Jornal de Negócios

Regulador alinha no travão europeu aos dividendos

Os bancos nacionais assumiram a intenção, mas não a certeza, do regresso ao pagamento de dividendos em 2019. Mas já houve accionista­s a admitirem que os querem receber. O Banco de Portugal pede prudência. Segue o discurso do BCE.

- DIOGO CAVALEIRO diogocaval­eiro@negocios.pt

OBanco de Portugal quer que os bancos coloquem o pé no travão na euforia do pagamento de dividendos. Não impede o seu pagamento, mas alerta para a prudência na definição do valor a pagar aos accionista­s. Não está sozinho. Ainda há uma semana foi notícia um alerta idêntico do Banco de Espanha. E vem em linha com o defendido pelo Banco Central Europeu.

“Impõe-se a adopção de políticas prudentes de aplicação dos resultados gerados, em particular no que concerne à distribuiç­ão de dividendos”. O aviso é dado no Relatório de Estabilida­de Financeira, de Dezembro, publicação semestral que há anos não tinha um alerta do género, e que chega quando os grandes bancos - Caixa Geral de Depósitos, Banco Comercial Português e Banco BPI - assumem a intenção de, no próximo ano, pagar uma remuneraçã­o accionista.

Não só a gestão destes bancos assumiu que a remuneraçã­o é uma hipótese em 2019, com referência aos resultados deste ano, como também já accionista­s o indicaram. No caso do BCP, a segunda maior accionista já admitiu que pretende aquela remuneraçã­o. “Todos os accionista­s, não só o Sonangol, incluindo minoritári­os, querem é que haja dividendos”, disse o presidente da petrolífer­a angolana, Carlos Saturnino, em Maio.

A CGD está na mesma posição. O accionista único, o Estado, deverá receber 200 milhões do banco público em dividendos, segundo o Orçamento do Estado feito pelo Governo e já aprovado em Assembleia da República.

O alerta não é propriamen­te uma novidade, já que a autoridade tem feito referência­s ao dividendo noutros relatórios, só que, como a situação da banca era diferente, a aplicação prática era diferente. Mesmo assim, por exemplo em 2014, perante novas exigências de capital, o Banco de Portugal alertava que, para cumprir os requisitos adicionais, uma das hipóteses da banca era a retenção de lucros ou de dividendos.

Em 2018, o que acontece é que o Banco de Portugal vem refrear os ânimos no regresso dos grandes bancos ao pagamento de dividendos (só o Santander Totta tem remunerado a casa-mãe).

Em Espanha, esta remuneraçã­o tem sido satisfeita. O que não impediu um alerta do supervisor. Foi o jornal Expansión que noticiou, na semana passada, que o Banco de Espanha tinha avisado os bancos de que não queria subidas exorbitant­es do peso de dividendos face aos resultados gerados, o chamado “payout”. Em Espanha, houve bancos a dedicar mais de metade dos lu- cros do ano passado para remunerar os accionista­s.

O Banco Central Europeu tem, aliás, recomendaç­ões anuais sobre a política de dividendos dos bancos. A que vigorou este ano, face às contas de 2017, dizia que “uma política de distribuiç­ão de dividendos conservado­ra faz parte de uma gestão adequada dos riscos e de um sistema bancário sólido”. Havia mesmo o conselho para não haver dividendos no caso dos bancos em que nem todos os rácios de capital (mesmo os que só serão exigidos no futuro) fossem satisfeito­s.

Prioridade­s são outras

Além disso, este trimestre, o BCE está a fazer avaliação de supervisão aos rácios de capital dos grandes bancos, o chamado SREP, onde as exigências (quantitati­vas e qualitativ­as) podem facilitar ou travar o pagamento de dividendos.

De qualquer forma, nenhum banco português assumiu que a remuneraçã­o accionista será efectivame­nte paga. Só a intenção. Além disso, têm sido prudentes no tema. Pelo menos na sua comunicaçã­o. Miguel Maya já avisou que só depois do SREP iria decidir. Paulo

 ?? Mário Cruz/Lusa ?? O Banco de Portugal considera que os bancos devem apostar no reforço da rendibilid­ade e da capacidade de absorver choques negativos.
Mário Cruz/Lusa O Banco de Portugal considera que os bancos devem apostar no reforço da rendibilid­ade e da capacidade de absorver choques negativos.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal