Presentes do Pai Natal
É natural a apreensão com o próximo ano que se apresenta mais arriscado do que anos anteriores.
No momento atual, os principais fatores de risco para o próximo ano são: 1. Abrandamento económico – na segunda metade de 2018, avolumaram-se os sinais de desaceleração económica. Apesar do bom momento em termos de capacidade de geração de emprego e do comportamento do produto, a desigualdade amplia-se e os rendimentos estão estagnados. Na Europa, destaca-se a procura externa como motor de crescimento. Com maior ou menor expressão, nos últimos anos a maioria dos países europeus tem registado superavits externos, favorecendo uma posição fortemente excedentária da área do euro face ao resto do mundo. O arrefecimento do comércio internacional poderá ter um efeito relevante na Europa ou em economias mais abertas ao exterior. O risco de desaceleração económica é ainda preocupante via outro canal: o elevado endividamento das economias. Globalmente, o endividamento não baixou desde a crise financeira – na realidade aumentou. Se, por um lado, sem inflação, o processo de desalavancagem depen- de sobremaneira da expansão económica, por outro, o endividamento elevado constrange o espaço das políticas orçamentais. A redução da dívida torna-se indispensável para potenciar o crescimento ao mesmo tempo que a desaceleração económica condiciona a queda da dívida, configurando um círculo vicioso;
2. Inflação – embora o ressurgimento de alguma aceleração de subida de preços favoreça a desalavancagem, não se identificam tensões nos preços. Os salários, apesar de terem subido nos últimos meses, têm anos de estagnação para recuperar. Os preços das matérias-primas, como o petróleo, estão mais contidos pela chegada de importantes produtores na margem, os quais conduzem à estabilização do preço dentro de um intervalo relativamente estável;
3. Riscos políticos – protecionismo ou guerras comerciais ao nível das principais potências económicas podem ter um efeito menos negativo que se antecipa. Por um lado, a economia chinesa está a modificar-se mais rapidamente que o previsto, tornando-se mais centrada nos serviços e observando menores excedentes comerciais. Aqueda do superavit comercial chinês acontece numa fase em que o renmimbi ainda não beneficia da posição de reserva de valor e unidade de conta idêntica ao dólar americano e em que a dívida pública norte-americana está em máximos históricos. A subida das taxas de juro nos EUA ajuda o financiamento do Tesouro por investidores domésticos, reduzindo os fluxos de capitais para o exterior. Coincidindo com uma fase em que a China poderá ter incentivos crescentes para atrair capital. Por via destes desequilíbrios, o tom da confrontação pode conter-se, reduzindo o risco de instabilidade. Acresce que os sinais de queda de encomendas, por exemplo na Europa, pode ser um mero fenómeno temporário, dada a melhoria observada nos últimos indicadores publicados;
4. Remoção do carácter acomodatício da política monetária – nos EUA, a Reserva Federal já iniciou o encolhimento do seu balanço, vendendo ativos, e a subida da taxa diretora. Na área do euro, apenas no final do ano o BCE dará o primeiro passo no sentido de progressivo abandono de políticas não convencionais. Porém, a divulgação de indicadores económicos menos robustos nos EUA e na Europa poderá condicionar o ritmo de normalização das taxas de juro. O discurso mais recente do presidente da Reserva Federal e os rumores de que o BCE manterá a concessão de liquidez aos bancos em modo acomodatício apontam para menos riscos de inversão brusca e intensa do pendor da política.
A expansão económica vai longa, quase todas as classes de ativos apresentam valorizações históricas máximas, a folga produtiva é reduzida, a dívida permanece elevada e as taxas de juro estão a subir, numa altura em que o motor do crescimento por via externa e os baixos preços da energia podem estar comprometidos. Portanto, é natural a apreensão com o próximo ano que se apresenta mais arriscado do que anos anteriores. Contudo, por algumas boas e por outras menos boas razões, a maioria dos principais fatores de risco apresenta elementos de autocontenção, os quais podem, se não evitar, pelo menos mitigar o seu impacto, no caso de o cenário mais pessimista se concretizar. Artigo em conformidade com o novo Acordo Ortográfico