O português de Singapura
egundo a lenda, Singapura foi fundada há muitos séculos, quando um príncipe de Sumatra desembarcou na ilha e viu um leão. Encarou o encontro como um bom sinal e fundou uma cidade à qual chamou Singapura, que significa precisamente: a cidade do leão. Não se sabe se a lenda é verdadeira, até porque, até ao século XVI, Singapura era um pequeno povoado e não uma cidade. E esse nome não era utilizado. A moderna Singapura foi fundada por Sir Stamford Raffles, que trabalhava para a célebre East India Company. Tendo subido rapidamente na hierarquia da companhia que era um verdadeiro Estado, tornou-se um dos responsáveis máximos de Java. Em 1819, decidiu que o pequeno porto se deveria tornar num centro comercial e militar. Nessa altura, eram portugueses muitos dos habitantes do local. Ali chegara também, em 1825, José d’Almeida Carvalho e Silva, que era um cirurgião. Tendo casado com uma macaense, criou a firma comercial José de Almeida Carvalho e Cia., que mais tarde teria a sua sede em Calcutá. Com os lucros, comprou terrenos em Singapura, que Raffles acabara de criar. Criou ali a firma José d’Almeida, que se torna das mais importantes da ilha. Ali ficou, porque os acontecimentos políticos em Macau (então liberal, algo que colidia com as ideias absolutistas de Almeida Carvalho) propiciavam que estivesse longe do território então sob a alçada portuguesa.
A sua actividade em Singapura tornou-se particularmente activa. Fosse na área médica, comercial, ou de pesquisas agrícolas. Chegou mesmo a introduzir várias espécies de frutos em Singapura, incluindo uma espécie de banana a que chamaria “pisang d’Almeida”. A sua influência em Singapura foi crescente e pela sua casa, em Beach Road, no centro da nova cidade, vinham muitos para o conhecer e cumprimentar. No período da primeira guerra do ópio, terá feito bons negócios que aumentaram consideravelmente a sua riqueza e influência. Seria condecorado com as comendas das Ordens Militares de Cristo e da Conceição, pela rainha D. Maria II, e foi mesmo nomeado cônsul-geral de Portugal nos estreitos, quando visitou a Europa, em 1842. Entretanto, em terras do Oriente, passou a ser conhecido como Sir José d’Almeida. Acabaria por falecer em 1850 na cidade de Singapura, e ali ainda hoje existe a D’Almeida Street. O seu poder continuou mesmo depois do seu desaparecimento: em 1857, há notícia de que a firma José de Almeida & Filhos, de Singapura, ficara com a concessão das minas de Birak, em Timor. Mas, no essencial, ficou a sua ligação ao período crucial da criação da cidade-Estado, que hoje funciona como modelo político e económico para muitos. Mesmo em Portugal.
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