Os milhões do Web Summit e outras “estórias”
Com o fim do Web Summit 2019 vamos ouvir toda a sorte de balanços nas próximas semanas. Desde a crítica mais primária (não há dinheiro para outras coisas, mas há para esta) até à mais eleitoralista: o evento gerou centenas de milhões em negócios… Dê-lhes o devido desconto. A conversa dos milhões ou de “o Governo fez isto ou aquilo” é típica de países onde o empreendedorismo não tem raízes e onde o mercado de capitais funciona mal. Sendo assim, como avaliar a importância do evento? Pelo contributo que traz para a mudança de mentalidades (internamente) e pela mudança da imagem do país no mundo.
Vamos à primeira questão. O ecossistema que se instala naqueles dois quilómetros quadrados do Parque das Nações oferece uma visão privilegiada do futuro. Quais as tendências do mercado? O que é que as empresas pedem de “skills” qualificados? Qual a relação entre capital e trabalho dentro de dez anos?...
A segunda vertente não é menos importante. Embora muita coisa tenha mudado, Portugal continua com um défice de imagem (modernidade) no exterior. Pouca gente lá fora tem a perceção de que o país já dá cartas em certas áreas: I&D, produção de conhecimento e aproximação entre univer- sidades e empresas, desenvolvimento de software, etc. Ora é aqui que o Web Summit pode fazer a diferença. Em três anos de evento nota-se que alguma coisa já começou a mudar a esse nível. Veja-se a instalação de centros digitais da Daimler, BMW e VW em Portugal. Se os próximos dez anos acentuarem essa mudança, terá valido a pena pagar 110 milhões para manter o evento por cá. É nisso que os portugueses têm de se focar, mais do que nos milhões que ninguém sabe como são calculados.
Artigo em conformidade com o novo Acordo Ortográfico