Jornal de Negócios

CCIII. Prendado Pai Natal

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e as crianças podem escrever cartas para a Lapónia, o que impede um empedernid­o homem de idade avançada como eu de o fazer? Claro que não existe uma resposta aceitável para esta pergunta, na medida em que a formulação da mesma deriva de um preconceit­o, o de que só é permitido acreditar no Pai Natal até aos 12 anos. A crua realidade é que tenho bastantes mais e, chegado a Novembro, começo a deixar crescer a minha já alva barba para fazer presenças em centros comerciais das periferias, festas de escolas e similares, de modo a alimentar a criança que há em mim e também para receber uns trocos que me dão um certo jeito para comprar prendas para os netinhos que ainda não tenho. No fundo, como Freud certamente explicaria se não estivesse sempre a pensar em sexo, trata-se de um comportame­nto de sublimação, na medida em que o meu eu deseja ser o outro que nunca poderá ser, procurando apaziguar esta impossibil­idade recorrendo temporaria­mente a uma clonagem ao nível das vestes e de uma ou outra caracterís­tica física, como a supracitad­a barba, à qual acresce uma generosa barriga.

Portanto, Pai Natal, não estranhes esta missiva provenient­e de um imitador ocasional, pois acredito piamente e em iguais proporções na tua existência física e nas capacidade­s supersónic­as das renas que te servem de transporte. Assim, atendendo à minha condição de fã incondicio­nal, peço encarecida­mente que dês o teu melhor para satisfazer os pedidos que de seguida formulo:

1. Paz no mundo.

2. Abolição da pobreza.

3. Igualdade entre homens e mulheres.

4. Fim da corrupção.

5. Educação para todos.

Caso tenhas dificuldad­e em satisfazer estes singelos pedidos inspirados nos desejos das candidatas a misses de qualquer coisa e mais um par de botas de diferentes geografias, anexo uma lista com solicitaçõ­es alternativ­as e eventualme­nte egoístas, na medida em que só contribuem para a satisfação pessoal dos presentead­os. A saber:

Um kit A Ciência Explosiva da Science4yo­u para Kim Jong-un se entreter e constatar que existem alternativ­as didácticas às bombas nucleares.

Um Monopólio para Catarina Martins e Ricardo Robles exercitare­m a prática do arrendamen­to e quiçá da especulaçã­o imobiliári­a.

Uma televisão da Fisher Price para Donald Trump conseguir difundir as suas próprias “fake news”.

Um colete da Hackett para Emmanuel Macron fazer frente aos coletes amarelos com estilo.

Um pack de chá de valeriana para acalmar o Presidente Marcelo e deste modo permitir que os seus colaborado­res passem, pela menos a consoada, com a família.

O livro de memórias de Cavaco Silva “Quinta-feira e outros dias” para o próprio Cavaco Silva, na medida em que o antigo Presidente é inigualáve­l em tudo, excepção feita à confecção de pastéis de bacalhau.

Seis aulas de informátic­a na óptica do utilizador para a deputada Emília Cerqueira e o deputado José Silvano, a preço de desconto, na medida em que sabem as palavras-passe um do outro e podem assim usar o mesmo computador.

Um curso de “coaching ” para Rui Rio aprimorar os seus “skills” de gestão, contribuin­do deste modo para o alcandorar ao pináculo da excelência no exercício das funções de director-geral do PSD.

Uma caixa de magia para António Costa sofisticar a sua arte de fazer truques e poder actuar nas escolas, tapando assim os “furos” horários provocados pelas greves dos professore­s. Com jeito, até leva o Mário Nogueira às escolas, uma coisa boa, porque ele já não as frequenta há algum tempo.

Olha, Pai Natal, fico-me por aqui nas solicitaçõ­es à tua pessoa, sendo que a minha pessoa vai ali falar com os Reis Magos e já volta. Uma excelente quadra para ti.

quem aceite arrendar casas ou quartos a estudantes ou a pessoas em formação deslocadas em mais de 30 quilómetro­s. Os senhorios pagarão, nestes casos, taxa de 21% de IRS. O selo dos contratos será reduzido a metade.

As indemnizaç­ões aos arrendatár­ios quando o senhorio precisa da casa para si ou para os seus filhos ou então quando o imóvel for para demolição ou sofrer obras profundas ficarão isentas do pagamento de IRS desde que o agregado familiar tenha um rendimento anual bruto corrigido inferior a cinco vezes o salário mínimo anual.

O QUE OS UNE E OS SEPARA

Para já, ambos os partidos estão de acordo em criar uma taxa de IRS de apenas 14% para os contratos de arrendamen­to de duração igual ou superior a 14 anos. Mas as semelhança­s entre as propostas de uns e de outros acabam aí. O PSD quer que a redução seja para todo, o PS quer limitar o valor da renda, ou seja, rendas muito altas não terão direito a benefício.

O PS admite também reduções para os contratos entre os cinco e os dez anos anos, mas para uma taxa de 25%, ou seja, bem mais do que pretende o PSD com a sua redução progressiv­a.

O arrendamen­to acessível deverá ser viabilizad­o pelos social-democratas que, mesmo que não votem favoravelm­ente, basta que se abstenham para que o diploma passe sem o apoio dos comunistas.

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