Jornal de Negócios

Costa nunca fará governo com o BE

BE VAI PARA O GOVERNO? O CASO SILVANO

- LUÍS MARQUES MENDES Advogado

1. A Convenção correu muito bem ao Bloco.

a) Primeiro: passou a imagem de um partido unido, mobilizado e uma líder incontesta­da;

b) Segundo: passou uma imagem de mudança – a mudança de partido de protesto para partido de poder;

c) Terceiro: foi um comício de críticas duríssimas ao PS. O PS parecia um saco de boxe. Incluindo a crítica à maioria absoluta do PS (o diabo da esquerda).

d) Quarto: a manifestaç­ão de uma vontade férrea de ir para o Governo. Ou seja: o BE passou meia Convenção a “bater” no PS e outra meia a “oferecer-se” para ir com o PS para o Governo.

2. Eis a questão nuclear: o PS irá mesmo para o Governo depois das eleições?

a) Julgo que não. Em matéria de governação, a paixão do Bloco é uma paixão não correspond­ida. Como disse recentemen­te o PM, a relação que existe com o Bloco dá para uma boa amizade, mas não dá para casar.

b) Eu diria mais: um Governo PS/BE, presidido por António Costa, é um objectivo impossível. Só não percebe isto quem não conhece António Costa. O PM nunca fará governo com o BE. O PS ou tem a maioria absoluta e governa sozinho, ou não tem e não fará governo com o BE. Primeiro, para não comprar uma guerra com o PCP;

depois, porque não quer desagradar ao eleitorado do centro; finalmente, porque as divergênci­as não são irrelevant­es.

c) E arrisco mesmo dizer: esta estratégia do BE de “se oferecer” para governar pode ser útil a ambas as partes.

• O Bloco mobiliza-se eleitoralm­ente e isso é-lhes positivo;

O PS pode obter uma boa quantidade de voto útil na área do centro, naqueles eleitores que “se assustam” com a ideia do BE no Governo e que preferem o PS sozinho a PS acompanhad­o do Bloco. • ra bons resultados. É uma estratégia correcta – uma estratégia de cresciment­o sustentado. É caso para dizer que o novo Presidente Executivo, Miguel Maya, entrou com o pé direito.

2. O segundo sinal, na CGD – Durante anos, a CGD dava prejuízos, o Estado metia dinheiro na Caixa e o erário público pagava a factura. Agora, tudo mudou: a CGD regressou aos lucros; em 2019 já vai entregar dividendos ao Estado ( o que não sucede desde 2010); e, desta forma, vai ajudar o erário público.

3. O terceiro sinal, os testes de stress na Banca – Até há pouco tempo, os testes de sress na Banca eram um drama para os bancos portuguese­s. Agora, o drama passou para outros países e para outras geografias. Os bancos portuguese­s passam bem nos testes de stress. Ou seja: os nossos bancos ainda têm problemas, sobretudo de rentabilid­ade, mas estão sólidos e a evoluir na direcção certa. 1. Segundo a Comissão Europeia, Portugal em 2018 vai ter um cresciment­o económico inferior ao projectado pelo Governo (1,8% de previsão da Comissão contra 2,2% do Governo). Em consequênc­ia, a Comissão prevê que o défice previsto pelo Governo (0,2%) vai ser três vezes superior (0,6%).

2. O que dizer destas previsões? Duas coisas:

a) Primeiro: em matéria de cresciment­o da economia, a Comissão Europeia provavelme­nte tem razão. A economia europeia está a arrefecer. Logo, o cresciment­o da economia portuguesa também está a desacelera­r.

b) Segundo: quanto ao défice, a Comissão Europeia vai falhar na sua previsão. Porquê? Porque Mário Centeno lhe troca as voltas. Faz mais cativações e atinge o défice 0 em

2019. Esta é a grande arma “secreta” de Centeno.

3. Em conclusão, o mais provável é termos em 2019:

• Menos cresciment­o da economia;

Mais cativações; Menos investimen­to público que o projectado; Um défice 0% do PIB,

• porque o Ministro das Finanças quer ficar na história como o Senhor Défice Zero.

1. Primeiro, é muito mau e muito feio para José Silvano e para Emília Cerqueira. Digam o que disserem, a sensação que fica é que estão a faltar à verdade. Até porque andaram toda a semana a mudar de narrativa. Cada dia havia uma nova versão e uma nova “mentirinha”.

• A ideia verdadeira que passa para as pessoas é esta: José Silvano não estava na AR;

Emília Cerqueira registou consciente­mente a sua presença; agora que foram descoberto­s contam uma história da carochinha. Assim, Silvano agarra-se ao lugar de Secretário- Geral; Emília Cerqueira, em recompensa, ganha o lugar de deputada na próxima eleição.

Ora, tudo podia ter sido resolvido com decência se um e outro tivessem tido a humildade de reconhecer o erro e de pedir desculpa. Assim, ficam ambos mal na fotografia. •

2. Segundo, é muito mau para o Parlamento e para a imagem dos deputados. Como em Portugal a tentação é para tudo generaliza­r, este infeliz episódio é, na prática, mais um “prego no caixão” da credibilid­ade parlamenta­r.

3. Finalmente, é muito mau para Rui Rio, que desvaloriz­ou o caso, tendo considerad­o que era uma mera questiúncu­la. Rio não percebe três coisas:

• Primeiro, que estes casos têm um impacto brutal na opinião pública. Um político que os desvaloriz­a é um político divorciado do sentimento da sociedade.

Segundo, que quem, como Rui Rio, prometeu um “banho de ética” não pode agora pactuar com a falta dela. O povo costuma dizer: “Pela boca morre o peixe”. Neste caso, Rio falha por ter prometido e não cumprido.

• Terceiro, Rui Rio não percebe que, pactuando com estas situações, está a dar cabo do melhor que a sua imagem tinha. Uma imagem de seriedade, de ética, de rigor, de cortar a direito. E bem podia ter evitado a graçola de falar em alemão. É um gesto de arrogância. •

Este infeliz episódio é, na prática, mais um “prego no caixão” da credibilid­ade parlamenta­r.

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