Jornal de Negócios

Governo baralha acordo de concertaçã­o e irrita patrões

Em nome da conciliaçã­o, o Governo quer discutir propostas de alteração à lei laboral que não constam do acordo que ficou fechado em Maio. Patrões consideram a situação “atípica” e desrespeit­adora do entendimen­to. Vieira da Silva responde que o acordo “não

- CATARINA ALMEIDA PEREIRA catarinape­reira@negocios.pt Mário Cruz/Lusa

Em teoria, toda a gente concorda com a promoção da conciliaçã­o entre a vida profission­al, pessoal e familiar. Chegar a consensos sobre alterações às leis laborais é mais complicado. As associaçõe­s patronais acusam o Governo de estar agora a tentar somar medidas ao acordo de concertaçã­o social que ficou fechado em Maio. Vieira da Silva responde que o entendimen­to “não é rígido”.

Não se pode dizer que as medidas do programa de conciliaçã­o que foi ontem apresentad­o pela ministra da Presidênci­a, pelo ministro do Trabalho e pelo primeiro-ministro – o “3 em linha” - sejam muito ambiciosas no que toca a alterações à lei laboral. Há ideias simbólicas que o Governo escolheu aplicar apenas à administra­ção pública, como a dispensa no primeiro dia de aulas dos filhos. E grande parte das 33 medidas dependem da adesão voluntária das empresas a boas práticas, ou da negociação colectiva.

A questão complica-se quando o Governo propõe “discutir” em concertaçã­o social a possibilid­ade de os trabalhado­res que são pais e têm filhos menores de doze anos terem expressame­nte de autorizar regimes de adaptabili­dade de horários ou bancos de horas, o que significa que verão reforçada a possibilid­ade de os recusarem.

Esta ideia vem do Programa do Governo mas não entrou no acordo de concertaçã­o social de Maio e que deu origem à proposta de lei que vai agora ser debatida na especialid­ade no Parlamento. O que o acordo prevê é apenas a substitui- ção do banco de horas individual por um novo banco de horas grupal, em que uma maioria de 65% de trabalhado­res pode impor o banco de horas aos restantes 35%.

“Acho esta situação toda bastan- te atípica”, diz João Vieira Lopes, presidente da Confederaç­ão do Comércio (CCP). Quando na sextafeira a ministra da Presidênci­a esteve na reunião de concertaçã­o social não detalhou as medidas que mexem com a lei laboral, o que considera “estranho”. “Queremos ver as medidas para ver se e como é possível articular com o acordo”, acrescenta, em resposta ao Negócios.

CIP: “Mandar a Concertaçã­o Social às malvas”

Gregório Novo, dirigente da CIP, aceita o desafio para incluir medidas por contrataçã­o colectiva, e portanto sujeitas à aprovação sectorial dos patrões, mas rejeita novos limites ao banco de horas ou à adaptabili­dade estabeleci­das por lei.

“Tomarmos medidas destas fora do quadro em que a concertaçã­o social anuiu que seria feito o ajustament­o do Código do Trabalho é mandar a concertaçã­o social às malvas. Nós anuímos em que o quadro de revisão era aquele. Agora nas costas da concertaçã­o social vem-se adicionar um quadro de al- terações que nós nem sequer equacionam­os.”. Em todo o caso, o dirigente da CIP quer confiar na mensagem que garante que o Governo deixou aos parceiros: as medidas para o sector privado seriam “voluntária­s”.

Do acordo de concertaçã­o social também não consta o alargament­o da licença que as empresas têm obrigatori­amente que dar ao pai depois do nascimento do filho, de 15 para 20 dias úteis. Esta medida tinha sido apresentad­a em concertaçã­o há um ano e meio e o Governo conta que seja aprovada pelo Parlamento em 2019.

Questionad­o pelo Negócios sobre a surpresa dos patrões, Vieira da Silva responde que os acordos não são rígidos. “Os acordos não são rígidos e o Governo já tinha apresentad­o há cerca de um ano um conjunto de medidas para discussão onde estavam integrados esses objectivos”, disse o ministro do Trabalho, em declaraçõe­s aos jornalista­s, à margem da cerimónia onde o novo programa foi apresentad­o.

Sobre a proposta que prevê que os pais com filhos pequenos tenham de aprovar expressame­nte regimes de adaptabili­dade ou bancos de horas, o ministro do Trabalho responde que será discutida “nas próximas reuniões de concertaçã­o social”. “É o único ponto que eventualme­nte exigirá um debate prévio porque não foi ainda discutido com essa especifici­dade”.

O objectivo é que as alterações sejam integradas no diploma que já está no Parlamento? Ou depois? “Vamos ver. As alterações ao Código vão depender da Assembleia da República. Não está na mão do Governo determinar o momento da sua entrada em vigor. Confio que seja possível conciliar as duas dimensões. Se não for, será por sequência”, respondeu Vieira da Silva.

“Acho esta situação toda bastante atípica. Queremos ver as medidas para ver se é possível articular com o acordo. JOÃO VIEIRA LOPES Presidente da Confederaç­ão do Comércio e Serviços de Portugal

“Tomarmos medidas destas fora do quadro em que a Concertaçã­o Social anuiu (...) é mandar a Concertaçã­o às malvas. GREGÓRIO NOVO Dirigente da CIP - Confederaç­ão Empresaria­l de Portugal

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O primeiro-ministro quer discutir novas medidas com os parceiros sociais que “mexem” com o acordo assinado em Maio.

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