as sondagens que desta vez acertaram no essencial, o Partido Republicano (GOP) conseguiu manter a maioria no Senado (câmara alta).
Os democratas alargaram a predominância junto do eleitorado das grandes cidades e, sobretudo, das áreas suburbanas, tirando proveito da mobilização das mulheres (em especial brancas), jovens e das minorias.
Já os republicanos confirmaram a força nos seus bastiões: zonas rurais (sobretudo no Midwest) e classe trabalhadora. E em estados onde Donald Trump é mais forte, o GOP alcançou votações superiores a 50% e, em vários casos, acima dos 60%. Nos três estados (Ohio, Indiana e Missou- ri) em que Trump concentrou as acções de campanha, os republicanos tiveram resultados robustos para ambas as câmaras (apesar de no Ohio ter sido eleito um senador democrata), confirmando que o Presidente dos EUA continua a ser muito apelativo para o seu eleitorado de base.
Ou seja, estas eleições, com vitória democrata na Câmara e republicana no Senado, alargaram a profunda cisão na sociedade americana entre as pessoas que detestam Trump e se mobilizam cadavez mais contraele e os seus indefectíveis apoiantes. Realidade aque não é alheia o próprio discurso divisivo e agressivo de Trump.
A divisão no controlo do Congresso influi também a solidez da posição de Trump como Presidente. É que se a maioria democrata na Câmara garante ao partido a capacidade de abrir processos de destituição contra Trump, o controlo do Senado pelos republicanos torna quase impossível somar a maioria de dois terços necessária ao afastamento do presidente.
Por outro lado, fica também a indicação de que em 2020 as presidenciais serão de novo renhidas, depois de há dois anos Clinton ter vencido no voto popular (com mais cerca de 3 milhões de votos), mas ter perdido no Colégio Eleitoral.
Campanha para 2020 começa agora
Àboamaneirade muitas democracias ocidentais, foi umacto eleitoral só com vencedores ou, pelo menos, umaelei-
ção semderrotados. Os democratas falaram num“novo diaparaos EUA” e, antes ainda, o Presidente americano falou num “sucesso tremendo” dos republicanos. Seja como for e apesar de ter perdido lugares no Senado, o Partido Democrata readquiriu uma posição central na política americana ao conquistar a Câmara.
Como se diz nos EUA, é no dia seguinte às intercalares que começa a campanha para a eleição presidencial seguinte. E mesmo não tendo havido um tsunami azul a tomar conta do Congresso, os congressistas do Partido Democrata deverão doravante inundar aCâmaracom umtsunami legislativo. Desta forma, vão poder começar a determinar a agenda mediática, apresentando propostas com maior perfil eleitoralista. Porque mesmo que não sigam em frente, marcam uma posição junto dos eleitores.
É ainda provável uma viragem na política económica seguida nos dois anos desde que Trump chegou à Casa Branca. Como escreve o The New York Times, controlando apenas a Câmara e com um Presidente antagonista, os democratas não poderão reverter medidas já em vigor como os cortes de impostos ou o forte investimento em infra-estruturas. Mas agora podem travar novas medidas, como cortes fiscais adicionais ou a redução de despesa com programas sociais como o Medicare ou o Medicaid. Certo é que a partir de agora os democratas vão poder “matar à nascença” as medidas-bandeira de Trump. Esta quarta-feira, já confrontado com uma nova realidade, Trump disse esperar uma “bonita cooperação entre os partidos”. O tempo dirá se veremos um Trump mais conciliador e um Partido Democrata hostil.