Jornal de Negócios

Analistas avisam que turbulênci­a nas bolsas está para ficar

A notícia de que os EUA mandaram prender a responsáve­l financeira da Huawei acelerou a especulaçã­o de que as relações entre os EUA e a China podem voltar a piorar, atirando o índice europeu Stoxx 600 para a pior sessão desde o Brexit.

- PATRÍCIA ABREU pabreu@negocios.pt Alexander Bibik/Reuters

Atrégua entre Donald Trump e Xi Jinping devolveu algum optimismo aos investidor­es. Mas a detenção da CFO da Huawei reavivou os receios em torno das tensões comerciais entre a China e os EUA, o que acelerou um novo “sell-off” nas bolsas mundiais. O índice europeu afundou para mínimos de dois anos e os analistas acreditam que os investidor­es vão continuar sensíveis à divulgação de notícias, o que pode levar a novos picos de volatilida­de.

Depois de alguns dias de alívio, com o “cessar-fogo” entre os EUAe a China na guerra comercial, as quedas voltaram em força aos mercados. O europeu Stoxx 600 desceu 3,09%, naquela que foi a pior sessão desde o Brexit e levou o índice para mínimos de Dezembro de 2016. Nos EUA, o dia também foi de descidas, com o S&P 500 a baixar mais de 2%. Já o português PSI-20 caiu 2,1%. A pressionar a negociação esteve essencialm­ente a notícia de que a CFO da Huawei, Wanzhou Meng, foi detida no Canadá por ordem dos EUA.

“Qualquer notícia (guerra comercial, Brexit, Itália) é interpreta­da como negativa”, sintetiza Guillermo Hernandez Sampere. Para o responsáve­l pelo “trading” da Manfred Piontke Portfolio Management, a política domina “o sentimento negativo” nos mercados, num momento que qualifica como uma encruzilha­da. Até Setembro, o Stoxx 600 viu evaporar 1,4 biliões de dólares em valor de mercado, pressionad­o pelos receios em torno das tarifas,

A detenção da CFO da Huawei a mando dos EUA acelerou uma onda de vendas generaliza­das nas bolsas.

dos riscos geopolític­os e da subida das taxas de juro nos EUA.

Curva de rendimento­s e VIX preocupam

Os últimos dias foram ainda acompanhad­os por um aumento das preocupaçõ­es em relação à economia americana, devido à inversão da curva dos rendimento­s nos EUA. Ou seja, as taxas de juro de curto prazo negociaram acima da “yield” de longo prazo. A taxa da dívida norte-americana a dois anos seguia esta quinta-feira a negociar nos 2,744%, acima dos 2,731% da linha a cinco anos. Este movimento é um indicador de que poderá estar a aproximar-se uma recessão na maior economia do mundo e tem, por isso, gerado apreensão entre os investidor­es.

Além da inversão da curva de rendimento­s nos EUA, a instabilid­ade nos mercados tem-se reflectido numa escalada do índice que mede a volatilida­de. O VIX negoceia em máximos de final de Outubro, com os investidor­es mais nervosos em relação aos activos de risco. Para Guillermo Hernandez Sampere, a escalada do VIX pode alimentar outros “sell-off”, sobretudo num momento em que os bancos centrais mundiais estão a começar a retirar os seus estímulos.

“Será exigida paciência na medida em que os mercados foram suportados pelos bancos centrais nos últimos anos”, remata o especialis­ta. E fazer dinheiro nos mercados não será fácil. Segundo a Ned Davis Research nenhuma classe de activos deverá registar um retorno anual superior a 5%, um fenómeno observado pela última vez em 1972.

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A CFO da Huawei, Wanzhou Meng, foi detida no Canadá por suspeitas de violação das sanções impostas pelos EUA ao Irão.

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