Analistas avisam que turbulência nas bolsas está para ficar
A notícia de que os EUA mandaram prender a responsável financeira da Huawei acelerou a especulação de que as relações entre os EUA e a China podem voltar a piorar, atirando o índice europeu Stoxx 600 para a pior sessão desde o Brexit.
Atrégua entre Donald Trump e Xi Jinping devolveu algum optimismo aos investidores. Mas a detenção da CFO da Huawei reavivou os receios em torno das tensões comerciais entre a China e os EUA, o que acelerou um novo “sell-off” nas bolsas mundiais. O índice europeu afundou para mínimos de dois anos e os analistas acreditam que os investidores vão continuar sensíveis à divulgação de notícias, o que pode levar a novos picos de volatilidade.
Depois de alguns dias de alívio, com o “cessar-fogo” entre os EUAe a China na guerra comercial, as quedas voltaram em força aos mercados. O europeu Stoxx 600 desceu 3,09%, naquela que foi a pior sessão desde o Brexit e levou o índice para mínimos de Dezembro de 2016. Nos EUA, o dia também foi de descidas, com o S&P 500 a baixar mais de 2%. Já o português PSI-20 caiu 2,1%. A pressionar a negociação esteve essencialmente a notícia de que a CFO da Huawei, Wanzhou Meng, foi detida no Canadá por ordem dos EUA.
“Qualquer notícia (guerra comercial, Brexit, Itália) é interpretada como negativa”, sintetiza Guillermo Hernandez Sampere. Para o responsável pelo “trading” da Manfred Piontke Portfolio Management, a política domina “o sentimento negativo” nos mercados, num momento que qualifica como uma encruzilhada. Até Setembro, o Stoxx 600 viu evaporar 1,4 biliões de dólares em valor de mercado, pressionado pelos receios em torno das tarifas,
A detenção da CFO da Huawei a mando dos EUA acelerou uma onda de vendas generalizadas nas bolsas.
dos riscos geopolíticos e da subida das taxas de juro nos EUA.
Curva de rendimentos e VIX preocupam
Os últimos dias foram ainda acompanhados por um aumento das preocupações em relação à economia americana, devido à inversão da curva dos rendimentos nos EUA. Ou seja, as taxas de juro de curto prazo negociaram acima da “yield” de longo prazo. A taxa da dívida norte-americana a dois anos seguia esta quinta-feira a negociar nos 2,744%, acima dos 2,731% da linha a cinco anos. Este movimento é um indicador de que poderá estar a aproximar-se uma recessão na maior economia do mundo e tem, por isso, gerado apreensão entre os investidores.
Além da inversão da curva de rendimentos nos EUA, a instabilidade nos mercados tem-se reflectido numa escalada do índice que mede a volatilidade. O VIX negoceia em máximos de final de Outubro, com os investidores mais nervosos em relação aos activos de risco. Para Guillermo Hernandez Sampere, a escalada do VIX pode alimentar outros “sell-off”, sobretudo num momento em que os bancos centrais mundiais estão a começar a retirar os seus estímulos.
“Será exigida paciência na medida em que os mercados foram suportados pelos bancos centrais nos últimos anos”, remata o especialista. E fazer dinheiro nos mercados não será fácil. Segundo a Ned Davis Research nenhuma classe de activos deverá registar um retorno anual superior a 5%, um fenómeno observado pela última vez em 1972.