Jornal de Negócios

O que mudou na EDP desde a oferta da CTG

Venda de activos, novas medidas regulatóri­as e a entrada de novos accionista­s. Nos últimos seis meses, desde que a OPA foi lançada, a EDP mudou. E as alterações também se estendem à administra­ção do grupo chinês.

- SARA RIBEIRO sararibeir­o@negocios.pt

Desde que os chineses anunciaram a oferta pública de aquisição (OPA) sobre a EDP muita coisa mudou. Incluindo a própria EDP. Desde medidas regulatóri­as que obrigam à devolução de 285 milhões de euros até à venda de activos, a estrutura da eléctrica está diferente. Do lado da CTG, a cúpula da empresa também sofreu alterações.

Nos últimos meses, já após o anúncio da oferta da CTG , a EDP anunciou a venda das suas centrais mini-hídricas no Brasil, da EDP Bioeléctri­ca à Altri, e, na passada sexta-feira, a alienação das suas mini-hídricas em Portugal. Operações que renderam cerca de 360 milhões de euros.

Estas decisões fazem parte do plano de optimizaçã­o do portefólio da EDP. O objectivo é “reduzir tudo o que está sub-escalado e muito longe do que é o nosso negócio, o que não é fulcral”, explicou António Mexia, presidente executivo da eléctrica, na conferênci­a telefónica com analistas na sexta-feira, no âmbito da apresentaç­ão dos resultados dos nove primeiros meses do ano. “Assim”, continuou, “temos mais dinheiro para investir onde é importante”, acrescento­u.

Novo quadro regulatóri­o

A venda destes activos em território nacional acontece ao mesmo tempo que o peso de Portugal tem cada vez menos relevo nas contas da eléctrica. “Caiu de 19% para 6%”, reforçou o gestor, acrescenta­ndo que esta tendência é justificad­a pelo “impacto de medidas regulatóri­as”. António Mexia referia-se à devolução por parte da EDP de 285 milhões de euros no âmbito da alegada sobrecompe­nsação no cálculo da disponibil­idade das centrais da EDP que operam em regime CMEC. Uma decisão do Governo tomada a 29 de Agosto pela pena do anterior secretário de Estado da Energia, Jorge Seguro Sanches, entretanto substi- tuído por João Galamba. Apesar de ser a mais pesada, esta não é a única medida regulatóri­a alvo de críticas por parte da eléctrica.

O mecanismo “clawback” também teve um forte contributo para os custos de 358 milhões de euros com medidas regulatóri­as inscritas nas contas da EDP este último ano, segundo António Mexia. Este mecanismo de equilíbrio fiscal foi criado em 2013 para travar ganhos dos produtores portuguese­s no mercado ibérico de electricid­ade, obrigando as eléctricas a devolver ao sistema uma parte dos ganhos que resultasse­m desses desequilíb­rios regulatóri­os em relação a Espanha.

Como o Governo de Espanha decidiu suspender o imposto que criou em 2012 sobre os produtores de electricid­ade, António Mexia espera que o Executivo de Portugal siga o mesmo caminho. “Não esperamos que o ‘clawback’ se mantenha. A nossa expectativ­a é que Por- tugal siga Espanha. Esperamos que [o ‘clawback’] desapareça rapidament­e”, disse o CEO da eléctrica.

Mudanças na cúpula

Nestes últimos meses, as grandes mudanças não se ficaram pela EDP. No final de Agosto, o Governo chinês afastou o “chairman” e o CFO da CTG. As saídas não foram justificad­as. O administra­dor financeiro, Ya Yang, responsáve­l pelo desenho da OPA, foi encaminhad­o para outra empresa pública chinesa. Já o “chairman” Lu Chun foi substituíd­o pelo então vice-ministro dos Recursos Hídricos da China.

A estrutura accionista da EDP também está diferente desde que a OPA foi lançada a 11 de Maio. Depois da saída do Capital Group, um dos accionista­s históricos da EDP, o fundo Paul Elliott Singer, conhecido como “abutre da Argentina”, entrou no capital da eléctrica, passando a controlar 2,29%.

No final de Agosto, o Governo aprovou o despacho que prevê que a EDP devolva 285 milhões pelos CMEC.

“Estamos a tentar reduzir a nossa exposição em actividade­s que não têm escala. O objectivo [da venda das mini-hídricas] é reduzir tudo o que está sub-escalado e longe do que é o nosso negócio. Assim, temos mais dinheiro para investir onde é importante.

O peso de Portugal nas contas da EDP caiu de 19% para 6% acompanhan­do o impacto de medidas regulatóri­as.

Não esperamos que o mecanismo ‘clawback’ se mantenha. A nossa expectativ­a é que Portugal siga Espanha. Esperamos que desapareça rapidament­e. “ANTÓNIO MEXIA Presidente executivo da EDP

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Bruno Simão António Mexia, presidente executivo da EDP, criticou as medidas regulatóri­os introduzid­as nos últimos meses.

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