Baixos “spreads” arriscam aumentar crédito malparado
O Banco de Portugal está optimista com o impacto dos novos limites no crédito a particulares, mas teme o esforço dos bancos para conquistar quota no segmento empresas.
Os bancos estão a tentar ganhar quota de mercado no crédito. O esforço para baixar os “spreads” das taxas de juro para mínimos, de forma a conquistar clientes, pode não compensar o risco da operação, sobretudo com o que está a ser observado no segmento de empresas. E isso terá uma consequência no futuro: o aumento do crédito malparado. Uma análise do Banco de Portugal, deixada quando a banca nacional tem a missão de reduzir o peso destes empréstimos não produtivos.
“A tentativa de aumento do volume de crédito através da fixação de ‘spreads’ de taxas de juro que não cobrem o risco associado aos empréstimos traduzir-se-á no futuro num maior volume de incumprimento no crédito”, prevê o Relatório de Estabilidade Financeira.
Em causa está o facto de haver uma menor distinção entre os “spreads” concedidos nos créditos às empresas com risco diferente. “Ainda que a redução dos ‘spreads’ aconteça em simultâneo com o melhor desempenho económico das empresas no curto prazo, na medida em que a sua redução se associe à canalização de fundos com um custo inferior à remuneração do risco implícito, esta poderá ocorrer a favor de empresas de reduzida sustentabilidade económica”, admite o supervisor.
Na prática, o Banco de Portugal assume que, como as condições económicas são mais favoráveis, é normal que os bancos atentem primordialmente ao curto prazo, mas o supervisor alerta que é necessário a adopção de uma perspectiva de longo prazo, sob pena de aumento do malparado. O que aconteceria quando a banca portuguesa tem, claramente, a imposição de reduzir o peso destes empréstimos tóxicos do seu balanço.
Já em relação ao crédito a particulares, o Banco de Portugal mostra algum optimismo em relação à medida macroprudencial (para crédito à habitação e ao consumo) que entrou em vigor em Julho deste ano. Ainda não há dados completos sobre o impacto na evolução do crédito concedido devido aos limites na relação entre o montante do empréstimo e o valor do imóvel garantido, na taxa de esforço e nas maturidades.
“A implementação da recomendação parece ter originado melhorias na capacidade de avaliação de solvabilidade dos mutuários pelas instituições”, concluiu o Banco de Portugal, com base em avaliação preliminar.
Um dos efeitos assumidos pela autoridade é a alteração dos produtos oferecidos, como o aumento dos produtos com taxa de juro fixa no crédito ao consumo.
De qualquer modo, o supervisor revela que a implementação da medida teve alguns atrasos nos canais digitais de algumas instituições, devido à adaptação dos sistemas às novas regras.
Os três limites recomendados pelo BdP à concessão levaram ao aumento de produtos com taxa de juro fixa no crédito ao consumo.