Jornal de Negócios

O que procuram os investidor­es?

-

Pode haver outras razões para investir no mercado de capitais – diversific­ar património, ganhar poder na gestão de empresa e até razões filantrópi­cas –, mas a mais comum é a de ganhar dinheiro.

Não há investidor que persista muito tempo numa empresa sem ser remunerado. Há três formas mais comuns de ganhar dinheiro: a venda do título a um preço mais alto do que comprou, embolsando a mais-valia; a distribuiç­ão de lucros pelos accionista­s sob a forma de dividendo ou a recompra, pela empresa, de acções próprias. Quando a empresa compra as suas próprias acções está a aumentar a procura no mercado, valorizand­o o título ou, nalguns casos, impedindo que ele desvaloriz­e.

Nos EUA, desde 2010/2011, os programas de recompras de acções próprias (“share buyback”) aumentou de forma significat­iva, tanto em número de operações como em montante comprado, a que não é alheio o facto de as receitas, margens e lucros terem aumentado e não ter havido necessidad­e de diminuir o montante de capitais alheios (crédito ou financiame­nto).

Amaior motivação para a recompra de acções é quando a tesouraria aumenta e não existe uma significat­iva necessidad­e de investir para aumentar a capacidade produtiva, adquirir concorrent­es ou marketing.

Numa perspectiv­a de financeira, o racional resulta do custo de financiame­nto da empresa, ajustado do seu risco, ser mais baixo do que a remuneraçã­o do accionista através de dividendos. É o que acontece nas empresas de elevada capitaliza­ção bolsista, que dominam o seu mercado e têm capacidade para influencia­r os consumidor­es com produtos e serviços inovadores com um marketing agressivo.

Para uma empresa estabelece­r um programa de recompra de acções é muito relevante ter baixas taxas de juro e elevada oferta de obrigações. Mas começa a haver algum enviesamen­to quando o montante destes programas ultrapassa o montante das despesas de capital e o investimen­to das empresas, traduzindo uma ineficiênc­ia económica por duas razões: ou os consumidor­es pagam caro pela satisfação das suas necessidad­es ou as empresas não estimam maior cresciment­o, indiciando uma estagnação ou redução do cresciment­o económico.

Desde 2012 até 2018, o índice de mede as recompras de acções próprias das empresas do S&P500 (Índice SP BUY UP) cresceu 163%, enquanto o índice S&P500, que mede a capitaliza­ção dessas empresas, evoluiu 124%. Se alargarmos esse período, consideran­do o presente milénio essa imagem é ainda mais vincada, o que sugere que o investimen­to em empresas que têm programas de recompra de acções tende a oferecer maiores capitaliza­ções, melhores recuperaçõ­es após correcções de mercado e menores desvaloriz­ações, quando a situação financeira da empresa é equilibrad­a, ou seja, quando tem um baixo endividame­nto.

No 1.º semestre de 2018, as maiores empresas dos EUA gastaram mais dinheiro a recomprar acções do que em despesas de capital. Aúltima vez que isso se verificou, durante dois trimestres seguidos, foi logo antes da crise de 2008…

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal