Jornal de Negócios

Marcus Aurelius Antoninus

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VITAM I NAS AB STE N C I O N I STAS

Se o Parlamento não se respeita a si próprio, como podem os eleitores respeitá-lo e porque hão-de os abstencion­istas querer votar? A pergunta surge numa semana em que se descobriu mais um caso no Parlamento, depois das moradas falsas que deputados indicaram para ganharem mais uns cobres em subsídios de deslocaçõe­s. Desta feita, a coisa desceu a um nível ainda mais baixo, com um deputado, que é secretário-geral do maior partido da oposição, a vigarizar a folha de presenças no plenário, pedindo a um colega de bancada para assinar por ele – no caso, electronic­amente, através de uma password de exclusivo uso pessoal que assim, contra todas as normas, foi desviada da sua finalidade. Nem parece que estamos num Parlamento, a coisa assemelha-se a um recreio no qual miúdos inconscien­tes fazem asneiras que pedem a amigos para depois ocultar. A pouca-vergonha cometida vale 69 euros por dia – curioso número como, em tempos, disse um presidente da Assembleia da República. O facto de um deputado entrar na batota – e o embaraço silencioso dos seus pares – diz tudo sobre o estado a que chegámos. A coisa chegou ao nível das anedotas do menino Tonecas, só que a asneira, em vez de punida exemplarme­nte pelo líder do partido a que pertence, é classifica­da por Rui Rio como uma “pequena questiúncu­la” sem importânci­a. Tenciona ele manter José Silvano como secretário-geral do PSD ou vai reforçar a dose de vitaminas abstencion­istas ao eleitorado? Este Parlamento está a entrar na idade das trevas. E, ao PSD, não há luz que o ilumine.

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