Só no paquete Funchal o Montepio afundou 33 milhões
Descontados 1,5 milhões de euros para os custos de manutenção do navio, o Montepio deverá apenas recuperar pouco mais de 5% do que financiou. No total, afundou perto de 150 milhões nos barcos de Alegre.
“Dos 3,91 milhões de euros da venda do Funchal, terão que ser deduzidos 1,5 milhões para pagar os custos de manutenção do paquete. O que sobrar deverá ser para o credor hipotecário Montepio. “JOSÉ PINTO OLIVEIRA Administrador de insolvência
Rui Alegre, hoje com 49 anos, nascido no Porto e ferrenho portista, é licenciado em Ciências Empresariais. Apontado à gestão do império têxtil da família, a venda das empresas trocou-lhe as voltas profissionais. Em 1995, entrou na Amorim, casou-se com Paula, a sucessora de Américo, com quem teve dois filhos, vindo a assumir o cargo de administradorexecutivo da “holding” do grupo familiar para todas as áreas de negócio fora da cortiça.
Divorciado de Paula, tentou comprar a Amorim Imobiliária ao ex-sogro. Falhada a operação, saiu do grupo e do palco mediático. Viria a reaparecer em 2013, à frente da Por- tuscale Cruises, a cabeça de uma série de sociedades que comprou quatro navios de cruzeiros (o Funchal e os redenominados Porto, Lisboa e Azores) ao falido grupo Classic Internacional Cruises (CIC), do grego George Potamianos, que tinha morrido em Maio do ano anterior.
Todos os quatro navios estavam em mau estado e arrestados em portos estrangeiros, depois de cumprirem contratos de fretamento com operadores internacionais de cruzeiros. Com o Montepio a servir de torneira financiadora, foram investidos dezenas de milhões de euros na recuperação do quarteto naval. O primeiro a ser revitalizado, o Porto (exArion), permaneceu atracado em Lisboa, enquanto o Lisboa (ex-Princess Danae) teve as suas obras de modernização suspensas em 2014.
Já a estrela da companhia, o paquete Funchal, após um investimento de 22 milhões de euros, voltou a zarpar em Agosto de 2013. Mas logo na viagem inaugural, o paquete acabou por ficar retido em Gotemburgo, com 400 passageiros, devido a duas avarias e problemas na inspecção.
No Verão desse ano, Rui Alegre prometia que o seu quarteto naval estaria todo em alto mar no ano seguinte, apontando para uma meta de 50 milhões de euros de facturação em três anos. O Funchal, o mais emblemático dos navios portugueses de transporte de passageiros e de turismo de cruzeiro do último meio século, está desde Janeiro de 2015 amarrado no Cais da Matinha, em Lisboa, onde foi esta quarta-feira vendido, em hasta pública, à cadeia hoteleira britânica Signature Living por 3,91 milhões de euros.
Salvou-se assim da sucata, que foi o destino do Porto e do Lisboa, comprados, há quatro anos, por cerca de três milhões de euros, pelo mesmo grupo turco que subscreveu uma das quatro propostas de aqui- sição do Funchal. Já o Azores (exAthena) foi rebaptizado Astoria e navega ao serviço da operadora francesa Rivages du Monde.
Contas feitas, tendo a Portuscale assumido, com a compra da CIC, em 2013, uma dívida ao Montepio superior a 60 milhões de euros, viria a falir dois anos depois com uma dívida a este banco da ordem dos 150 milhões de euros. De acordo com uma investigação da SIC, mais de metade desse valor foi concedido sem garantias e sob o parecer negativo do Departamento de Avaliação de Crédito do Montepio.
Só na falência da sociedade detentora do Funchal, a Pearl Cruises – Transportes Marítimos Unipessoal, o Montepio afundou 95% dos 35 milhões de euros que lá meteu. É que, segundo o gestor de insolvência, do dinheiro da venda do paquete, após o pagamento dos custos de manutenção, deverão sobrar pouco mais de dois milhões.