Jornal de Negócios

Sinais de travagem

- ANDRÉ VERÍSSIMO Director averissimo@negocios.pt

Os mercados bolsistas costumam ser bons indicadore­s avançados do rumo futuro da economia. Vale a pena prestar atenção a alguns sinais que começam a surgir, por uma questão de cautela. Há um gráfico em particular que centrou atenções esta semana: a curva de rendimento­s da dívida pública americana, que ficou parcialmen­te invertida. Esta curva mais não é que a linha desenhada pelas taxas de juro das diferentes maturidade­s, desde os títulos de mais curto prazo aos de mais longo.

O desenho “saudável” desta curva é ascendente, juros mais baixos nos prazos mais curtos que vão subindo com o alongament­o das maturidade­s. Quando assim nãoé, ocenáriop odes er bisonho.

A inversão em causa não é, felizmente, demasiado evidente. Apenas a taxa dos três anos passou a ser superior à dos cinco, o que não acontecia desde 2008. O que isto nos diz é que os investidor­es acham mais arriscado emprestar a três do que a cinco anos, ao contrário do que seria normal, porque vêem algumas nuvens negras no horizonte.

Há outros sinais. A fortíssima correcção nos preços do petróleo, que além de toda a geopolític­a e dos xistos betuminoso­s do Texas, reflecte a perspectiv­a de uma menor procura. Temos também a queda das bolsas dos mercados desenvolvi­dos e emergentes. Em 94 praças de todo o mundo, só 22 valorizam este ano.

Segundo a americana Ned Davies Research, as oito principais classes de activos deverão terminar 2018 no vermelho ou com ganhos inferiores a 5%, o que não acontece desde 1972, era Richard Nixon o Presidente dos EUA.

O que temem os investidor­es? Nimbostrat­us de juros mais altos e lucros mais baixos e Cumulonimb­us de abrandamen­to económico ou algo pior.

Não é apenas o sentimento dos investidor­es, o dos agentes económicos também se está a deteriorar. O muito seguido PMI (inquérito aos gestores de compras) recuou na Zona Euro para o nível mais baixo em dois anos, sugerindo uma nova quebra no ritmo de cresciment­o. Itália, a terceira maior economia do bloco, deverá contrair pelo segundo trimestre consecutiv­o, entrando em recessão. O indicador do Banco de Portugal que mede o estado corrente da actividade económica também está em mínimos de dois anos.

Tudo istoécontr­aditó rio comas previsões que continua maser genericame­nte benignas para a economia mundial por parte da OCDE ou do FMI, mesmo estas apontando já para um aligeira travagem. Ainda esta terça-feira o presidente da Reserva Federal de Nova Iorque afirmava que a economia americana está forte. O optimismo também está em alta nos “outlooks” dos bancos de investimen­to.

Pode ser apenas mais uma manifestaç­ão da tendência dos investidor­es para o exagero e tudo não passar de uma saudável correcção. Mas também pode ser fumo e haver fogo. Se o incêndio pega ou não, vai depender da arte dos bancos centrais e do bom senso dos líderes mundiais.

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