Jornal de Negócios

OPEP quer cortar produção. E a Rússia?

Os membros da organizaçã­o deverão hoje anunciar a sua intenção de voltar a reduzir a produção para puxar pelas cotações do petróleo. O grande desafio é convencer a Rússia a alinhar com esta estratégia, decisão que será conhecida na sexta.

- PATRÍCIA ABREU pabreu@negocios.pt Adnan Abidi/Reuters

Aqueda a pique das cotações do petróleo nas últimas semanas deverá dar o mote para o anúncio de um novo corte de produção concertado por parte da Organizaçã­o dos Países Exportador­es de Petróleo (OPEP), esta quinta-feira. Ainda assim, o cartel quer manter a Rússia neste acordo, o que poderá não ser fácil.

Os membros da OPEP deverão aprovar na reunião de hoje um corte de produção. Segundo a Reuters, que cita quatro fontes da organizaçã­o e dos seus aliados, o valor do corte que estará a ser negociado situa-se nos 1,3 milhões de barris. Esta decisão já tinha sido deixada em aberto em Novembro, após as indicações deixadas na reunião do Comité Ministeria­l Conjunto de Acompanham­ento do acordo de redução da produção petrolífer­a dos países da OPEP e não OPEP, tendo a Arábia Saudita adiantado que iria avançar com um corte de 500 mil barris já este mês.

Ainda que a maioria dos membros do cartel estejam de acordo quanto aos cortes, convencer a Rússia a regressar aos cortes poderá não ser fácil. O presidente da Rússia, Vladimir Putin, adiantou recentemen­te que o nível actual do petróleo [em mínimos de um ano] está “perfeitame­nte bem”. E, ainda que a Arábia Saudita defenda uma redução da oferta, é improvável um acordo sem o apoio dos russos.

“A Rússia precisa de estar envolvida num corte, mas apenas precisa que as cotações do petróleo estejam nos 43 dólares por barril para equilibrar o seu orçamento de 2019”, explica Ole Hansen. Por ou- tro lado, o analista do Saxo Bank lembra que os sauditas terão ainda de gerir as relações com os EUA, depois do escândalo que envolveu a morte de um jornalista do país na Turquia. E a pressão de Donald Trump tem sido elevada.

Na véspera da reunião do grupo OPEP+, o Presidente dos Estados Unidos escreveu no Twitter que o mundo “não quer ver, nem precisa, de preços do petróleo mais altos”. “[A Arábia Saudita] enfrenta um dilema porque o Presidente Trump “gosta de preços de petróleo baixos” e o Reino está dependente da sua boa vontade por causa do caso Khashoggi”, acrescenta

o Commerzban­k numa nota.

Pressão nos preços

Apesar da pressão por parte dos EUA para manter a produção actual, a saída deste encontro sem um acordo pode intensific­ar a tendência de quedas das cotações. Para Ole Hansen, “qualquer coisa que não seja um corte substancia­l acima de um milhão de barris por dia arrisca atirar o petróleo para níveis bem mais baixos”. O Saxo Bank espera, assim, “um corte grande o suficiente para parar a queda e enviar o petróleo de volta para os 70 dólares antes do final do ano”.

A matéria-prima afunda mais de 15% no último mês, a negociar abaixo dos 62 dólares por barril no mercado londrino, mínimos de Fevereiro. A queda do petróleo tem sido motivada sobretudo pela perspectiv­a de aumento da oferta e redução da procura, num contexto de produção recorde nos EUA e abrandamen­to da economia global. A Agência Internacio­nal de Energia prevê, num relatório, uma redução na procura de petróleo por parte dos países fora da OCDE. Caso não haja acordo por parte da OPEP, as cotações do “ouro negro” podem baixar até aos 50 dólares, antecipa Hansen.

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O ministro saudita da Energia, Khalid Al-Falih, adiantou que a Arábia Saudita vai cortar em 500 mil barris por dia a sua produção.

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