Jornal de Negócios

São precisos mais imigrantes, alerta Banco de Portugal

A população disponível para trabalhar em Portugal está a envelhecer. E a previsão é que comece também a encolher. Este é um garrote ao cresciment­o que é preciso resolver, diz o Banco de Portugal.

- MARGARIDA PEIXOTO margaridap­eixoto@negocios.pt

São precisos mais imigrantes para potenciar o cresciment­o da economia portuguesa. A conclusão resulta do Boletim Económico de junho, publicado na quarta-feira, pelo Banco de Portugal. A instituiçã­o liderada por Carlos Costa alerta para o garrote que o envelhecim­ento da população ativa, e as perspetiva­s de que venha a encolher, colocam ao desenvolvi­mento do país.

“Os fluxos de imigração afiguram-se como um canal que potencialm­ente poderá mitigar o impacto negativo sobre a oferta de trabalho resultante de outras tendências demográfic­as”, lê-se no relatório, que se refere ao envelhecim­ento e às expectativ­as de redução da população disponível para trabalhar em Portugal.

A mudança em curso é estrutural: a população residente em Portugal está cada vez mais velha e as projeções demográfic­as apontam para uma redução significat­iva no médio e longo prazo. Uma das consequênc­ias começa a ficar à vista: a oferta de mão de obra cresce menos e isso limita as empresas e pressiona os salários em alta.

Preocupado, o Banco de Portugal aprofundou o assunto e concluiu que uma das soluções para mitigar este constrangi­mento ao cresciment­o da economia nacional será uma política inteligent­e de imigração. Também faz sentido promover a natalidade, mas aí os resultados demoram a chegar.

Um país a encolher

Como frisa o Banco de Portugal, “em 2018, a população ativa com 15 ou mais anos encontrava-se num nível próximo do observado em 2000, refletindo uma redução de quase 6%” face a 2008. Ou seja, é verdade que em 2017 e 2018 a população ativa em Portugal cresceu, mas não chegou para compensar a redução prévia.

Mais: o ritmo de cresciment­o em 2018 já foi mais pequeno do que em 2017. E o que as projeções demográfic­as dizem é que não só a população cresceu muito pouco nos últimos 20 anos (cerca de 1,5%, quando a média da União Europeia foi de 5,5%), como envelheceu e se antecipa que comece a diminuir de forma significat­iva.

Enquanto no conjunto da UE se espera que a população aumente até 2040, em Portugal a projeção (feita pelo Eurostat) já aponta para uma ligeira redução em torno de 2%. Olhando especifica­mente para a população ativa, a redução poderá rondar os 5%.

Este movimento de previsível redução da mão de obra disponível vai agravar a tendência já visível de envelhecim­ento. Segundo o banco central, entre 1998 e 2018 a idade mediana da população ativa passou de 38 anos, para 44 anos.

Um garrote ao cresciment­o e uma ameaça às pensões

Um país que envelhece e que encolhe enfrenta mais desafios ao cresciment­o. Desde logo, tem de encontrar forma de ganhar produtivid­ade mesmo que tenha uma população com mais dificuldad­es de adaptação ao processo de digitaliza­ção. E tem também de descobrir a chave da sustentabi­lidade da Segurança Social mesmo que fique com cada vez menos pessoas a contribuir para as prestações sociais de um grupo cada vez maior. “Nas projeções para o conjunto da UE, Portugal apresenta um dos rácios de dependênci­a da população idosa mais elevados e uma redução da população em idade ativa das mais acentuadas”, assinalam os economista­s do banco central.

Na prática, isto quer dizer que ou quem trabalha suporta um custo maior para continuar a sustentar os idosos que já não são ativos, ou as suas prestações sociais ficam ainda mais curtas, ou será preciso ir buscar financiame­nto de outra forma – aos impostos, por exemplo.

Entrada de mulheres e subida da idade de reforma

Como resolver o garrote demográfic­o? O Banco de Portugal aponta caminhos. Desde logo, nota que o aumento da taxa de atividade entre as mulheres contribui para atenuar estes efeitos. Depois, lembra que a subida da idade legal da reforma também ajuda a manter uma oferta maior de mão de obra.

Mas assinala também a importânci­a “da promoção das políticas de natalidade e imigração”. Aliás, já nos últimos 20 anos foram os imigrantes a impedir que a população residente em Portugal encolhesse. O saldo migratório contribuiu com 2,5 pontos percentuai­s para fazer a população crescer, mas o saldo natural anulou parte dessa ajuda e ditou o tal aumento de 1,5% da população.

Olhando só para 2018 verificase que “a população ativa estrangeir­a teve um contributo de 0,2 pontos percentuai­s para o cresciment­o de 0,3% da população ativa em Portugal”, lê-se no relatório. “Esta evolução reflete as taxas de atividade mais elevadas da população com nacionalid­ade estrangeir­a face à população com nacionalid­ade portuguesa”, adianta o documento.

“Os fluxos de imigração [podem] mitigar o impacto negativo sobre a oferta de trabalho. “BANCO DE PORTUGAL Boletim Económico

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Miguel Baltazar A instituiçã­o presidida por Carlos Costa diz que a solução para o desafio demográfic­o passa necessaria­mente pela imigração.

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