A febre dos sapatos de ténis
Os sneakers eram apenas um produto icónico até há muito pouco tempo. Hoje são já bens culturais que recebem investimento e estatuto.
Continua intensa a batalha de validação de produtos icónicos contemporâneos como bens culturais de valor para o mercado. Esta é uma batalha a que este humilde espaço tem dedicado toda a merecida atenção, pela razão simples de que é fascinante o processo de passagem de um produto de consumo a bem cultural. Nos últimos anos, várias classes de produtos conseguiram o estatuto de bens culturais, isto é, de património, fundamentados na premissa simples de que o mercado lhes atribui valor suficiente para os consagrar como artigo de colecção e investimento. Estão já nesta dimensão os objectos de design, do mobiliário a alguns dos mais utilitários, algumas classes de peças de moda, os discos originais de vinil, e al- gumas peças tecnológicas, como telemóveis e computadores, para citar exemplos mais salientes.
A luta mais recente, e uma das mais interessantes, é a da moda mais casual ou, para usar o termo internacional, “streetwear”. Neste campo, o fenómeno a que os investidores devem prestar toda a atenção é ao dos sneakers, isto é, aquilo a que chamamos sapatos de ténis. O movimento de atribuição de valor a um dos produtos mais comuns da contemporaneidade começou há poucos anos, gerado pela procura. De facto, os sneakers tornaram-se tão desejados e celebrados, especialmente por estrelas do desporto e da cultura “pop”, que, de modo informal, começaram a surgir coleccionadores com o objectivo de possuírem e conservarem alguns dos modelos mais populares.
Mas, hoje em dia, o mercado, sempre receptivo a novas origens de lucro, é totalmente controlado pela oferta, ou quase totalmente. Assim, as marcas, das de nicho às universais, como a Adidas e a Nike, ao lado das suas produções de massa, lançam produtos que se destinam unicamente a colecção e investimento. Antes do mais, criam colecções especiais, muitas vezes com colaborações externas, como é o caso da Adidas Yeezys ou dos modelos Nike Off White. Depois, cumprindo as regras necessárias para atribuição de valor aos bens, limitam as edições ao máximo. Por exemplo, estas edições especiais raramente passam dos 5 mil exemplares. Finalmente, tentam controlar o circuito de venda, o que tem sido mais difícil.
O resultado é que estas edições especiais chegam ao mercado com um valor entre os 400 e os 1500 euros, e facilmente escalam de valor nos pontos de venda secundários, isto é, onde são procurados pelos investidores. O fenómeno é ainda muito recente. Por um lado, existem já milhares de coleccionadores, por outro tudo, poderá não passar de uma febre passageira. Dois nós de venda especializada são o Flight Club, https://www.flightclub.com, e o StockX, https://stockx.com. Um interessante foco de informação e discussão é o Nike Collab Talks, acessível em https ://www .facebook.com/groups/513071909032547.