O poder da OPEP já não é o mesmo. Mas ainda existe e tem peso
A OPEP celebrou o seu 58.º aniversário no passado dia 14 de Setembro. O seu poderio de então já não é o mesmo dos dias de hoje. Mas o cartel, que fornece cerca 40% do petróleo mundial, ainda tem bastante peso.
A 14 de Setembro de 1960, cinco grandes produtores de crude – Arábia Saudita, Irão, Iraque, Koweit e Venezuela – criavam a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) ao fim de quatro dias de intensas reuniões. Este cartel foi constituído emreacção ao cartel das grandes petrolíferas ocidentais, as chamadas “Sete Irmãs”, composto pela Standard Oil de Nova Jérsia (mais tarde Exxon e actual ExxonMobil), Standard Oil de Nova Iorque (mais tarde Mobile actual ExxonMobil ), Standard Oil da Califórnia (actual Chevron), Royal Dutch Shell, Gulf Oil, Texaco e Anglo Persian Oil Company (actual BP).
Aorganização tem-se regido por três grandes objectivos: o aumento das receitas dos países-membros, o incremento gradual do controlo sobre a produção de petróleo e a uniformização das políticas de produção, segundo a Cartada OPEP adoptada em 1961.
O cartel desempenhou um papel de grande peso nas décadas de 70 e 80, ditando a tendência dos preços, muito especialmente durante os dois choques petrolíferos: em 1973-74 e em 1979-80. Actualmente, está longe da sua idade de ouro, mas continuaaser umadas principais referências do mercado, até porque é responsável pelo fornecimento de cerca de 40% do petróleo mundial e controla perto de dois terços das reservas mundiais de “ouro negro”.
O facto de não estar agora aconseguir travar a queda dos preços prende-se muito mais como contexto de desaceleração económica global, que diminui o poder de compra dos consumidores, do que com falta de capacidade de mexer com os preços através das suas políticas de produção. Além do mais, há outros factores, como o Presidente americano. Donald Trump tem tido grande influência no sentimento dos investidores e na evolução dos mercados.
Mas, em última instância, se a OPEP (e os seus 11 parceiros de relevo no domínio da produção de petróleo, que têm acertado com o cartel os cortes de ofertano mercado nos últimos dois anos) decidir fechar um pouco mais atorneira, os preços tenderão asubir– se tudo o resto se mantiver. Aliás, os analistas do Goldman Sachs prevêem um aumento dos preços do crude em2019 – mas muito longe dos “tempos áureos” dos máximos históricos atingidos no Verão quente de 2008.
Jáem finais de 2008 aorganização tinhadecidido reduzir asuaoferta global (em 4,1 milhões de barris diários), depois de ver o crude aafundar dos meteóricos máximos históricos, acimados 147 dólares por barril, paramenos de 40 dólares – e, uma vez que aestratégia tem funcionado, não vai querer arrisca ruma nova mudança de paradigma.
Antes disso, em 2000, tinha adoptado uma política de banda de preços entre os 22 e os 28 dólares por barril, decidindo aumentar aprodução se as cotações superassem o tecto superior e reduzindo-a se os preços quebrassem o patamar inferior desse intervalo. Em 2005, a OPEP deixou de aplicar esse sistema, mas vai-se pronunciando sobre preços-alvo desejáveis.
Mas uma coisa é certa: actualmente, o cartel pode reduzir a sua oferta, mas é preciso que os membros cumpramas quotas de produção que lhes são fixadas – pois se continuarem a prevaricar, de pouco serve. Os últimos dados revelaram que a produção de crude dos membros da OPEP aumentou em 127 mil barris por dia em Outubro, para 32,9 milhões de barris diários. Ora, a quota de produção da OPEP, um mecanismo auto imposto concebido para impulsionar os preços, está estabelecida desde Setembro nos 32,5 milhões de barris por dia.
Actualmente, a OPEP é constituída por 15 membros: Arábia Saudita, Argélia, Emirados Árabes Unidos, Iraque, Irão, Koweit, Líbia, Nigéria, Qatar, Venezuela, Equador, Angola, Gabão, Guiné Equatorial (aderiu em 2017) e Congo (entrou em 2018).
O Equador tinha entrado em 1973, saiu em 1992 e reentrou em 2007, aquando daentradade Angola. Por seu lado, o Gabão fez parte da OPEP apartir de 1975, deixando depois o cartel em 1995 e regressando em Julho de 2016. Entretanto, a Indonésiasaiu em Janeiro de 2009, regressou em Janeiro de 2016 e no final desse ano voltou a suspender a sua participação. Já o Qatar sai no próximo ano.
Os produtores de crude que não fazem parte da OPEP mas que se aliaram ao cartel nos esforços conjuntos de concertação daofertamundial são 10: Rússia, Azerbeijão, Bahrein, Brunei, Cazaquistão, Malásia, México, Omã, Sudão e Sudão do Sul. Começaram por ser 11, mas a Guiné Equatorial entretanto passou afazer parte da OPEP.
Resta agora saber quem terá mais forçano braço-de-ferro do sobe e desce daoferta de crude no mercado: se aOPEP, umcartel outroratão poderoso que levou a dois choques petrolíferos, ou se Trump, que com um tweet inflamaos mercados e que tem insistido numa maior descida das cotações da matéria-prima.
A OPEP está agora longe da sua idade de ouro, mas continua a ser uma referência.