Jornal de Negócios

A febre dos sapatos de ténis

- JOSÉ VEGAR

Os sneakers eram apenas um produto icónico até há muito pouco tempo. Hoje são já bens culturais que recebem investimen­to e estatuto.

Continua intensa a batalha de validação de produtos icónicos contemporâ­neos como bens culturais de valor para o mercado. Esta é uma batalha a que este humilde espaço tem dedicado toda a merecida atenção, pela razão simples de que é fascinante o processo de passagem de um produto de consumo a bem cultural. Nos últimos anos, várias classes de produtos conseguira­m o estatuto de bens culturais, isto é, de património, fundamenta­dos na premissa simples de que o mercado lhes atribui valor suficiente para os consagrar como artigo de colecção e investimen­to. Estão já nesta dimensão os objectos de design, do mobiliário a alguns dos mais utilitário­s, algumas classes de peças de moda, os discos originais de vinil, e al- gumas peças tecnológic­as, como telemóveis e computador­es, para citar exemplos mais salientes.

A luta mais recente, e uma das mais interessan­tes, é a da moda mais casual ou, para usar o termo internacio­nal, “streetwear”. Neste campo, o fenómeno a que os investidor­es devem prestar toda a atenção é ao dos sneakers, isto é, aquilo a que chamamos sapatos de ténis. O movimento de atribuição de valor a um dos produtos mais comuns da contempora­neidade começou há poucos anos, gerado pela procura. De facto, os sneakers tornaram-se tão desejados e celebrados, especialme­nte por estrelas do desporto e da cultura “pop”, que, de modo informal, começaram a surgir colecciona­dores com o objectivo de possuírem e conservare­m alguns dos modelos mais populares.

Mas, hoje em dia, o mercado, sempre receptivo a novas origens de lucro, é totalmente controlado pela oferta, ou quase totalmente. Assim, as marcas, das de nicho às universais, como a Adidas e a Nike, ao lado das suas produções de massa, lançam produtos que se destinam unicamente a colecção e investimen­to. Antes do mais, criam colecções especiais, muitas vezes com colaboraçõ­es externas, como é o caso da Adidas Yeezys ou dos modelos Nike Off White. Depois, cumprindo as regras necessária­s para atribuição de valor aos bens, limitam as edições ao máximo. Por exemplo, estas edições especiais raramente passam dos 5 mil exemplares. Finalmente, tentam controlar o circuito de venda, o que tem sido mais difícil.

O resultado é que estas edições especiais chegam ao mercado com um valor entre os 400 e os 1500 euros, e facilmente escalam de valor nos pontos de venda secundário­s, isto é, onde são procurados pelos investidor­es. O fenómeno é ainda muito recente. Por um lado, existem já milhares de colecciona­dores, por outro tudo, poderá não passar de uma febre passageira. Dois nós de venda especializ­ada são o Flight Club, https://www.flightclub.com, e o StockX, https://stockx.com. Um interessan­te foco de informação e discussão é o Nike Collab Talks, acessível em https ://www .facebook.com/groups/5130719090­32547.

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