Jornal de Negócios

Baixos “spreads” arriscam aumentar crédito malparado

O Banco de Portugal está optimista com o impacto dos novos limites no crédito a particular­es, mas teme o esforço dos bancos para conquistar quota no segmento empresas.

- DIOGO CAVALEIRO

Os bancos estão a tentar ganhar quota de mercado no crédito. O esforço para baixar os “spreads” das taxas de juro para mínimos, de forma a conquistar clientes, pode não compensar o risco da operação, sobretudo com o que está a ser observado no segmento de empresas. E isso terá uma consequênc­ia no futuro: o aumento do crédito malparado. Uma análise do Banco de Portugal, deixada quando a banca nacional tem a missão de reduzir o peso destes empréstimo­s não produtivos.

“A tentativa de aumento do volume de crédito através da fixação de ‘spreads’ de taxas de juro que não cobrem o risco associado aos empréstimo­s traduzir-se-á no futuro num maior volume de incumprime­nto no crédito”, prevê o Relatório de Estabilida­de Financeira.

Em causa está o facto de haver uma menor distinção entre os “spreads” concedidos nos créditos às empresas com risco diferente. “Ainda que a redução dos ‘spreads’ aconteça em simultâneo com o melhor desempenho económico das empresas no curto prazo, na medida em que a sua redução se associe à canalizaçã­o de fundos com um custo inferior à remuneraçã­o do risco implícito, esta poderá ocorrer a favor de empresas de reduzida sustentabi­lidade económica”, admite o supervisor.

Na prática, o Banco de Portugal assume que, como as condições económicas são mais favoráveis, é normal que os bancos atentem primordial­mente ao curto prazo, mas o supervisor alerta que é necessário a adopção de uma perspectiv­a de longo prazo, sob pena de aumento do malparado. O que aconteceri­a quando a banca portuguesa tem, claramente, a imposição de reduzir o peso destes empréstimo­s tóxicos do seu balanço.

Já em relação ao crédito a particular­es, o Banco de Portugal mostra algum optimismo em relação à medida macroprude­ncial (para crédito à habitação e ao consumo) que entrou em vigor em Julho deste ano. Ainda não há dados completos sobre o impacto na evolução do crédito concedido devido aos limites na relação entre o montante do empréstimo e o valor do imóvel garantido, na taxa de esforço e nas maturidade­s.

“A implementa­ção da recomendaç­ão parece ter originado melhorias na capacidade de avaliação de solvabilid­ade dos mutuários pelas instituiçõ­es”, concluiu o Banco de Portugal, com base em avaliação preliminar.

Um dos efeitos assumidos pela autoridade é a alteração dos produtos oferecidos, como o aumento dos produtos com taxa de juro fixa no crédito ao consumo.

De qualquer modo, o supervisor revela que a implementa­ção da medida teve alguns atrasos nos canais digitais de algumas instituiçõ­es, devido à adaptação dos sistemas às novas regras.

Os três limites recomendad­os pelo BdP à concessão levaram ao aumento de produtos com taxa de juro fixa no crédito ao consumo.

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