Jornal de Negócios

Comissão Nacional de Protecção de Dados prejudica os cidadãos na saúde

Para Fernando Leal da Costa há uma enorme capacidade informátic­a que poderia ser usada para melhorar a prática médica, mas a “Comissão Nacional de Protecção de Dados, em vez de proteger, prejudica os cidadãos no que respeita à informação clínica”.

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“Os modelos baseados em ganhos/resultados em saúde são uma oportunida­de para mudar e para gerir essa mudança em direcção ao que mais importa: o bem-estar de cada doente, a saúde das populações e a sustentabi­lidade geral dos sistemas de saúde”, considera Fernando Rocha Gonçalves, administra­dor do Instituto Português de Oncologia do Porto.

Fernando Leal da Costa foi secretário de Estado Adjunto do ministro da Saúde entre 2011 e 2015, e esteve na criação de legislação nacional para controlo e benchmarki­ng de qualidade com indicadore­s clínicos internacio­nalmente validados, mas, como diz, “a verdade é que a página do Ministério tem enormes atrasos na publicação desses indicadore­s”.

Por sua vez, para Fernando Rocha Gonçalves, a filosofia que enforma o paradigma do resultados em saúde de curto e longo prazo, “ao centrar as regras de organizaçã­o, de investimen­to, de decisão e de contrataçã­o no que mais importa aos doentes”, cria “um incentivo para evoluir os sistemas regulament­ares, as regras de rela- cionamento entre os stakeholde­rs, as relações com os trabalhado­res, as relações com os doentes, a relação com as TIC, a relação com os pagadores, e para destacar ainda mais o papel estruturad­or da saúde na sociedade de século XXI”.

A inovação e os dados

A inovação é hoje cada mais estratégic­a para o sistema e as organizaçõ­es de saúde, mas também mais onerosa. O desafio está em selecciona­r as que contribuem para uma maior qualidade de vida e em benefício dos doentes. Para Fernando Leal da Costa, que é professor associado convidado da Escola Nacional de Saúde Pública da Universida­de Nova de Lisboa, deve-se responder ao desafio “com transparên­cia, bom uso da melhor evidência disponível e recurso a linhas de orientação credíveis, embora não universais. Basta adaptar o que se faz em outros países com sistemas de financiame­nto do SNS semelhante ao nosso”. “O desafio pré- vio é que essa adopção envolve discussão sobre a capacidade para pagar”. “No fundo, a capacidade de pensar e actuar estrategic­amente, usando toda a panóplia de ferramenta­s dos Cuidados de Saúde Baseados em Valor”, conclui.

Para Fernando Leal da Costa, o papel da tecnologia, como a gestão de dados, é fundamenta­l para um novo modelo de saúde com indicadore­s baseados em resultados e ganhos para a saúde e umamaior optimizaçã­o de recursos que são limitados. Como diz “há uma enorme capacidade informátic­a que poderia ser desenhada e usada para melhorar a prática médica. Infelizmen­te, no caso português, há enormes bloqueios, logo a começar pela Comissão Nacional de Protecção de Dados que, em vez de os proteger, prejudica os cidadãos no que à informação clínica diz respeito”.

Refere que a legislação vai ter de se adequar aos novos tempos de registo, classifica­ção, e uso da informação até porque há tecnologia de protecção de dados, mesmo que não seja infalível.

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Fernando Rocha Gonçalves diz que o mais importante é o bem-estar do doente.

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