Vale a pena investir nas obrigações da SIC para o retalho?
A estação de Carnaxide vai pagar uma taxa de 4,5% na sua emissão de títulos a três anos. Uma remuneração atrativa, face ao ambiente de rendibilidades deprimidas, mas que está em linha com os riscos inerentes ao elevado nível de endividamento do grupo.
Num momento em que ainda decorre a oferta pública de subscrição de obrigações da TAP para o retalho, há uma nova empresa a procurar financiamento junto dos pequenos investidores. A SIC, totalmente detida pela Impresa, pre
tende emitir 30 milhões de euros em obrigações a três anos, com uma taxa bruta de 4,5%. Os analistas consideram a remuneração atrativa, mas alertam para os riscos.
Arranca na segunda-feira, 17 de junho, a emissão de obrigações da SIC. A operação de colocação das Obrigações SIC 2019-2022 prolonga-se até ao dia 4 de julho, com um investimento mínimo de 1.500 euros. “Face ao atual momento de mercado, no qual a Alemanha se financia a taxas de juros negativas até 2034 e a República Portuguesa paga -0,2% aos seus credores a empréstimos a três anos, é tentador investir numa entidade que facilmente reconhecemos, e que nos paga um prémio de risco considerável”, realça Luís Mateus. O responsável pelo investimento em dívida da Golden WM nota, porém, que, “numa lógica de risco/retorno, estamos perante uma operação de risco elevado e a pagar em conformidade”.
Pedro Lino, administrador da DifBroker, concorda que “este tipo de operações é bastante atrativa para os investidores uma vez que os bancos não têm soluções de remuneração”. Para Nuno Caetano, da Infinox, “qualquer produto que pague uma taxa superior a 2%/3% acaba sempre por ser atrativo ao investidor de retalho, mas deixamos a ressalva que é sempre importante e necessário medir o risco de cada operação”.
Riscos no grupo
A emissão de dívida para o retalho da SIC surge dois anos depois de a Impresa, grupo que detém a estação de Carnaxide, ter falhado a realização de um empréstimo obrigacionista de 35 milhões de euros,
PATRÍCIA ABREU
que estava a tentar colocar junto de investidores institucionais. Dois anos depois, o emitente é a SIC, mas os riscos no grupo não desapareceram. “O Grupo Impresa está a utilizar a sua subsidiária SIC para colocar esta emissão (menos endividada e com maior notoriedade), mantendo-se os riscos operacionais no grupo”, alerta Luís Mateus.
Para o especialista, “uma deterioração das condições do mercado português e a dificuldade em continuar o rumo de recuperação atual da empresa podem colocar problemas a estes obrigacionistas no futuro”. “Quer a TAP, quer a ‘holding’ que controla a SIC estão bastante endividadas e o risco é mais elevado, e, por isso, é que pagam uma taxa superior”, lembra Pedro Lino.
Nuno Caetano, da Infinox, realça que os principais riscos da operação “é que a SIC e a Impresa possam não cumprir os rácios financeiros que lhes são exigidos até 2022, data da maturidade da operação. O rácio de dívida financeira líquida da SIC não poderá ultrapassar 4,75 vezes o EBITDA ao longo dos três anos da operação, sendo que fechou 2018 com uma dívida de 2,4 vezes o seu EBITDA recorrente”.