Jornal de Negócios

Chutar dívida para as próximas gerações

- CAMILO LOURENÇO Jornalista de economia camilolour­enco@gmail.com

O Tesouro português “atirou” para 2023 e 2027 responsabi­lidades relativas a 1,9 mil milhões de euros de dívida que se vencia em 2019. A troca de dívida (é disso que se trata) faz sentido. É uma forma de o Estado alisar pagamentos que nos próximos anos vão atingir valores elevados: em 2019 as necessidad­es brutas de financiame­nto do Estado ascendem a 18,9 mil milhões de euros e em 2020 chegam a 20,9 mil milhões.

A política do IGCP está correta e não vem deste Governo: é uma forma de evitar “picos” de pagamentos. Mas merece reparos se se abusar dela porque a troca de dí- vida atira responsabi­lidades para as próximas gerações.

O que é que isto significa? Que o país tem de apostar na amortizaçã­o rápida de dívida, ainda que isso implique sacrifício­s para a geração atual. Mas para amortizar dívida é preciso que o Estado crie poupança. Ou seja, que não esbanje tudo em devoluções rápidas de rendimento­s.

Não tem sido essa a orientação deste Governo, que tem privilegia­do a devolução de rendimento­s em detrimento do aforro que permitiria a amortizaçã­o antecipada da dívida em circulação. Ainda há duas se- manas, a Comissão Europeia lembrava ao Governo que os dividendos do Banco de Portugal e da Caixa Geral de Depósitos deviam servir para amortizar dívida e não para financiar mais despesa do Estado (que é o que o Governo está a fazer, cortejando certas corporaçõe­s).

Chutar o pagamento de dívida para o futuro tem dois problemas: atrasaared­ução do elevado stock de dívida da República e atira para gerações futuras as responsabi­lidades que o Estado assumiu. E isso não é justo. Artigo em conformida­de com o novo Acordo Ortográfic­o

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