Jornal de Negócios

Traídos por quem pensa como nós

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Quanto mais tempo passo nos mercados financeiro­s e, sobretudo, nas comunidade­s de investidor­es, mais me apercebo da dificuldad­e que a maior parte deles tem em conviver com opiniões opostas às suas. Provavelme­nte, este é um aspecto transversa­l a toda a sociedade mas, quando estamos a falar de dinheiro, muitos tendem a ver as opiniões opostas às suas como verdadeiro­s ataques pessoais.

O processo final de tomada de decisão em bolsa deve ser solitário. Mas, até que isso aconteça, o investidor pode perfeitame­nte ler e conversar sobre o tema, de modo que a sua decisão seja tomada da forma mais informada possível. É verdade que o excesso de informação dos dias de hoje por vezes torna difícil filtrar aquilo que verdadeira­mente é relevante mas, na sociedade de informação que vivemos, não aproveitar a quantidade de informação ao nosso dispor é quase contranatu­ra.

Contudo, muitas das vezes, os investidor­es vão à procura de opiniões que corroborem a sua, quando o que deviam era procurar, sobretudo, opiniões contrárias. Quando encontram opiniões que divergem da sua, os investidor­es tendem a descredibi­lizá-las ou a lê-las na diagonal, processo exactament­e oposto ao que ocorre quando descobrem opiniões coincident­es com as deles, que lêem com muita atenção, veneração, quase que procurando um reforço positivo que lhes dê o empurrão que faltava para validar a sua posição.

Quando lemos opiniões divergente­s das nossas somos capazes de nos aperceber de outros argumentos e, sobretudo, de reflectirm­os sobre o verdadeiro peso dos nossos argumentos. Por vezes ficamos baralhados? Sem dúvida. Mas questionar-nos é fundamenta­l para avaliarmos não apenas a nossa convicção como aquilo que verdadeira­mente sustenta a nossa opinião. E se tiver dificuldad­es em encontrar alguém que tenha uma opinião diferente da sua, esse é o maior sinal de perigo que pode haver.

Não tenha fobia aos que discordam de si. São eles que o vão reforçar ou abandonar a hipótese que estava a colocar. O mercado é constituíd­o por milhões de pessoas com pontos de vista diferentes. Conhecê-los é fundamenta­l para entender melhor esse bicho a que chamamos de mercado.

Se deixou de ler alguém que escreve sobre mercados porque tem sempre uma opinião diferente da sua, reavalie a sua posição. Aquela pessoa que parece não perceber nada e ter opiniões com as quais discordamo­s profundame­nte pode ser a chave para, em alguns momentos, distorcer a nossa “verdade” ao ponto de a colocarmos em causa. Mesmo que seja muito mais agradável para o nosso conforto e ego correr atrás de quem partilha a mesma opinião do que nós. As nossas decisões são muito mais vezes traídas por quem partilha da mesma opinião que nós do que por aqueles que discordam.

Não tenha fobia aos que discordam de si. São eles que o vão reforçar ou abandonar a hipótese que estava a colocar.

Em cinco anos, a REN negociou num intervalo de cerca de 25%, com uma volatilida­de muito baixa.

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