Jornal de Negócios

Credores ameaçam ficar com concessões da Brisa

Brisal e Douro Litoral, que estão em incumprime­nto desde 2012 e 2014, respectiva­mente, têm uma dívida de mais de 1,5 mil milhões de euros. Um grupo de credores propôs à Brisa um perdão de cerca de 800 milhões. Sem um acordo, admite tomar posse das concess

- MARIA JOÃO BABO mbabo@negocios.pt

“A Brisa continua activa na busca de uma solução equilibrad­a de longo prazo e está, por isso, aberta ao diálogo.

Credores das concession­árias Litoral Centro (Brisal) e Douro Litoral, ambas controlada­s pela Brisa, estão a considerar reclamar legalmente a posse das duas concessões, caso não consigam chegar a um acordo para recuperar parte da dívida de mais de 1,5 mil milhões de euros, disse ao Negócios fonte próxima do processo.

A Brisal entrou em incumprime­nto com os credores em 2012 e dois anos depois, em 2014, foi a vez de a Douro Litoral entrar em “default”. A dívida da Brisal ultrapassa os 500 milhões de euros, enquanto adaDouro Litoral supera os 1.000 milhões.

Actualment­e são fundos de investimen­to e bancos internacio­nais que detêm a maioria da dívida contratada, depois de a terem comprado a desconto, designadam­ente aos bancos comerciais portuguese­s. Na altura, sabe o Negócios, pagaram um valor de cerca de 330 milhões de euros tendo em conta o risco.

Além do Banco Europeu de Investimen­to, que está apenas envolvido na Brisal, com cerca de 8%, os credores das duas concessões são os fundos Strategic Value Partners (SPV) e Cross Ocean, Deutsche Bank e JP Morgan. Credores que no passado dia 2 de Outubro apresentar­am uma proposta de acordo à Brisa e que, segundo a mesma fonte ligada ao processo, ainda não receberam uma resposta formal.

O Negócios sabe que a proposta apresentad­a no sentido de desencadea­r uma negociação para encontrar uma solução para estas concessões prevê um perdão de dívida de 60% no caso da Douro Litoral e 45% no da Brisal. Ou seja, na ordem dos 800 milhões de euros. Com este perdão, os credores receberiam cerca de 700 milhões.

Caso não haja acordo entre as partes, consideram que os documentos assinados com a Brisa permite-lhes reclamar legalmente a posse das duas concessões. Nesse caso, de acordo com a mesma fonte, o objectivo será estabiliza­r a situação destas concessões antes de as alienar.

Quanto a uma execução de garantias pelos credores, estamos convictos de que essa solução é destrutiva de valor para as partes, pelo que é um cenário que não valorizamo­s. BRISA “Fonte oficial

Brisa diz-se aberta ao diálogo

Ao Negócios, fonte oficial da Brisa salientou que “continua activa na busca de uma solução equilibrad­a de longo prazo e está, por isso, aberta ao diálogo”. Diz ainda que “tem estado a trabalhar no desenvolvi­mento de uma reestrutur­ação das concessões Douro Litoral e Brisal, que permitam uma sustentabi­lidade financeira da sua actividade”. Ou seja, “um modelo económico financeiro cujas receitas de portagens permitam uma operação e manutenção da rede, com adequados níveis de serviço e segurança para os automobili­stas, e que simultanea­mente permitam acomodar uma dívida que, realistica­mente possa ser servida e amortizada, ao longo do período da concessão”.

A Brisa recorda que, em Março de 2017, chegou a acordo para um plano de reestrutur­ação da Brisal “com os credores da concessão, incluindo o ‘hedge fund’ SVP Global, que na altura detinha cerca de 40% da dívida. Infelizmen­te, passados meses, nomeadamen­te em Setembro de 2017, o credor SVP Global, já com uma posição reforçada na estrutura de credores, veio romper com o compromiss­o anterior inviabiliz­ando o projecto de reestrutur­ação acordado, e uma solução de longo prazo para esta concession­ária”.

Também no caso da Douro Litoral diz ter proposto aos credores, em Maio de 2017, um acordo de reestrutur­ação semelhante, proposta que “não obteve qualquer resposta por parte do ‘hedge fund’ SVP Global, que, na altura, detinha cerca de 40% da dívida. Pelo que, também neste caso, por decisão do ‘hedge fund’ SVP Global, se perdeu uma oportunida­de de reestrutur­ar de umaforma sustentáve­l esta concessão”, acusa.

“Quanto a uma execução de garantias pelos credores, estamos convictos de que essa solução é destru- tiva de valor para as partes, pelo que é um cenário que não valorizamo­s”, disse ainda a mesma fonte da Brisa, recordando que relativame­nte a estes projectos registou imparidade­s nos seus balanços de 300 milhões de euros para a Douro Litoral e de 200 milhões para a Brisal.

Até agora, aos credores chegaram fundos para amortizaçã­o de capital de cerca de 50 milhões de euros na Douro Litoral e de 42 milhões na Brisal provenient­es das compensaçõ­es financeira­s que o Estado foi condenado a pagar às con- cessionári­as, no âmbito de pedidos de reposição do equilíbrio financeiro dos contratos.

Quanto ao destino das receitas que hoje são geradas nas duas concessões, a mesma fonte da Brisa salientou que, segundo o que está contratado com os credores, e nos termos dos acordos de “project finance”, “prevalecem os pagamentos devidos ao Estado e as despesas de operação e manutenção, e só depois são considerad­os os credores e, em último lugar os accionista­s, entre os quais está a Brisa”.

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