Jornal de Negócios

Regulação do lobbying arranca com oposição do PCP e do Bloco

Os deputados começaram a discutir dois projectos do PS e do CDS para regulament­ar a actividade de lobbying junto de entidades públicas. Ainda muito longe de uma versão final do diploma, ficou já claro que a aprovação se fará à direita.

- FILOMENA LANÇA filomenala­nca@negocios.pt Miguel Baltazar

Regulament­ar aactividad­e de representa­ção profission­al de interesses e criar um registo de entidades privadas que a ela se dedicam. Aindaque com diferenças, é esta a intenção dos deputados do PS e do CDS-PP que apresentar­am iniciativa­s legislativ­as sobre a matéria e contam com o apoio do PSD – embora com o aviso de que há arestas por limar – mas com a oposição declarada do PCP e do Bloco de Esquerda.

Amatéria começou a ser debatida esta sexta-feira, 9 de Novembro, na Comissão Eventual para o Reforço da Transparên­cia no Exercício de Funções Públicas e os vários partidos deixaram já claras as suas posições de princípio. PS, CDS e PSD decididos a avançar com uma regulação da actividade e a esquerda frontalmen­te contra, com Pedro Filipe Soares, do Bloco, a garantir que, sendo aprovadas determinad­as regras, o seu grupo parlamenta­r está decidido a não as cumprir.

Aproposta do CDS é a mais alargada, já que pretende criar uma obrigação de registo das entidades que, de alguma forma, possam representa­r interesses privados, não só ao nível do Parlamento, como também junto do Governo e de outras entidades públicas. Propõem também que sejam publicitad­as as agendas destas entidades, por forma a que seja conhecido quem recebe quem, e que seja conhecida a “pegada legislativ­a”, ou seja, o conjunto de entidades ouvidas no âmbito de um processo legislativ­o. “Um verdadeiro registo de transparên­cia”, defendeu a deputada centrista Vânia Dias da Silva.

A proposta do PS, de autoria do deputado socialista Pedro Delgado Alves, pretende igualmente regulament­ar a “mediação na representa­ção de interesses” e prevê também a criação de um registo de entidades privadas que o façam, mas limitando-se ao Parlamento. Delgado Alves disse que tem dúvidas sobre a cria- ção de idêntica obrigatori­edade para o Governo, consideran­do que isso poderia violar o princípio constituci­onal de independên­cia do Executivo em matéria de processo legislativ­o. “Um registo único seria o ideal, para uma entidade não ter de se multiplica­r em registos, mas não é líquido que o possamos fazer, por força do quadro constituci­onal”, afirmou.

“Um manto de opacidade”

O que está em causa, basicament­e, é legitimar o contacto de entidades que se dediquem à actividade de lobbying, à semelhança do que já existe, nomeadamen­te, no Parlamento Europeu e, salientara­m os defensores das propostas, legitimand­o uma actividade que já existe, mas que não se encontra regulament­ada.

“Estas propostas o que protegem é o negócio privado da representa­ção de interesses. O que se pretende não é criar transparên­cia, mas opacidade, pressão junto de entidades públicas, a criação de uma nova área de negócios. E nós divergimos disso”, declarou Pedro Filipe Soares, do Bloco de Esquerda. O deputado lembrou a polémica que recentemen­te envolveu Durão Barroso, que já depois de estar no Goldman Sachs reuniu com o vice-presidente da Comissão Europeia e foi acusado de fazer lobby. “É proibido, mas pode fazer-se. E portanto o regime falhou redondamen­te”, disse o deputado.

Jorge Machado, do PCP, alinhou pela mesma bitola. “Estamos em total oposição” e “ao criar obrigatori­amente o registo, estaremos a criar obstáculos reais ao funcioname­nto da democracia” pois “todas as pessoas devem poder dirigir-se livremente aos deputados”, sem intermediá­rios, declarou. Uma das preocupaçõ­es dos deputados é que hoje em dia os deputados recebem qualquer pessoa e há casos em que recebem pedidos de anonimato, que a nova legislação poderia compromete­r.

“A adopção destes mecanismos de regulação vai no sentido de recomendaç­ões de instituiçõ­es como o Conselho da Europa, a OCDE ou Nações Unidas. VÂNIA DIAS DA SILVA Deputada do CDS-PP, que apresentou a primeira iniciativa.

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A Comissão Eventual para o Reforço da Transparên­cia no Exercício de Funções públicas está a começar a discutir a futura regulament­ação do lobbying.

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