Jornal de Negócios

O monopólio dos banqueiros de papel

-

Acomissão parlamenta­r de inquérito à Caixa Geral de Depósitos tem o mérito de mostrar aos cidadãos a história dos anos loucos que este país viveu antes do resgate da troika. Os anos em que um pequeno grupo de chicos-espertos, com

permissão política e a mais completa omissão por parte das autoridade­s de supervisão, conseguiu créditos de centenas de milhões para brincar aos bancos.

Dos cinco grandes bancos no mercado português, três estiveram envolvidos numa série de operações lesivas da economia e que os contribuin­tes portuguese­s pagam agora.

A Caixa Geral Depósitos financiou um verdadeiro assalto ao poder do BCP. Ricardo Salgado também aproveitou para debilitar o rival . Depois da década de 90, em que Jardim Gonçalves, do BCP, era o banqueiro-alfa, o patrão do Grupo Espírito Santo tornou-se o verdadeiro dono disto tudo a partir da mudança do milénio à custa de uma bem urdida ligação com o poder político. A sintonia entre Salgado e os inquilinos de São Bento não foi só com Sócrates. Se há atividade em que Portugal é competitiv­o à escala europeia e mundial é no futebol. Temos alguns dos melhores jogadores do mundo. Cristiano Ronaldo e Bernardo Silva têm lugar em qualquer equipa. Os treinadore­s portuguese­s continuam com bom cartel e a vitória na estreia da Liga das Nações consolida o prestígio português no futebol. Tratando-se de um desporto tão mediático, esta vitória acaba por ser um bom cartão de visita para o país e para a economia nacional. É pelo menos boa publicidad­e. Os melhores anos do ciclo desta retoma foram os últimos dois e a curva do PIB mostra sinais de travagem. O Banco de Portugal manteve, esta semana, a sua previsão de cresciment­o económico para 2019, em 1,7%, mas desceu em uma décima a estimativa para 2020, antecipand­o uma recuperaçã­o do investimen­to. Para 2020 a previsão aponta para 1,6% e em 2021 assistirem­os a uma estagnação também nos 1,6%. É um cresciment­o a velocidade de caracol, num país endividado e cada vez mais envelhecid­o. Já existia antes e só acabou quando Passos Coelho cortou a hipótese de salvar o império Espírito Santo e deixou cair o grupo da grande dinastia financeira portuguesa.

A Caixa, BCP e Novo Banco somam imparidade­s milionária­s de especulado­res que brincaram aos banqueiros com o dinheiro dos outros. O poder político favoreceu esse assalto, mas o Banco de Portugal permitiu-o, autorizand­o empréstimo­s como os de Berardo, sem as devidas garantias, e autorizou que estes investidor­es se tornassem acionistas de referência com poder na liderança dos bancos, sem ter meios para garantir eventuais aumentos de capital. A guerra do BCP no período pós-Jardim Gonçalves transformo­u-se numa espécie de jogo de casino com convite para pseudomili­onários, com crédito sem garantias. Enquanto isso eram atraídos milhares de pequenos acionistas que ao contrário dos banqueiros de papel aplicaram as suas poupanças e perderam o dinheiro. Enquanto a economia real estagnava, a elite corrupta e rentista jogava ao monopólio da banca como a aprovação tácita do Governo e Banco de Portugal. Neste caso o Governo não foi a solução, esteve na raiz do problema.

Mas reduzir esta orgia com o nosso dinheiro ao governo de Sócrates é ver apenas a parte final do filme. Até porque enquanto decorria o assalto ao BCP, num banco mais pequeno, BPN, aconteciam inacreditá­veis casos de polícia. E as figuras marcantes são rostos do cavaquismo, desde Dias Loureiro a Oliveira e Costa, passando por Duarte Lima, que é a única figura relevante a cumprir pena na cadeia.

VITÓRIA NA LIGA DAS NAÇÕES

PIB À VELOCIDADE DO CARACOL

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal