Jornal de Negócios

Ra r Pa bate com o populismo, é opre re ciso pr não od uz ir

- DAVID SANTIAGO

Defender, explicar e viver de acordo com os valores centrais das democracia­s liberais em vez de, simplesmen­te, reproduzir pequenas versões de populismo é a melhor forma de combater as correntes populistas em ascensão, sublinha ao Negócios o politólogo holandês Cas Mudde, professor associado da Universida­de de Geórgia e co-autor do livro “Populismo: uma brevíssima introdução”. Àmedida que se globaliza, o populismo corrói os alicerces das democracia­s liberais construído­s no mundo transatlân­tico no pós-Guerra, primeiro, e, num segundo tomo, depois daquedado Muro de Berlim. O fenómeno tem pelo menos dois séculos, mas a escalada intensific­ou-se nas últimas três décadas, sobretudo a partir de 2016 com a eleição de Trump como Presidente dos EUA e com a vitória do Brexit no referendo britânico. Ante aerosão transnacio­nal emcurso dos quadros políticos tradiciona­is, quais serão as armas paracombat­er e travar os líderes populistas? Face à crescente implantaçã­o de fenóme- nos populistas nos mais diferentes sistemas políticos e geografias, desconhece-se uma fórmula capaz de enfrentar o problema em toda a sua amplitude. Para já, a solução mais avistada parece consistir na não reprodução das práticas que levaram à situação actual. É isso que defende Cas Mudde quando afirma que “a maior parte dos erros foram cometidos há várias décadas, com as elites políticas a manterem questões-chave como a integração europeia e a imigração longe da agenda”. Dois temas que persistem como os principais focos promotores do fenómeno populista na Europa. O professor identifica ainda outras abordagens erradas por parte dos partidos considerad­os moderados e que alimentam o descontent­amento que, por sua vez, impulsiona o sucesso de líderes populistas. A primeira é a insistênci­a na política TINA(“there is no alternativ­e”) e a segunda consiste na “ilusão” de que existe um conjunto homogéneo de pessoas pode ser “recuperado” através de políticas ditas de “bom senso”.

Roger Eatwell, professor de Políticas Comparadas na Universida­de de Bath e co-autor do livro “Populismo Nacional: Revolta contra a Democracia Liberal”, defende ainda a necessidad­e de as pessoas se envolverem mais num “debate construtiv­o”. Será essa a melhor forma de combater a lógica dos jogos de soma zero em que assentam as estratégia­s populistas. Roger Eatwell recorda também que continua por realizar, ao nível político, “o debate fundamenta­l acerca da natureza da democracia e sobre como fazer com que as pessoas se sintam mais incluídas”.

A crise de refugiados que chegou ao continente europeu a partir de 2015 fomentou sentimento­s anti-imigração que rapidament­e foram apropriado­s pelas forças populistas. Em especial pelas extremas-direitas, como o nacional-autoritari­smo de Viktor Orbán, na Hungria, ou a Liga de Matteo Salvini, que in-

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