O banho de ética que molha a liderança de Rio
Rui Rio teve uma excelente educação no Colégio Alemão do Porto. Por isso sabe falar a língua de Kant, um dos filósofos que melhor teorizou sobre a ética. Mas Rio, que prometeu um banho de ética na política, está a levar uma banhada no seu círculo mais próximo. Depois do inacreditável escândalo do currículo académico de Feliciano Barreiras Duarte, que confundiu uma visita à prestigiada Universidade de Berkeley com a frequência da mesma escola, José Silvano, a segunda pessoa escolhida para secretário-geral do partido neste consulado, arrisca ser alvo da Procuradoria- Geral da República por falsas presenças nas sessões parlamentares.
José Silvano, antigo autarca de Mirandela, mesmo depois de a Assembleia da República ter confirmado oficialmente que alguém usou a sua senha para marcar a presença em sessões parlamentares nas quais realmente não estava, assinou a presença numa reunião de uma comissão parlamentar e saiu. O facto de ser uma reunião da comissão de transparência é apenas um detalhe, como se fosse a cereja em cima do bolo.
Eça, que escreveu o “O Conde de Abranhos”, ou Camilo, que faz um relato da vida parlamentar do século XIX no magistral “A Queda de um Anjo”, tinham matéria-prima extraordinária nestes políticos do século XXI.
No caso de Silvano, a honestidade não lhe traria qualquer custo, poderia sempre justificar as faltas no Parlamento com trabalho político.
Qualquer líder que pactue com esquemas de batota quando um deputado faz gazeta não tem credibilidade para falar sobre produtividade, nem tem moral para exigir melhor prestação de serviços por parte da máquina do Estado.
No país real, a assiduidade ao trabalho é uma questão importante, é um dos travões à produtividade, no entanto a generalidade das pessoas que falta ao trabalho tem uma penalização no salário. Como se vê no caso do deputado Silvano, na vida política essa regra não se aplica.
Percebe-se que Rui Rio tem um problema em demitir Silvano do cargo de secretário-geral. Depois de dois erros de “casting” será muito difícil encontrar um voluntário com capacidade para a função. Até porque estes tiros no pé reduzem a expectativa eleitoral do partido que em 2015 conseguiu o maior grupo parlamentar, um registo que agora será difícil de obter.
A inabilidade de Rio ficou demonstrada ontem de manhã, quando questionado em português sobre o caso Silvano, responde em alemão. Esta atitude diz tudo sobre o político. É melhor dizer “auf wiedersehen”!