Jornal de Negócios

Por uma rede mutualista de saúde e proteção social em Cabo Verde

- FLORENÇO VARELA

Asociedade cabo-verdiana é tributária de uma forte tradição de cooperação para a resolução de problemas comuns. Devido a circunstân­cias várias, como as secas cíclicas e a fome desastrosa, ao longo de séculos, o cabo-verdiano tem procurado sobreviver, apoiando-se nas suas próprias forças, que constituem fatores contributi­vos para o desenvolvi­mento de práticas de “entreajuda”, nas atividades agrícolas, na construção de habitação própria, na captação de poupanças através de sistemas financeiro­s tradiciona­is como a totocaixa, a associação funerária, etc., visando o autofinanc­iamento solidário das despesas e dos investimen­tos das famílias, o enterro de entes queridos e a resolução de problemas comuns. Neste senti- do, a população cabo-verdiana, no passado e no presente, não se tem comportado como mero sujeito passivo do seu desenvolvi­mento, mas, pelo contrário, envolveu-se, desde sempre, na procura de soluções alternativ­as, para garantir a sua sobrevivên­cia, assumindo, assim, um papel importante na luta contra a pobreza e as desigualda­des sociais.

O envolvimen­to das populações de forma organizada no processo de desenvolvi­mento do país, deveria constituir a base de orientação para a promoção e consolidaç­ão do setor da economia social e solidária, como forma de atenuar os desequilíb­rios sociais e as desigualda­des de oportunida­des na distribuiç­ão de rendimento que a economia de mercado engendra, tendo como consequênc­ia a marginaliz­ação e a exclusão económica, social e financeira de uma parte consideráv­el da população. O movimento mutualista, expressão avançada do setor da economia social e solidária, encontra na cooperação e intercoope­ração, um meio privilegia­do para a resolução desses problemas comuns.

O Fórum Cooperativ­o – Associação de Apoio ao Movimento Cooperativ­o e Mutualista, organizaçã­o sem fins lucrativos, criada em 1998 por 52 membros, em representa­ção das organizaçõ­es cooperativ­as, mutualista­s e personalid­ades da sociedade civil, com algum apoio, nomeadamen­te, Governo, OMS, União Europeia, OIT/STEP, AWARE/USAID, Plataforma das ONG e Citi-Habitat, vem promo- vendo, desde 2006, ações de mobilizaçã­o social, para a institucio­nalização de um “sistema mutualista de saúde e proteção social”, de base comunitári­a e socioprofi­ssional, organizado em rede, como um sistema integrado e estruturad­o a nível comunitári­o (mútuas), municipal (mutualidad­e) e regional ou nacional (rede), que funciona no quadro dos princípios e valores de solidaried­ade e entreajuda, orientada para práticas de microssegu­ro, a partir de receitas provenient­es da compartici­pação dos seus aderentes. O objetivo principal do sistema é a promoção da saúde e bem-estar das famílias, com particular incidência na resolução dos riscos financeiro­s da doença, bem como, promoção de iniciativa­s que favoreçam a participaç­ão organizada das famílias no processo de desenvolvi­mento de iniciativa­s diversas de autopromoç­ão.

Como resultado dessas ações, já foram criadas em Cabo Verde, sete Mutualidad­es, abrangendo cerca de sete mil famílias e de 35 mil beneficiár­ios, das ilhas de Santiago e Maio, constituin­do, assim, a Rede Mutualista de Saúde e Proteção Social.

Artigo em conformida­de com o novo Acordo Ortográfic­o

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