O Bloco de Esquerda desistiu de crescer
A XI Convenção do Bloco de Esquerda foi a confirmação de tudo o que partido vem fazendo nesta legislatura: a conversão ao Poder. Quando Mariana Mortágua diz “Estamos prontos, camaradas”, sobre uma ida para o governo está a oficializar, e solenizar, os novos caminhos do Bloco (até já tem ministros designados...). E esses caminhos passam pelo apoio inequívoco à governação do Partido Socialista.
Bem pode Catarina Martins dizer que a “política mudou porque o PS não teve maioria”, que isso não convence ninguém: o Bloco fez aquilo que o PS, ou melhor António Costa, deixou que fizesse. O BE protestou (e até exigiu escrutinar) as cativações de Mário Centeno. Elas acabaram? O BE exigiu mudanças profundas na legislação laboral. O governo mudou quase nada. O BE exigiu mais défice. O governo fez exatamente o contrário. O BE quis abrir indiscriminadamente o acesso às reformas antecipadas aos 60 anos. O governo só dá reforma a quem, cumulativamente, tenha 60 anos de idade e 40 de contribuições. O BE exigiu maior aposta no SNS. O governo fez orelhas moucas. O BE queria a reposição integral do tempo de serviço dos professores (9 anos, 4 meses e dois dias). O governo deu dois anos e 9 meses e 18 dias. O BE queria reestruturar dívida. Mário Centeno está a amortizá-la (todinha).
É este o sumário de três anos de BE no Poder: vendeu-se. Deixou para trás o DNA inicial, de partido contestatário, que o fez passar de dois deputados em 1998 para 15 deputados em 2015. Como bem disse um dos seus militantes (Mateus Sadock), o Bloco passou a viver “das migalhas” que o PS lhe dá. E com isso passou a ser um “partido como os outros”.
O que levou a direção do Bloco e a sua eminência parda (Francisco Louçã) a optarem por esta estratégia? A ambição de crescer? Não. As “migalhas”. Influenciam uma (pequena) parte das decisões. E isso chega-lhes. Vamos ver o impacte que isso terá nos votos...
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