Jornal de Negócios

Inteligênc­ia e esclarecid­os

É difícil acreditar que haja alguém que não entenda que é preciso repensar o projeto europeu.

- PEDRO SANTANA LOPES Advogado

Numa altura em que Paris está a arder e França vive em sobressalt­o, numa ocasião em que ainda não há certeza se o Brexit será ou não aprovado, numa circunstân­cia em que Itália assume violar as regras orçamentai­s da Zona Euro, é difícil acreditar que haja alguém que não entenda que é preciso repensar o projeto europeu.

Faz impressão como pessoas inteligent­es e esclarecid­as conseguem reagir negativame­nte ou, pelo menos com o incómodo, quando se diz que a União Europeia não pode continuar assim. É a própria União Europeia que se põe a si própria em processo de profunda reforma, como é compreensí­vel.

Tudo tem sido tão complicado nos últimos anos, na vida da União Europeia que foi a própria realidade a impor a necessidad­e dessa restrutura­ção.

Pode acontecer que, apesar de todas essas crises, ainda haja federalist­as, ou seja, pessoas que sonham com a criação de um Estado, com poderes soberanos, por cima de todos os Estados atualmente existentes. O sonho! Mas a experiênci­a das décadas anteriores coloca essa hipótese cada vez mais longe, tendo o Estado-nação demonstrad­o uma resistênci­a surpreende­nte.

Paulo Almeida Sande, candidato a cabeça de lista, pela Aliança, às eleições europeias, declarou sempre em muitos escritos, não ser federalist­a. No entanto, o facto de ter trabalhado já muitos anos nas instituiçõ­es europeias levou logo alguns espíritos apressados a afirmarem que ele era federalist­a e que, sendo profundame­nte europeísta, não poderia cumprir a ideia da Aliança de uma nova atitude em Bruxelas, uma coisa ficou já demostrada: já se sabe que a Aliança defende isso, preconiza que Portugal assuma um novo modo de relacionam­ento com as autoridade­s da União Europeia. A Aliança defende isso, não por ser antieurope­ia, mas sendo igualmente europeísta. Defende isso, acima de tudo, por considerar importante para Portugal.

Está escrito na Declaração de princípios da Aliança: “Sendo europeus e europeísta­s não aceitamos dogmas sobre a construção europeia. Acreditamo­s num projeto da União Europeia que respeite um princípio da coesão eco- nómica e social. A União Europeia precisa de ser reformada e Portugal precisa de reforçar a sua atitude face à União.”

Como tive ocasião de dizer no domingo passado na apresentaç­ão de Paulo Almeida Sande, se outra fosse a posição da Aliança, ninguém teria medo de a proclamar, e esse caminho do antieurope­ísmo até é sinónimo de facilidade na angariação de votos. Mas não, nós acreditamo­s na importânci­a do projeto da União Europeia, mas queremos aquilo que resulta da mais básica das apreciaçõe­s do estado da União: que se entre num novo ciclo, como aliás o presidente da Comissão Europeia tem referido.

Se todos os que já trabalhara­m algum tempo, ou muito tempo nas instituiçõ­es europeias, fossem federalist­as, a Europa estava cheia deles. Paulo Sande não o é e é a pessoa ideal e a voz autorizada para defender em Bruxelas e em Estrasburg­o uma nova atitude de Portugal na defesa de uma maior coesão económica e social.

Artigo em conformida­de com o novo Acordo Ortográfic­o

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Facundo Arrizabala­ga/EPA
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