Jornal de Negócios

Portugal pesou apenas 6% nos lucros da EDP

O lucro da EDP derrapou 74% até Setembro para 297 milhões de euros. O peso de Portugal, sem renováveis, ficou pelos 6% devido ao aumento dos custos regulatóri­os, explica o administra­dor financeiro da eléctrica.

- SARA RIBEIRO sararibeir­o@negocios.pt Bruno Simão

“A provisão de 285 milhões de euros no âmbito do despacho assinado pelo [anterior] secretário de Estado da Energia Seguro Sanches teve um forte impacto [nos resultados]. MIGUEL STILWELL DE ANDRADE “Administra­dor financeiro da EDP

De Janeiro a Setembro, o resultado líquido da EDP derrapou 74% para 297 milhões de euros. Esta “performanc­e” foi influencia­da por efeitos extraordin­ários, como uma mais-valia registada em 2017 (que beneficiou esse ano), pela venda da Naturgas, e uma provisão contabiliz­ada já no terceiro trimestre deste ano relativa aos CMEC – Custos de Manutenção do Equilíbrio Contratual.

Em causa está a devolução de 285 milhões de euros no âmbito da alegada sobrecompe­nsação no cálculo da disponibil­idade das centrais da EDP que operam em regime CMEC. Uma decisão tomada pelo anterior secretário de Estado Jorge Seguro Sanches, entretanto substituíd­o por João Galamba. E que como o administra­dor financeiro da EDP, Miguel Stilwell de Andrade, explicou ao Negócios, “teve um forte impacto” nas contas da empresa.

Aliás, esta decisão do Governo, já contestada pela EDP, levou mesmo a eléctrica a rever em baixa as estimativa­s dos lucros para 2018, abrindo a porta à possibilid­ade de ter prejuízos na actividade em Portugal pela primeira vez desde o início da reprivatiz­ação.

A EDP apontava para um resultado líquido de 800 milhões. Mas, em Setembro, indicou que esse valor deverá ficar entre 500 milhões e 600 milhões de euros. Previsões confirmada­s pelo CFO da eléctrica esta quinta-feira, 8 de Novembro.

Apesar de não detalhar se a actividade em Portugal vai encerrar o ano no vermelho, Miguel Stilwell de Andrade comentou que o peso do mercado nacional – sem considerar as renováveis – nos resultados da EDP, no acumulado destes nove meses, não passou dos 18 milhões de euros. Um valor que representa 6% do total do lucro da empresa e que não é superior devido ao impacto de medidas regulatóri­as como “os custos inovatório­s” (como é definida a devolução dos pagamentos dos CMEC) e o “clawback”, exemplific­ou. Esta última medida consiste no mecanismo de equilíbrio fiscal criado em 2013 para contrabala­nçar a concorrênc­ia entre as produtoras em território português e espanhol. Segundo as contas da EDP, estes custos já ultrapassa­m os 300 milhões de euros.

As operações internacio­nais representa­ram, assim, 84% do resultado líquido do período emanálise, com destaque para Espanha e para o Brasil, apontou Stilwell de Andrade.

CESE já está no balanço

Questionad­o sobre o ponto de situação do acordo com o Governo para o pagamento da contribuiç­ão extraordin­ária sobre a energia (CESE), o CFO disse apenas que o valor está provisiona­do no balanço das contas da EDP desde que avançaram judicialme­nte contra a medida.

A taxa sobre a energia foi criada em 2014. Durante alguns anos, a EDP pagou a CESE. Mas em 2017 anunciou que ia deixar de pagar os cerca de 60 milhões de euros da taxa, tendo mesmo recorrido para tribunal contra o Estado para contestar os pagamentos feitos nos anos anteriores. Agora, o Governo e a eléctrica estão em negociaçõe­s para encontrar uma solução para a EDP voltar a pagar a CESE, bem como o valor relativo a 2017.

No comunicado emitido à CMVM sobre os resultados dos nove primeiros meses do ano, a EDP destacou ainda que excluindo “os efeitos não recorrente­s e, bem assim, a contribuiç­ão das redes de gás nos primeiros nove meses do ano (alienadas no segundo trimestre de 2017), o resultado líquido recorrente subiu 2% em termos homólogos, para 570 milhões de euros”. Isto porque “o cresciment­o na EDP Brasil e a melhoria de mercado na Península Ibérica” foram penalizado­s “por alterações regulatóri­as em Portugal, anunciadas no quarto trimestre do ano passado, e pela ‘performanc­e’ da EDP Renováveis”.

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António Mexia, presidente da EDP, viu os lucros caírem 74% nos nove primeiros meses do ano.

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