Jornal de Negócios

Os portuguese­s ficaram tristes porquê?

- PEDRO FONTES FALCÃO SELECÇÃO NATURAL

Há 20 anos, se alguém dissesse que um português iria ganhar (apenas) três Bolas de Ouro, seria gozado por todos. E que, além disso, também iria bater uma meia dúzia de recordes (na área do futebol), ainda mais gozado seria.

Ora tendo Ronaldo ganho cinco Bolas de Ouro, feito apenas atingido por Messi, e tendo batido imensos recordes, deveríamos estar felicíssim­os…

Ora, porque é que então ontem muitos ficaram tristes se Ronaldo conseguiu feitos que, infelizmen­te, muito provavelme­nte nunca nenhum português (ou mesmo nenhum terrestre) irá voltar a alcançar? Aliás, ontem Ronaldo obteve um grande feito pois, com 33 anos, ainda ficou em 2.º lugar, mesmo carregando o “peso brutal” na sua imagem de um hipotético crime (que esperemos não tenha cometido), e deixando Messi em 5.º lugar. E se o ano lhe continuar a correr bem a ele (e menos bem a Messi e a Modric), Ronaldo ainda poderá receber uma sexta Bola de Ouro aos 34 anos!

Não vale a pena dizer que foi o Real de Madrid que abusou do seu poder para conseguir que o eleito de ontem fosse um seu jogador (Modric) em vez do Ronaldo que já lá não joga. Até pode eventualme­nte ser verdade, mas nesse caso, também Messi e outros poderiam dizer que Ronaldo só ganhou os títulos individuai­s e de equipa por causa do poder do Real de Madrid. É melhor não irmos por aí…

A questão é que assumimos o que já temos como “garantido”, e desvaloriz­amos isso, focando-nos apenas no que podemos vir ainda a alcançar. Se não o alcançamos, ficamos tristes, esquecendo-nos do muito de bom que já temos. A gestão da nossa felicidade passa por aí. Valorizar o que temos de bom, mesmo que já tenha sido alcançado, e não esquecer a felicidade que isso nos trouxe e ainda nos traz. Se apenas pensamos no que não temos, não conseguimo­s ser felizes.

Isto não quer dizer que não devemos ser exigentes e ambiciosos, connosco próprios e com os outros, e com o desenvolvi­mento do nosso país em diversas áreas. Não devemos acomodar-nos em relação a isso, pois há muito para melhorar. Mas se soubermos gerir melhor a nossa felicidade, conseguimo­s ser mais produtivos, ser mais saudáveis, ajudar mais os outros, e gerar boa-disposição nos outros, o que os pode também tornar mais felizes. E assim este círculo virtuoso pode ajudar Portugal a ser melhor…

Se soubermos gerir melhor a nossa felicidade, conseguimo­s ser mais produtivos, ser mais saudáveis.

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