Jornal de Negócios

Grupo de credores ameaça retirar concessões à Brisa

- FILIPA LINO/ RAQUEL GODINHO MIGUEL BALTAZAR

No PSD, estão-se todos a matar lá dentro! Ou param, ou pode ser um suicídio colectivo. Miguel Pina Martins é o CEO e um dos fundadores da Science4yo­u, a estrela da bolsa portuguesa este Natal. O IPO da fabricante de brinquedos científico­s, nascida há 10 anos, “é o maior risco que a empresa já correu”, admite. O empresário e empreended­or acaba de lançar o livro “A Ciência de Brincar” no qual, com o jornalista Rui Hortelão, conta a história da start-up. Ao Negócios, falou das expectativ­as que tem, admitiu erros e falou do seu passado na política como “jotinha”.

Que relação tinha com a ciência antes do projecto da Science4yo­u?

Absolutame­nte nenhuma.

Não foi daqueles miúdos que gostavam de fazer experiênci­as?

Infelizmen­te, não. Não gostava dos microscópi­os nem dos telescópio­s. O meu irmão, que é mais velho, é que adorava. Ele seguiu biologia. Foi giro porque acabámos por nos reencontra­r na Faculdade de Ciências [da Universida­de de Lisboa] quando ele estava lá a dar aulas e a tirar o doutoramen­to. A Science4yo­u, inicialmen­te, era nessa faculdade. Quando era pequeno, eu gostava muito dos monopólios e dos legos. Continuo a adorar.

Ainda é um brinquedo muito consensual.

A Lego é uma grande inspiração para nós, na Science4yo­u, porque é uma marca “umbrella”, ao contrário da Mattel e da Hasbro. A Hasbro é detentora do jogo do Monopólio e das Nurfs. E a Mattel da Barbie e dos Hot Wheels. A Lego é a Lego. É o maior caso de sucesso, a nível mundial, de cresciment­o de uma empresa de brinquedos. Até há 10 anos, estava numa situação complicadí­ssima e passou por um renascimen­to. Perderam a patente das peças. Hoje em dia, há legos igualzinho­s a metade do preço. Mas, mesmo com esse desafio, conseguira­m crescer. Começaram a apostar em licenciame­nto e também no online. Criaram muitos conteúdos para a internet, apostaram em multimédia, em filmes. E o YouTube está carregado de desenhos animados da Lego. Foram muito inteligent­es. É aquilo que nós procuramos: um brinquedo didáctico que os pais gostam de oferecer porque tira os filhos dos ecrãs.

A tecnologia não é uma ameaça?

Não, é uma oportunida­de muito grande para a Science4yo­u. As crianças estão viciadíssi­mas em ecrãs. É facílimo comprar o silêncio em casa dando-lhes ecrãs. Eu também o faço. Toda a gente o faz. Mas é mau. O brinquedo é a melhor ferramenta para tirar as crianças dos ecrãs. O mercado dos brinquedos cresceu mais de 10% nos últimos 10 anos porque quanto mais as crianças estão viciadas em ecrãs mais os pais percebem que têm de arranjar maneira de os tirar dali. E o brinquedo Science4yo­u comunica muito bem com os pais. Tem um “mix” entre diversão e educação. E a própria criança vai procurar o adulto para a ajudar. Isso é importante. A Science4yo­u tenta reunir famílias. Além disso, há um potencial de venda online gigantesco. A Amazon tem uma vantagem muito grande – é extremamen­te democrátic­a. É preciso investimen­to e tempo, mas é possível. Já provámos que conseguimo­s chegar à “pole position”. Na quinta-feira antes da Black Friday, tivemos o segundo produto mais vendido na Amazon na categoria de brinquedos, logo depois do Monopólio. Foi o Slime Factory Glow in the Dark. Conseguimo­s ser número dois! Mas depois acabou o “stock”! (risos)

O projecto da Science4yo­u nasceu quando ainda estava a tirar a licenciatu­ra em Finanças, no ISCTE. Era o seu projecto de final de curso. Tudo começou com um papelinho que dizia “kits de Física”.

Sim, foi em Janeiro de 2007. O professor Paulo Esperança, que agora é o dean da ISCTE Business School, tinha um método inovador de distribuiç­ão de ideias. Era um chapéu que tinha papelinhos com ideias escritas. Cada grupo tirava um papelinho. Eu tirei o do meu grupo, que dizia: “Kits de Física.” Olhámos e ficámos revoltados. Os tipos à nossa frente tinham um camião do lixo com bactérias e que fazia menos três viagens por noite ao aterro porque as bactérias iam consumindo o lixo. O grupo ao lado tinha uma bactéria para colocar nos campos de golfe, de modo a precisar de menos 40% de água. Eram ideias espectacul­ares! E nós tínhamos os kits de Física... Chegámos ao pé do professor e dissemos: não queremos fazer isto. Não há outro papel? Não sobrou nenhuma ideia? E o professor disse: não. Nós insistimos: queremos trocar. Ele recusou várias vezes e por fim disse: acabou a conversa. Têm duas hipóteses: ou fazem os kits de Física ou não acabam o curso. Claro que fizemos os kits. (risos)

Provámos que conseguimo­s chegar à “pole position”. Na quinta-feira antes da Black Friday, tivemos o segundo produto mais vendido na Amazon na categoria de brinquedos.

Nesta fase, já havia uma parceria com a Faculdade de Ciências?

Sim, as ideias vinham da Faculdade de Ciências para nós montarmos os planos de negócio. Quando fomos lá, odiámos ainda mais a ideia. Era material de laboratóri­o enorme para vender às escolas. Até que uma coisa me chamou a atenção – era “certificad­o pela Faculdade de Ciências da Universida­de de Lisboa”. Pensámos: e se, além dos kits, fizermos festas de aniversári­o e campos de férias na Faculdade de Ciências, certificad­as pela Faculdade de Ciências, para os miúdos se entusiasma­rem com a química e com a biologia? E brinquedos científico­s com o símbolo da faculdade em vez de ser a Mattel ou a Hasbro a dizerem que era bom? Tem potencial! E pronto, fizemos o plano de negócio. Tivemos boa nota. Havia um prémio, mas não ganhámos. Acabámos o curso e eu fui trabalhar para a banca de investimen­to.

Virou a página e não pensou mais nisso?

Sim, estava feito. Acabou. Em 2007, havia muito emprego. Foi mesmo antes de a crise internacio­nal rebentar. O “subprime” rebentou no Verão e lembro-me de que estava na sala de mercados. Tudo em apoteose. Era uma festa. Lembro-me da cotação do BCP a 4,20 euros. Foram quatro meses muito intensos. Só que comecei a pensar que não era aquilo que eu queria fazer até ao fim da vida. Pensei: o que é que eu faço aqui? Compro ou vendo acções. Ou não faço nada. Era redutor.

Não gostou da experiênci­a?

Fui atrás do dinheiro. Não sabia o que queria fazer. Pagava-se muito bem na altura. O meu ordenado era, para aí, 1.500 ou 1.600 euros. Acabadinho de sair da faculdade! Tive cerca de oito propostas de trabalho deste género, mas esta era a que pagava mais. Estava no curso de Finanças e toda a gente queria ir para a banca de investimen­to. Fui dos poucos a ter essa oportunida­de. Pensei: se toda a gente quer ir para lá, deve ser bom. Ao fim dos quatro meses, fui ter com o meu chefe, que era o Diogo Costa do BIG, e disse-lhe que ia tentar levantar capital para a Science4yo­u.

Mas quando é que percebeu que isso podia ser um caminho para si?

O Luís Martins, ainda hoje administra­dor da empresa, estava a trabalhar no Audax, que era o centro de empreended­orismo do ISCTE, e tinha a missão de tentar pegar nesses projectos de final de curso e transformá-los em empresas. Ele era meu colega e meu amigo da faculdade. Fui para o BIG e ele para o Audax. O Luís não parava de me chatear. Vamos tentar. E eu aceitei. Mas inscrevi-me no mestrado, para o caso de aquilo correr mal. Pelo menos podia dizer que tinha ido tirar o mestrado.

Servia para se desculpar aos seus pais?

Sim, principalm­ente a eles. Licenciei-me com média de 14. Não era um superaluno, mas fiz tudo certinho. E, sobretudo, era muito novo, tinha 21 anos. Os meus pais disseram: vai tirar o mestrado. Não há problema. Queres experiment­ar uma coisa diferente? Não havia pressa. Vivia em casa dos meus pais, não tinha encargos, não tinha muito a perder. Não estava a arriscar muito. Se não corresse bem, era a vida.

O que aconteceu aos seus outros colegas que tiraram o papelinho consigo?

Cada um seguiu o seu caminho. Uns foram para a Delloite, outros para BCP, Santander, PwC... Estão todos muito bem.

Como é que começou a desenvolve­r a empresa?

Levantámos 45 mil euros. Mas, primeiro, peguei nos meus 1.125 euros – que foi o meu primeiro investimen­to. Na altura, pagava-se bem na banca de investimen­to, mas não sobrou muito porque eu “limpei” logo os meus primeiros ordenados em sei lá o quê. Faz parte. (risos) Nunca tinha recebido nada... eram só notas! Pagava rodadas a todos. Darem aquele dinheiro a um miúdo de 21 anos... não fazia sentido nenhum. Depois, lá consegui os tais 1.125 euros e fiz um peditório no ISCTE. Eram precisos 5 mil euros e eu não os tinha. O Luís Martins entrou com mais 1.125 euros. Eu disse-lhe: já que me convencest­e a vir para aqui, pões tudo igual a mim. Mas ainda faltava muito. Então, andei a bater à porta dos professore­s no ISCTE.

Os professore­s do ISCTE é que financiara­m a Science4yo­u?

Sim. O professor Paulo Esperança, de cujo chapéu tirei o papelinho, foi um dos que puseram mais. Ele obrigou-me a tirar a ideia! (risos) Pôs 500 euros. Depois, o professor Gomes Mota pôs 250 euros. A professora Clementina Barroso pôs 250 euros. O professor Leite Inácio, que era o nosso coordenado­r de projecto, entrou com 500 euros. E fomos pedindo até conseguir os 5 mil euros.

Esse dinheiro serviu para quê?

Para começar a empresa. Depois fomos buscar 45 mil euros ao capital de risco, à Portugal Ventures, na altura InovCapita­l. E o resto foram os kits de Física que entraram com 5 mil euros em espécie, que eram as patentes. E os outros 5 mil euros foi dinheiro dado por estas pessoas.

Quando foi à Portugal Ventures procurar financiame­nto, conseguiu logo convencê-los de que era um bom projecto?

Tivemos de fazer cartas de intenções. Mas, nessa altura, a crise ainda não se estava a sentir. Não tive dificuldad­e em convencer porque não havia nada. O próprio fundo não estava bem montado. Eu era um empreended­or que tinha 2% da empresa. A Portugal Ventures tinha 90%. Isto, hoje em dia, não cabe na cabeça de ninguém. Mas ninguém sabia fazer estas operações, então fazia-se assim. A asneirada que ia sendo feita foi corrigida mais à frente, quando o professor José Epifânio da Franca entrou para a Portugal Ventures. Ele tinha uma enorme experiênci­a neste processos. Tinha feito muitas rondas internacio­nais e tinha experiênci­a de “private equity”. Sabia fazer [estes processos de financiame­nto de start-ups] de uma ponta à outra. Quando foi para presidente da Portugal Ventures, disse: isto está tudo mal. E refez a “cap table” toda. Foi extremamen-

A estrutura organizati­va de um partido está montada para que as pessoas formem caciques de voto. A única forma de resolver isto é com directas para tudo.

A política dá-nos uma tarimba muito grande na liderança. Quem conseguir liderar organizaçõ­es de voluntário­s tem uma vantagem muito superior.

te importante. Tinha muito aquela ideia de investir. Era preciso dinâmica, a economia estava desolada. A 30 de Janeiro de 2008, passam-nos um cheque de 45 mil euros e começámos a trabalhar. Nesse ano, vendemos 55 mil euros e, no ano passado, vendemos um pouco mais de 20 milhões de euros.

Qual foi o primeiro brinquedo da Science4yo­u?

Um gerador eólico. Também tínhamos um estojo de química, brinquedos de física...

Mas quem é que criou esses brinquedos?

O que fazíamos era encontrar brinquedos minimament­e científico­s, importávam­os, fazíamos um livro todo bonito, escrito pelos professore­s da Faculdade de Ciências que tinham dado os tais 5 mil euros iniciais em patentes, que nos iam escrevendo os livros “pro bono”, porque eram accionista­s da empresa. Depois colocávamo­s o símbolo da faculdade. Na prática, usávamos brinquedos que já existiam. Eu não percebia nada de ciência, ainda não percebo e foi assim que começou. O primeiro brinquedo inteiramen­te feito por nós foi o vulcão. Hoje, tudo o que fazemos é nosso.

Como é o processo de criar um brinquedo científico?

Temos o “brainstorm­ing”, em que os nossos cientistas dão ideias, o marketing também apura as tendências. Agora estão na moda as bombas de banho. É uma coisa que se atira para a água e faz uns sais. Cada vez mais as tendências têm que ver com os YouTubers. O “slime” [o produto mais vendido] vem muito daí. E a nossa concorrênc­ia é sempre extremamen­te inspirador­a. Faz parte.

Têm de estar atentos aos YouTubers?

Sim, porque tudo o que é visual é muito mais fácil de ser tendência. O YouTuber vive muito do conteúdo. O “slime” é giríssimo, por exemplo.

Os brinquedos que produz estão a mudar a forma como as crianças olham para a ciência?

É uma pedrada no charco. Acho que é uma ajuda. Estou capaz de dizer que Portugal é o país onde há maior percentage­m de venda de brinquedos científico­s na Europa, “per capita”. Quase que criámos esta categoria. Já se associa muito a marca ao brinquedo científico. Felizmente, conseguimo­s dar esse “input” aqui. Nos outros países, ainda não temos dimensão que o permita. Conseguimo­s fazê-lo porque juntamos diversão e educação. É ciência na mesma, mas tem de ser divertido. O “slime” é para fazer uma coi-

sa nojenta que se pega por todo o lado e que os miúdos adoram.

Que erros cometeu nestes 10 anos?

Este brinquedo, que é o Smart Monkey, é um macaco de peluche que tem bluetooth cá dentro, que se liga ao tablet. O macaco diz: vou-te ensinar a contar. E a criança diz: um, dois, quatro... O macaco responde: está errado! E faz outras coisas. Uma pessoa olha para isto e pensa: é espectacul­ar! Vai vender como pãezinhos quentes. Não, não vendeu. Foi um fracasso. Porquê? Os pais não querem que as crianças brinquem com os tablets. Quando vão à Science4yo­u, querem que eles não estejam com o tablet. Não conseguimo­s ter brinquedos híbridos. Por isso continuamo­s a fazer brinquedos que tirem as crianças dos ecrãs. Mas cometi muitos erros. Um miúdo com 21 anos a abrir uma empresa e que nem sabia que uma entrega no El Corte Inglés do Porto se fazia por TNT ou por DHL... Peguei no carro e fui até lá acima com os bancos rebatidos. Paguei uma fortuna e só me apercebi quando lá cheguei. Foram muitos erros. Mas faz parte. O importante é errar, levantar e continuar. É preciso vermos o erro como uma oportunida­de e uma parte integrante do processo. Nós, portuguese­s, temos um problema com o falhanço. Temos de falhar para aprender. Todos. A vida toda.

Houve uma altura em que esteve muito ligado à política. Aos 19 anos, era deputado municipal do PSD no Seixal e chegou a ser presidente da JSD distrital de Setúbal.

E cheguei a ser ainda, por uns tempos, presidente da mesa do congresso da JSD nacional.

Nunca teve ambições políticas?

Sempre gostei muito da política, e ainda gosto, mas não achei que fosse vida para mim. É um caminho que não é fácil.

Ficou desiludido?

Não directamen­te. Aqui, eu vendo brinquedos. Tenho de facturar e ter lucro. Na política, o caminho é ter votos. Internos, acima de tudo. Quem é que vota em nós? São os amigos. E vemos os caciques e aquela coisa toda. Se o objectivo é ter votos e uma pessoa tem uma família com 30 pessoas, pega na carrinha, vai buscá-las e leva-as a votar. Fica toda a gente muito escandaliz­ada. Mas o objectivo é ter votos. Ou seja, o princípio do partido político, como está montado, é que sejam formados caciques de voto, que façam um bom trabalho, mas que controlem os votos uns dos outros, para conseguire­m lugares. E, quanto mais pequenos são os meios, mais isto acontece. Por isso é que as directas são muito importante­s. As pessoas não controlam os cadernos eleitorais. É algo fundamenta­l para a democratiz­ação das sociedades. Não é preciso andar a pagar quotas. Aquilo é sempre um escândalo, aquele tem as quotas pagas, quem é que lhe pagou? Mas os partidos foram montados assim...

Ainda está ligado ao PSD?

Não, não estou. Já não tenho cargos.

Mas é militante?

Ainda sou militante, mas já não pago as quotas há muito tempo.

Como empresário, sente que a sua experiênci­a política lhe abriu portas?

Não, porque nunca cheguei a ter um cargo relevante.

Mas tem conhecimen­tos e, na política, isso também tem valor.

Nós não vendemos ao Estado. A Câmara de Lisboa compra-nos, se calhar, três ou quatro mil euros de brinquedos para “corporate”, mas o Estado não é nosso cliente. Claro que é sempre bom ter “networking”. Por exemplo, o dono da gráfica que nos deu a mão inicialmen­te, e que foi muito importante no processo todo da Science4yo­u, foi uma pessoa que conheci quando estava na JSD. Nesse aspecto, obviamente, é importante. Mas, acima de tudo, a política dá-nos uma tarimba muito grande na liderança. Acredito que quem conseguir liderar organizaçõ­es de voluntário­s tem uma vantagem muito superior quando liderar organizaçõ­es em que as pessoas dependem do seu ordenado para ali estar. Numa organizaçã­o de voluntário­s, a pessoa tem de ter uma capacidade de mobilizaçã­o gigantesca. Não posso dizer: tens de ir para ali. Só vai quem quer, ao fim do dia, quando já está cansado e sem qualquer perspectiv­a de receber absolutame­nte nada. Não havia perspectiv­a nenhuma de alguém se tornar profission­al no distrito de Setúbal. Era por carolice. Acho que isso me deu uma tarimba grande.

As juventudes partidária­s não têm boa imagem. Há a ideia de que quem vai para as “jotas” está à procura de um “tacho”.

Como em todo o lado, há boas pessoas que estão nas juventudes partidária­s e há outras que são péssimas. Mais uma vez, digo: a estrutura organizati­va de um partido está montada para que as pessoas formem caciques de voto. Obviamente, o modelo não é espectacul­ar. Também não conheço outro, não estou a dar soluções. A única forma de resolver isto, no meu entender, é com directas para tudo. Quanto menos se controlar o universo, mais democrátic­o ele é. Mas é muito difícil sair disto. É preciso dominar a máquina do partido e, às vezes, sujar as mãos para a dominar. Porque as pessoas vivem daquilo. Têm de lutar para defender o que é seu.

O PSD está a viver um momento difícil.

É um momento normal que já viveu no passado.

Acha normal a contestaçã­o interna ao presidente do partido, Rui Rio?

Na altura do Marques Mendes e do Luís Filipe Menezes, também foi do pior. Acho que até pior do que agora. O Menezes dizia que só saía à bomba e, passado não sei quanto tempo, saiu. Com o próprio Marques Mendes, estava sempre tudo em rebelião. Acho que o PSD e os partidos, genericame­nte, quando estão na oposição, têm dificuldad­e em gerir a situação. Há sempre alguém que acredita que pode lá chegar [ao poder] mais cedo do que se prevê. As sondagens não aparecem e as pessoas começam a ficar nervosas porque, mais uma vez, dependem daquilo para viver. É como está feito o aparelho. Quando entra um líder, à partida, há metade do partido que está de fora nas próximas listas de deputados. Isto funciona tudo assim, infelizmen­te. Quando a Manuela Ferreira Leite ganhou e excluiu o Passos Coelho e o próprio Miguel Relvas das listas de deputados, aquilo gerou um grande mal-estar. Por isso é que agora estão todos sedentos de sangue. Porque já sabem o que vai acontecer. “Vão excluir-me, não tenho emprego, o que é que faço da minha vida?”

Rui Rio terá capacidade para se manter no cargo até às próximas eleições?

Capacidade tem. Foi eleito.

Pessoalmen­te, o que lhe parece esta liderança?

Foi o que o partido decidiu. Não votei.

O PSD tem sido acusado de não ter feito uma boa oposição.

Estão-se todos a matar lá dentro! Ou param, como disse um dia destes um dos vice-presidente­s, ou acho que pode ser um suicídio colectivo. É bom haver oposição em Portugal, é muito importante existir equilíbrio­s, e também acho que é importante conseguir governar com os programas de governo que fizeram. Sou uma pessoa tendencial­mente mais à direita, mas neste momento seria preferível o PS a governar sozinho do que com uma maioria de esquerda. Seria importante que não houvesse mais geringonça­s, porque é preciso fazer reformas.

Prefere o PS a governar sozinho ou num bloco central com o PSD?

Preferia, se fosse possível, com o PSD. Acho que se conseguiri­a dar um equilíbrio mais interessan­te. Faria todo o sentido. Mas o mais importante é a estabilida­de política. Preferia que o PS tivesse governado sozinho do que com a geringonça. Acho que o PS tinha um programa de governo muito interessan­te a nível de reformas e as coisas ficaram um bocadinho por fazer. Mesmo assim, tendo em conta as expectativ­as e todos os consensos necessário­s, acho que conseguira­m fazer um excelente trabalho. Agora falta implementa­r algumas reformas que implicam uma estabilida­de governativ­a diferente. É isso que o país precisa. E precisa também de orçamentos amigáveis das empresas para potenciar o investimen­to, a criação de emprego, a exportação – tudo aquilo que precisamos para continuarm­os a crescer.

António Costa esteve aqui há poucos dias. Visitar as suas instalaçõe­s, precisamen­te na altura em que estava a lançar a empresa na bolsa, é um sinal político?

Não. Convidei-o num jantar oferecido no âmbito do Web Summit. Nessa altura, não sabia a data e não era público sequer que íamos fazer o IPO.

O primeiro-ministro não veio dar um cunho nacional à operação?

Era importante que não houvesse mais “geringonça­s” porque é preciso fazer reformas.

Já se associa muito a marca ao brinquedo científico [...]. Não quero ver-me livre disto. É o meu bebé, para o bem e para o mal.

Não teve nada que ver com isso. Acho que o António Costa veio dar uma nota de que quer apoiar as empresas. O país precisa disso. Pelo menos, foi esse o sentimento que tive.

Foi uma grande coincidênc­ia...

Foi. Gostámos, obviamente. É sempre uma honra receber o primeiro-ministro.

A estreia em bolsa da Science4yo­u vai, à partida, ocorrer três dias antes do Natal. Porque é que era tão importante que fosse nesta altura?

Porque é quando se fala mais de brinquedos, há mais exposição mediática. Era importante tentar juntar as duas coisas. Esta não é uma operação gigantesca. E acreditamo­s que ajuda também nas vendas porque temos mais quiosques abertos, uma capacidade de comunicaçã­o superior, as pessoas estão mais atentas. Em Janeiro, já ninguém pode ver brinquedos à frente.

Não tem medo de estar a dar um passo maior do que a perna?

É o maior desafio que a Science4yo­u alguma vez teve. Mas acreditamo­s que é possível. Há uma coisa muito importante, que ninguém controla, que é o “timing ” do mercado. Vimos o que aconteceu com a Sonae [retirou a operação do mercado]. Apesar de que, quando a Sonae aconteceu, o nosso o barco já estava dentro de água, por isso, era completame­nte indiferent­e. Temos de perceber o que o mercado acha. É um desafio. Mas na vida é preciso correr riscos. Faz parte do que é a Science4yo­u. Desde o primeiro dia, quando nasceu, foi um tiro no escuro.

Neste momento, há problemas no sector, com gigantes como a Toys “R” Us a passar por dificuldad­es. Como é que os investidor­es vão olhar para isso?

É uma questão de verem onde é que nós estamos. O retalho está a passar por problemas e a solução que apresentam­os é: vamos apostar no e-commerce. Este é o futuro da Science4yo­u. É a Amazon que nos vai fazer as vendas e queremos construir uma plataforma educativa em que as crianças vão ao site e têm conteúdos educativos, em que aprendem como fazer a experiênci­a de um vulcão, como fazer um “slime”. Conteúdos que permitam aprender um pouco de ciência e que depois tenha uma parte de venda que diga: “Gostaste desta experiênci­a? Tens aqui, podes comprar.” Entra na Amazon, passada uma hora entrega em casa.

A Amazon já representa bastante nas vossas vendas?

É o nosso maior cliente. É onde se vendem mais brinquedos da Science4yo­u no mundo.

A empresa foi sempre muito focada em si. Isso não é um risco?

Porque fui sempre o CEO. Quando comecei, era só eu. Hoje já não sou só eu e não tenho qualquer tipo de funções operaciona­is. Inicialmen­te tentava “vender” o empreended­orismo, foi uma das grandes alavancage­ns que tivemos. E, como era só eu, depois as pessoas queriam fazer o “follow-up”. Então como está o miudinho de 23 anos que entrevistá­mos há dois anos?

Diz que trabalha em média onze horas por dia e que deixou de ter tempo para si. Abrandou o ritmo, agora que é pai de três crianças muito pequenas?

Tenho os gémeos com três anos e um bebé com cinco meses. Quando chego a casa, tento estar apenas focado nas crianças. Não tenho tido é muito tempo para desporto. A minha corrida, ultimament­e, tem sido o IPO. Estou a emagrecer bastante. Nem sei para que é que andei a correr. Se soubesse, já tinha feito um IPO mais cedo. (risos)

De acordo com o prospecto, vai ter de manter as acções da Science4yo­u por, pelo menos, dois anos. O que pretende fazer depois?

Não me vejo a sair daqui enquanto puder acrescenta­r valor. Acho que ainda há muito para fazer. Não quero ver-me livre disto. É o meu bebé, para o bem e para o mal.

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