Gostas mais do teu pai ou da tua mãe?
A família na qual se nasce pode ditar o nosso futuro. E a arte, em que nos tornamos adultos, tem esse poder? No legado que os SillySeason estão a construir, há espaço para a euforia, para a mágoa, para o passado. A cada espectáculo, a família forma-se e desmembra-se logo a seguir. Valerá a pena o sacrifício?
mostram como há laços que vão além da genética, expõem-se num palco a que não estão habituados. Porque essa é a verdadeira paixão dos filhos.
Cena atrás de cena, há uma mágoa que se vai tornando mais evidente. Cátia, Ivo, Ricardo e Rodolfo parecem invejar uma certa ideia de relação construída pelos pais. Eles sabem que nunca conseguirão atingi-la: os tempos são outros, as exigências são outras, a profissão é outra. A arte do palco obriga a sacrifícios. A família, a casa, o carro ficam para outro plano. Eles revelam como vão envelhecer, discorrem a dolorosa lista de coisas que conseguiram conquistar com os rendimentos de actor, as referências trazidas dos saudosos anos 1990 onde cresceram.
Tudo se desenrola em turbilhão, no extremo da energia, na explosão dos sentidos. Sem avisos, sem meias-palavras, sem medo de provocar a reflexão. “Gostas mais do teu pai ou da tua mãe?” – perguntam-nos, sem exigir resposta. Ela chega de imediato às nossas cabeças. Depois, o assombro do politicamente correcto. E, quando damos por nós, já os SillySeason seguiram em frente. O carrossel deles não pára.
O belo pelo belo, o exagero pelo exagero, o absurdo pelo absurdo. “Testamento em Três Atos” atinge a euforia estética para depois, sim, encontrar não a paz, mas outra tempestade interior. “Ne Me Quite Pas”, canta Jacques Brel. Não nos deixem… Cátia, Ivo, Ricardo e Rodolfo avisam-nos de olhar vazio, de cabeça apoiada nos ombros uns dos outros. Eles só podem sobreviver ao teste da memória, à efemeridade da sua própria arte, se houver alguém na plateia. O que eles têm para dar, para legar, é outra forma de fazer teatro. A forma deles, a entrega deles.
Haverá maior lição de amor?
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